O corretor de imóveis Jackson Renei Aquino de Souza, preso com R$ 700 mil por supostos crimes de lavagem de dinheiro e ligação com o maior ataque hacker a instituições financeiras do Brasil, tem um histórico ligado ao futebol e à política.
Jackson Cicarelli, de 38 anos, teve uma carreira curta como jogador, com passagens por cinco clubes de Roraima: Atlético Roraima, River, Náutico, Progresso e Rio Negro, onde chegou em 2010.
Foi no Galo Carijó que ele passou a acumular, com apenas 22 anos, a função de atleta com a de diretor de futebol. Durante a passagem, o clube sempre terminou nas últimas colocações do Campeonato Roraimense, sendo a melhor um quinto lugar em 2012, 2014 e 2015.
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Na edição de dez anos atrás, ele marcou dois gols e também se notabilizou por denunciar o ex-técnico do clube, Sérgio Soares, de suposto estelionato em nome do Rio Negro.
Cicareli esteve envolvido com a equipe até, pelo menos, 2018, quando, desanimado com a modalidade, decidiu se dedicar a projetos pessoais. Um deles foi a política: inclusive, passou a divulgar vídeos com críticas a políticos e à corrupção.
Naquele mesmo ano, tentou uma vaga para deputado federal pelo DEM (atual União Brasil), mas terminou como suplente com 434 votos. O lema dele era: “Roraima tem jeito. O que não tem jeito são os corruptos”. Dois anos antes, ele ficara como suplente de vereador de Boa Vista pelo PR (hoje PL) com 392 votos.
Em 2022, começou a trabalhar como assessor da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). Após a repercussão da prisão do suspeito, a Casa decidiu exonerar o funcionário.
Preso por suposta lavagem de dinheiro
A Polícia Federal (PF) prendeu em flagrante, na terça-feira (22), Jackson Renei Aquino de Souza com R$ 700 mil em espécie em uma agência do Banco do Brasil, no Centro de Boa Vista. A corporação apontou que ele teria recebido ao menos R$ 2,45 milhões de empresas investigadas por elo com o ataque hacker que desviou aproximadamente R$ 1 bilhão de instituições financeiras, em junho.
A prisão ocorreu após a PF confirmar a suspeita de que o corretor de imóveis faria um saque de R$ 1 milhão milionário no centro de Boa Vista. Durante a abordagem, os policiais apreenderam os R$ 700 mil em sacolas.
As investigações mostram que, só no dia 12 de julho, Jackson recebeu dois repasses suspeitos via PIX: um de R$ 1,85 milhão e outro de R$ 600 mil.
Apesar das cifras milionárias, Jackson declarou à PF que recebe cerca de R$ 4 mil como assessor parlamentar e, como corretor de imóveis, lucra uma média de R$ 10 mil por mês. Ele não soube informar o valor declarado à Receita Federal.
A PF descobriu que Jackson negociava a compra de uma fazenda em Cantá, avaliada inicialmente em R$ 3 milhões. O negócio foi fechado por R$ 2,4 milhões — dos quais R$ 1,5 milhão seriam pagos como entrada.
O proprietário da fazenda confirmou à PF que recebeu R$ 1,3 milhão e mais R$ 200 mil em valores fracionados, incluindo parte em espécie. Ele relatou ainda que a propriedade já está ocupada por funcionários de Jackson há 12 dias.
Ao depor, Jackson disse que apenas intermediava a compra para um garimpeiro venezuelano e o teria contratado junto com outro estrangeiro do mesmo País.
Jackson relatou ter feito outra transação semelhante no início do ano, também em nome do garimpeiro, para a compra de uma casa de R$ 3 milhões na zona central de Boa Vista. A versão, no entanto, não convenceu os investigadores.
A PF resumiu que, entre os elementos que sustentam a acusação, estão:
- As transações financeiras vultosas incompatíveis com a renda do então servidor;
- A ausência de justificativa lícita para os repasses;
- O saque em espécie de R$ 700 mil;
- O uso da conta de Jackson para transações suspeitas com terceiros; e
- A tentativa de dificultar o rastreio do dinheiro por meio de saques diretos.
Assim, a corporação pediu para Justiça afastar Jackson das funções públicas, suspendê-lo das atividades de corretor de imóveis e o bloqueio judicial dos valores transferidos à conta do vendedor da fazenda.
Também foi pedida a quebra do sigilo dos celulares apreendidos, para apurar o grau de envolvimento de Jackson com outras pessoas possivelmente integrantes do esquema.
A Justiça decidiu rejeitar os pedidos da defesa, mas aceitar o parecer do Ministério Público (MPRR) para converter a prisão do suspeito em preventiva, em audiência de custódia.
Para a Justiça, a prisão foi legal, há indícios suficientes do envolvimento dele com o crime e que a decisão se ampara em possível “risco concreto de reiteração delitiva ou de prosseguimento das atividades de lavagem de dinheiro”.