PASSADO

Corretor preso com R$ 700 mil foi jogador, dirigente e candidato em eleições

Jackson Cicareli teve carreira curta no futebol e tentou disputar os cargos de vereador e deputado federal por partidos de direita

O corretor de imóveis e assessor parlamentar Jackson Cicareli quando atuava pelo Rio Negro, em 2015
O corretor de imóveis e assessor parlamentar Jackson Cicareli quando atuava pelo Rio Negro, em 2015 (Foto: Lucas Luckezie/FolhaBV)

O corretor de imóveis Jackson Renei Aquino de Souza, preso com R$ 700 mil por supostos crimes de lavagem de dinheiro e ligação com o maior ataque hacker a instituições financeiras do Brasil, tem um histórico ligado ao futebol e à política.

Jackson Cicarelli, de 38 anos, teve uma carreira curta como jogador, com passagens por cinco clubes de Roraima: Atlético Roraima, River, Náutico, Progresso e Rio Negro, onde chegou em 2010.

Foi no Galo Carijó que ele passou a acumular, com apenas 22 anos, a função de atleta com a de diretor de futebol. Durante a passagem, o clube sempre terminou nas últimas colocações do Campeonato Roraimense, sendo a melhor um quinto lugar em 2012, 2014 e 2015.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE



Na edição de dez anos atrás, ele marcou dois gols e também se notabilizou por denunciar o ex-técnico do clube, Sérgio Soares, de suposto estelionato em nome do Rio Negro.

Cicareli esteve envolvido com a equipe até, pelo menos, 2018, quando, desanimado com a modalidade, decidiu se dedicar a projetos pessoais. Um deles foi a política: inclusive, passou a divulgar vídeos com críticas a políticos e à corrupção.

Jackson Renei foi preso no dia 22 de julho (Foto: Arquivo pessoal/Facebook)

Naquele mesmo ano, tentou uma vaga para deputado federal pelo DEM (atual União Brasil), mas terminou como suplente com 434 votos. O lema dele era: “Roraima tem jeito. O que não tem jeito são os corruptos”. Dois anos antes, ele ficara como suplente de vereador de Boa Vista pelo PR (hoje PL) com 392 votos.

Em 2022, começou a trabalhar como assessor da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). Após a repercussão da prisão do suspeito, a Casa decidiu exonerar o funcionário.

Preso por suposta lavagem de dinheiro

R$ 700 mil em espécie apreendidos pela Polícia Federal em ação contra lavagem de dinheiro (Foto: PF)

A Polícia Federal (PF) prendeu em flagrante, na terça-feira (22), Jackson Renei Aquino de Souza com R$ 700 mil em espécie em uma agência do Banco do Brasil, no Centro de Boa Vista. A corporação apontou que ele teria recebido ao menos R$ 2,45 milhões de empresas investigadas por elo com o ataque hacker que desviou aproximadamente R$ 1 bilhão de instituições financeiras, em junho.

A prisão ocorreu após a PF confirmar a suspeita de que o corretor de imóveis faria um saque de R$ 1 milhão milionário no centro de Boa Vista. Durante a abordagem, os policiais apreenderam os R$ 700 mil em sacolas.

As investigações mostram que, só no dia 12 de julho, Jackson recebeu dois repasses suspeitos via PIX: um de R$ 1,85 milhão e outro de R$ 600 mil.

Apesar das cifras milionárias, Jackson declarou à PF que recebe cerca de R$ 4 mil como assessor parlamentar e, como corretor de imóveis, lucra uma média de R$ 10 mil por mês. Ele não soube informar o valor declarado à Receita Federal.

A PF descobriu que Jackson negociava a compra de uma fazenda em Cantá, avaliada inicialmente em R$ 3 milhões. O negócio foi fechado por R$ 2,4 milhões — dos quais R$ 1,5 milhão seriam pagos como entrada.

O proprietário da fazenda confirmou à PF que recebeu R$ 1,3 milhão e mais R$ 200 mil em valores fracionados, incluindo parte em espécie. Ele relatou ainda que a propriedade já está ocupada por funcionários de Jackson há 12 dias.

Ao depor, Jackson disse que apenas intermediava a compra para um garimpeiro venezuelano e o teria contratado junto com outro estrangeiro do mesmo País.

Jackson relatou ter feito outra transação semelhante no início do ano, também em nome do garimpeiro, para a compra de uma casa de R$ 3 milhões na zona central de Boa Vista. A versão, no entanto, não convenceu os investigadores.

A PF resumiu que, entre os elementos que sustentam a acusação, estão:

  • As transações financeiras vultosas incompatíveis com a renda do então servidor;
  • A ausência de justificativa lícita para os repasses;
  • O saque em espécie de R$ 700 mil;
  • O uso da conta de Jackson para transações suspeitas com terceiros; e
  • A tentativa de dificultar o rastreio do dinheiro por meio de saques diretos.

Assim, a corporação pediu para Justiça afastar Jackson das funções públicas, suspendê-lo das atividades de corretor de imóveis e o bloqueio judicial dos valores transferidos à conta do vendedor da fazenda.

Também foi pedida a quebra do sigilo dos celulares apreendidos, para apurar o grau de envolvimento de Jackson com outras pessoas possivelmente integrantes do esquema.

A Justiça decidiu rejeitar os pedidos da defesa, mas aceitar o parecer do Ministério Público (MPRR) para converter a prisão do suspeito em preventiva, em audiência de custódia.

Para a Justiça, a prisão foi legal, há indícios suficientes do envolvimento dele com o crime e que a decisão se ampara em possível “risco concreto de reiteração delitiva ou de prosseguimento das atividades de lavagem de dinheiro”.

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.