Traições eleitorais agitam reta final da campanha em Roraima

No final de semana passado, aliados da governadora Suely Campos, candidata à reeleição, desfilaram em carro adesivado de coligação rival

A uma semana do pleito deste ano, o balanço não é animador. Houve quem pedisse voto a político de outras chapas; quem referendasse praticamente todos os candidatos ao Governo do Estado; e legenda que tem candidato de um lado pedindo voto para outro.

No final de semana passado, uma carreata com vários candidatos pelas ruas de Caroebe e Entre Rios provocou nova agitação na reta final de uma campanha eleitoral, marcada pelas inusitadas alianças e candidatos de uma coligação pedindo votos para candidatos de outras coligações.

Os candidatos Luciano Castro (PR) e Jânio Xingu (PSB), que disputam vaga para Senado e para o Parlamento estadual, respectivamente, participaram de uma carreata em um veículo com adesivo de candidatos de coligação rival. Apesar de o registro agitar os bastidores políticos, ambos negam ter se afastado da candidatura de Suely Campos ou terem “pulado a cerca” da coligação.

O deputado estadual Jânio Xingu explicou que o veículo adesivado pertence ao prefeito de Caroebe, que é seu aliado, mas que vota na majoritária para os candidatos de outra coligação.

“Eu não vou subir no carro dele por ter adesivo A ou B? Não existe isso. Nós estamos numa carreata, a carreata não tinha a presença dos opositores e nesse final de eleição vale tudo, as pessoas falam tudo para confundir o eleitor e para ganhar vantagem ou desvantagem”, avaliou.

O parlamentar que concorre à reeleição afirmou que está trabalhando de forma intensa para se reeleger e negou que tenha mudado de coligação ou esteja rompido com a majoritária.

“Na reta final, não pode abrir mão dos aliados, independente de quem ele vota. Não vou abrir mão de um prefeito pelo fato de ele não querer votar na governadora da minha coligação. Minha eleição é estadual e o prefeito é meu amigo fiel. Todo mundo em Caroebe apoia o Xingu e eu preciso ganhar minha eleição. Não tenho culpa de a governadora não ter habilidade de acarinhar os apoios que necessitava. Eu até lutei por isso. Essa eleição está na base do cada um por si e é cada um voltado para sua campanha”, concluiu.

Bem mais diplomático, o candidato ao Senado Luciano Castro afirmou que estava sem carro para participar da carreata e que aceitou a carona do prefeito.

“O prefeito me ofereceu o carro dele e eu subi juntamente com o deputado Xingu. Tinha adesivo do concorrente ao Governo por eles serem do mesmo partido, só por isso. Não ouve nenhuma menção minha ao candidato majoritário opositor, então não qualquer alusão nesse sentido. É um equívoco, pois o fato de o carro estar adesivado não quer dizer nada. Todos sabem com quem está nosso apoio”, frisou.

Outro caso emblemático foi o pedido de voto do presidente da Assembleia Legislativa Jalser Renier (SD) para o colega deputado Mecias de Jesus (PRB), que é candidato ao Senado por coligação rival.

Renier confirmou em vídeo postado em rede social o apoio ao colega, ignorando os candidatos majoritários de sua coligação, encabeçada por José de Anchieta (PSDB), que também enfrenta problemas e divergências entre candidatos a deputado estadual e candidatos ao Senado, que apesar de estarem do mesmo lado, se estranham frequentemente em rede social, mostrando que o grupo político não anda tão unido assim. Ao ser procurado pela reportagem, o presidente da Assembleia Legislativa não quis comentar o assunto.

Cientista político diz que fenômeno reflete falta de representatividade

Para o cientista político Roberto Ramos, o fenômeno reflete a falta de representatividade dos partidos e personalização da política.

“Há uma fragilidade das instituições, os dados têm mostrado que o cidadão brasileiro tem, cada vez, acreditado menos nas instituições democráticas, principalmente aquelas de representação política, que são as instituições como os partidos, o Congresso, o Legislativo, de modo geral tem caído a representatividade do eleitor, ou seja ele já não as percebe como instituições que fortalecem a sua representação”, analisou.

“O eleitor é estimulado a não votar em partidos e sim em pessoas. Nessa posição de partidos mais frágeis, as siglas eleitorais têm assumido um papel de ser mera formalidade para que políticos se candidatem no processo eleitoral, sem uma preocupação com seus tabus institucional e ideológico. Então o partido vira um instrumento para que ele possa disputar as eleições, e o que vale, ou vai prevalecer são os interesses individuais na competição política. O candidato concorre às eleições e percebe que a sua chegada ao poder vai depender muito mais do seu esforço individual, do que o esforço coletivo via partido político. É um jogo, um jogo que tem enfraquecido as instituições”, concluiu.