Cidadania pode questionar na Justiça a coligação com MDB de Jucá e Teresa

Lenir Rodrigues ressaltou que o interesse de seu partido não era coligar com as principais chapas, mas conquistar maior tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, e que cada candidato teria liberdade para escolher em quem votar

A aprovação dividida da Federação PSDB-Cidadania à recomendação nacional de coligar, em Roraima, com o MDB dos candidatos ao Senado e Governo, Romero Jucá e Teresa Surita, pode ser questionada na Justiça. É o que disse a presidente estadual do Cidadania, Lenir Rodrigues.

Em entrevista à Folha, a deputada estadual e candidata a reeleição disse que a recomendação em apoiar a chapa emedebista “não é uma ordem” e fere a lei eleitoral. Ela ressaltou que o interesse de seu partido não era coligar com as principais chapas, mas conquistar maior tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

Durante a votação que confirmou apoio da federação a Jucá e Teresa, correligionários do Cidadania vaiaram quem se posicionou favorável à recomendação. Internamente, o partido decidiu que cada candidato teria liberdade de escolher em quem votaria para o Governo e o Senado.


Convenção da Federação PSDB-Cidadania realizada nesta quarta-feira (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

“Perdemos na votação, porque na composição da federação, o Cidadania tem direito a três membros e o PSDB tem oito. E como o PSDB quis e votou, nós não queríamos nem coligar nem com um lado nem com outro, nós queríamos o tempo de rádio e televisão para os nossos candidatos, e depois vamos discutir isso aí judicialmente. Apesar de ter perdido a votação, a gente entende que quem deveria definir seria os convencionais eleitos no congresso do Cidadania em 2021, e não a comissão geral eleita para dirigir os trabalhos dos dois partidos”, disse.

“Mas nós somos pelo processo democrático, nós aceitamos a votação, mas eu acredito que nós não estivemos na convenção do MDB, então se nós não coligamos lá na convenção deles, como é que eles vão coligar com a gente, se não coligaram conosco antes?”, completou.

Além disso, Lenir Rodrigues argumentou que, em Roraima, o Cidadania tem dois deputados estaduais e cinco vereadores, enquanto o PSDB tem apenas um político com mandato: a deputada federal Shéridan Ramos, presidente da federação no Estado.

“Os convencionais e os militantes, inclusive alguns do PSDB, não os que estavam aí na convenção, mas nenhum candidato queria essa votação, a não ser uma pessoa que se manifestou, que foi o Júnior Macuxi [candidato a deputado estadual], que se manifestou que votaria a favor, que é do Cidadania. Os demais, nenhum, nem do PSDB, nem do Cidadania, queriam essa coligação”, reforçou.

A presidente do Cidadania disse que o ofício que recomendou a coligação com o MDB foi endereçado apenas a Shéridan. “A presidente da federação não teve uma reunião prévia conosco para fazer essa comunicação, hoje que ela veio dirigir os trabalhos, mas a gente respeita, e pessoalmente nós temos o maior carinho pela deputada federal Shéridan, pelo presidente do PSDB [Shérisson] Bruno [Oliveira]”, disse.

Procurada, Shéridan Ramos não comentou as declarações de Lenir até a publicação da reportagem.


A deputada federal e presidente da federação, Shéridan Ramos, durante a convenção (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

A recomendação nacional se insere no contexto em que a federação confirmou o apoio à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) para presidente da República. Mas nos bastidores, fontes ligadas aos partidos disseram à Folha que o ofício assinado pelo presidente nacional da federação, Bruno Araújo, foi enviado após um pedido de Romero Jucá (MDB). O ex-senador, procurado pela reportagem, não comentou o assunto.

No alto escalão do governo de Antonio Denarium (Progressistas), candidato a reeleição, Shéridan tem dois secretários estaduais: o irmão Shérisson Oliveira, da Cultura, e Edison Prola, da Segurança Pública. Ela é casada com o empresário Duda Ramos, candidato a deputado federal pela chapa do MDB, de Jucá e Teresa.

Na convenção desta quarta, Shéridan chegou a dizer que em seu mandato é aliada de Denarium, mas que não poderia contrariar a recomendação nacional ao coligar com o MDB. A deputada alegou, entre as razões, as regras da fidelidade partidária.