Esporte

Pugilistas locais estão entre melhores do ranking brasileiro

LEO DAUBERMANN

Editoria de Cidades

O boxe de Roraima já se consolidou como celeiro de talentos na Região Norte e o professor Ronaldo Silva, 45, da academia América Champion, em Boa Vista, é um dos grandes responsáveis pelo trabalho de base realizado nos ringues roraimenses. Os frutos já estão sendo colhidos há algum tempo.

“Iniciei o meu projeto há 14 anos. Quando cheguei ao Estado, não tinha boxe competitivo, não tinha medalha nacional. Agora, já temos vários atletas ranqueados e muitas medalhas conquistadas, graças ao trabalho de planejamento nas categorias de base investido no potencial do atleta desde criança”, disse o treinador.

Um destes expoentes é a boxeadora Andressa Silva, 21, do Projeto Atleta Olímpico do bairro Caranã, mantido pelo professor Ronaldo Silva, pai da atleta. Ela é detentora de quatro medalhas nacionais na carreira e atualmente figura na segunda colocação do ranking brasileiro na categoria elite.

“O currículo da Andressa permitiu que ela fosse chamada para testes para entrar na Seleção de Alto Rendimento do Exército, com sede no Rio de Janeiro. Hoje, as Forças Armadas têm o maior número de atletas com credencial para as Olimpíadas. Os testes já foram realizados e ela está aguardando o resultado”, falou o treinador.

Outros três destaques revelados pela América Champion, todos com 18 anos, retornaram do Campeonato Brasileiro de Boxe, realizado em dezembro do ano passado, com três medalhas de bronze. “Nós fomos para o campeonato em Fortaleza, levei cinco atletas e trouxemos um dos melhores resultados que o boxe roraimense já teve, foram três medalhas nacionais”, destacou.

Os medalhistas de bronze foram o peso mosca Ronald Silva, categoria até 52 kg; o peso pena Francisco Maicon, categoria 57 kg; e o super médio Alexandre Costa, categoria 75 kg. O pugilista Ronald Silva foi campeão brasileiro em 2016 e, de acordo com o treinador, no ano seguinte não foi possível viajar para competir por falta de patrocínio.

“Era o campeão brasileiro, na época, e a gente não conseguiu passagem para ele, para você ver a dificuldade que é levar os atletas de alto rendimento para competirem fora de Roraima. É muito difícil conseguir patrocínio, e o Bolsa Atleta a que ele tem direito atrasou por um ano e seis meses. Então, tudo foi contra o moleque. Ele era um dos principais nomes para a Olimpíada de Tóquio e como não foi campeão brasileiro em 2017 e não conseguiu sagrar-se campeão em 2018, o sonho foi adiado”, lamenta Silva.

VENEZUELANOS – Dos cerca de 150 pugilistas do Projeto Atleta Olímpico do bairro Caranã, mantido gratuitamente pelo professor Ronaldo Silva, praticamente a metade é de imigrantes venezuelanos. “Atletas de 10 a 17 anos não pagam para treinar e temos feito grandes descobertas, principalmente entre os atletas da Venezuela, país com grande tradição na modalidade”, disse.

O jovem migrante Jose Alberto Astudillo Gaspar, 14, natural de Maturín, estado de Monágas, Venezuela, é um desses atletas. Ele conta que está no Brasil há pouco mais de seis meses, para onde veio com os pais e um irmão em busca de melhores condições de vida. Ele pretende ser um boxeador profissional, assim como foi o avô, que ficou na Venezuela.

“Na Venezuela, tem mais academias que aqui, o boxe é bem competitivo, tem mais atletas. Meu sonho é voltar como profissional para dar orgulho para meu avô, que lutou por muitos anos”, disse.

A professora Elisete Marques, mulher de Ronaldo Silva e mãe de Ronald e de Andressa, revela que os pugilistas venezuelanos são dedicados e aproveitam a oportunidade recebida. “Tem atleta aqui que passa o dia todo na rua, debaixo de sol, juntando latinhas, capinando quintal, mas todo dia vem treinar, e treina sem esboçar nenhuma reclamação, como se tivesse almoçado bem, jantado bem e dormido na melhor cama”, falou.

A professora destaca também que, apesar da condição para a gratuidade o atleta dever ser menor de idade, algumas exceções são feitas. “Esse atleta que você acabou de ver saindo daqui tem 19 anos, mas vou abrir uma exceção para ele, não só pelo fato de ser venezuelano, mas porque está demonstrando que realmente quer fazer parte do projeto. E, assim como ele, temos outros exemplos de regras quebradas por aqui”, completou a professora.