A decisão do presidente estadunidense Donald Trump de tarifar em 50% os produtos brasileiros promete aumentar o custo de vida em Roraima. Essa é a análise preliminar de empresários e de um economista locais, sem especificar profundamente os danos da medida.
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Isso vai acontecer apesar dos Estados Unidos terem fechado 2024 como o 12º principal parceiro comercial do Estado, com 5,5 milhões de dólares em volume de comércio.
No ano passado, o País representou apenas 0,3% das exportações e 14,2% das importações do Estado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Segundo instituições e especialistas, o impacto para Roraima será indireto, por meio da alta do dólar – que chegou a bater R$ 5,61 antes de fechar a quinta-feira (10) a R$ 5,54.
O economista Fábio Martinez, por exemplo, analisa que o Brasil poderá exportar menos para os Estados Unidos. Assim, o País receberá menor volume da moeda norte-americana, o que vai aumentar a cotação do dólar e impactar a economia local.
De acordo com ele, a consequência chega para as Áreas de Livre Comércio (ALCs) de Boa Vista e Bonfim – que para fomentar o setor, recebem isenções de taxas como a de importação.
“A economia de Roraima é altamente influenciada pela cotação do dólar. Uma cotação do dólar mais baixa facilita importações e coloca preços competitivos às mercadorias internamente, melhorando a vida do roraimense. Com taxas, juros e dólar mais elevados, a tendência é aumento de preços tanto a nível nacional como local”, avaliou Martinez.
Comércio
O presidente da Fecomércio-RR, Ademir dos Santos, concorda ao ressaltar que a alta do dólar vai elevar os custos para os empresários do comércio e de serviços, afetando ainda a população em geral.
Para ele, os benefícios tributários para as ALCs locais têm sido fundamentais para o crescimento de Roraima nos últimos anos.
“A Fecomércio-RR entende que toda e qualquer barreira imposta à livre comercialização de bens e serviços é prejudicial tanto para a população quanto para as empresas”, pontuou Santos, que defende o diálogo entre Brasil e Estados Unidos pelo bem do livre comércio.
Indústria
A Federação das Indústrias do Estado de Roraima (Fier) criticou a motivação política da medida, que penaliza de forma “injusta” a população e o setor produtivo dos dois países.
“Nos últimos 25 anos, a relação comercial entre Roraima e os Estados Unidos tem sido historicamente deficitária para o Estado, acumulando um saldo negativo superior a US$ 4 milhões”, conclui a Fier, que considera a decisão mais prejudicial para as importações roraimenses no mercado norte-americano.
Pequenos negócios
Para o Sebrae-RR, embora os pequenos negócios de Roraima não exportem diretamente para os Estados Unidos, “as tarifas podem elevar os preços ao consumidor e os custos de produção, o que tende a pressionar a inflação”.
“Além disso, o aumento do dólar torna o crédito mais caro, encarecendo dívidas e impactando diretamente a saúde financeira de pequenos empreendimentos”, completou.
Ademais, a instituição destacou que 52% da corrente de comércio de Roraima está voltada a países fronteiriços, o que torna o Estado sensível a flutuações internacionais.
“A depender das medidas econômicas globais, o encarecimento de insumos ou a retração do comércio exterior pode influenciar o desempenho das exportações e a viabilidade de negócios regionais.”
Agropecuária
Em Roraima, onde a pecuária é uma das principais atividades, a medida tende a reduzir a competitividade da carne, afetar o preço do gado e, consequentemente, desestimular os investimentos no setor, segundo o presidente da Aprosoja-RR, Murilo Ferrari.
Para ele, que lembra as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) como motivadoras para a taxação, a retração nos confinamentos também pode diminuir a demanda por soja e milho, que hoje são usados na terminação do rebanho.
Ferrari alerta que embora o Estado pouco exporte para os Estados Unidos, a pressão sobre essas cadeias impacta o mercado local indiretamente.
Por fim, o presidente da Aprosoja-RR se diz preocupado com a declaração do presidente Trump que o País irá retaliar a decisão de Trump – que já avisou que qualquer percentual de reciprocidade será acrescentado à tarifa original.
Isso porque uma possível resposta poderia encarecer ainda mais o custo da produção local, já que o País importa diesel, eletrônicos e fertilizantes dos Estados Unidos.
“O óleo diesel vai impactar, além da nossa atividade dentro da roça, o abastecimento do trator e também fora dela, o transporte dos produtos para a fábrica. Isso vai causar uma inflação muito grande, o que significa menos rentabilidade, toda uma bola de neve. Podemos, sim, entrar numa crise, porque dependemos do óleo de diesel e exportamos carne bovina e outros produtos que não afetam diretamente o agro em Roraima, só que se você tem um país deficitário com pouco recurso entrando, a economia como um todo pode ser afetada”, alertou.