Cotidiano

Sindicato pede contratação de mais agentes

Conforme Sindacse, número atual de agentes de endemias é insuficiente para suprir toda demanda existente na Capital

Combater o Aedes aegypti, mosquito responsável por transmitir a dengue, febre chikungunya e zika vírus, tem sido prioridade. Esta é a palavra de ordem atualmente. No entanto, falta profissional para atender a crescente demanda da Capital. De acordo com o presidente do Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e de Agentes de Endemias do Estado de Roraima (Sindacse-RR), Flavinei Almeida, há um ano a Prefeitura de Boa Vista não faz nenhum tipo de contratação ou promove concurso público para aumentar o número de agentes de endemias, o que tem preocupado a categoria no quesito eficiência no combate.

“A Prefeitura alega que não tem orçamento para isso, mas nós sabemos que as ações do combate a endemias no País são financiadas pelo Ministério da Saúde. Cerca de quase 70% do financiamento disso, incluindo pagamento de salários, quem financia é a União. Então, não há um impacto tão grande assim na folha de pagamento do município, se fosse contratar mais novos agentes de endemias. Agora, se o município fosse arcar com todas as ações e da folha de pagamento, aí a gente entenderia essa dificuldade do financeiro”, disse.

Conforme Almeida, atualmente, a Capital dispõe de 145 agentes de endemias, porém, para suprir toda a necessidade existente, seriam necessários 300 agentes. “Hoje, é necessário no mínimo 300 agentes de saúde, dos quais 180 iriam trabalhar diretamente no campo e nas visitas domiciliares, enquanto os 120 restantes ficariam na parte administrativa e no corpo técnico da coordenação de endemias do município. Uns iriam para zoonose, outros para dengue e malária, outros para parte das ações no campo”,disse.

“Só que, atualmente, a gente tem um quantitativo de 145 agentes de endemias, e tiram-se apenas 60 agentes para ir para o campo e outros ficam nessa parte administrativa. É um número muito insignificante para fazer visitas, muito abaixo do quantitativo preconizado pelo Ministério da Saúde”, complementou.

METODOLOGIA- Outra crítica do sindicalista é em relação à metodologia adotada pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) no combate ao mosquito. Segundo ele, a secretaria adota o mecanismo de arrastões, sendo que o mais indicado para a realidade local seria o zoneamento de áreas, destinando um quantitativo de 20 agentes por área.

“Seria muito mais eficaz que os arrastões. Atualmente a equipe que está no bairro Cidade Satélite não dá conta de atender tantas residências, e o município tem que se atentar o quanto antes. Não basta colocar o Exército no campo, porque a gente entende que os militares não estão preparados para fazer esse tipo de ação. Quem tem que fazer isso é o agente de endemias, que passou por uma capacitação. Esse, sim, é o verdadeiro soldado de combater e sensibilizar a população”, frisou.

AGENTES DE ENDEMIAS
Prefeitura reconhece baixo efetivo e diz que seletivo só no ano que vem

Por meio de nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que, de fato, o número atual de agentes comunitários de endemias é menor do que o necessário. No entanto, afirmou que realização de um novo processo seletivo para contratação de mais profissionais só será possível no próximo ano.

A nota ressalta que a administração municipal tem realizado um trabalho “intenso e contínuo para combater o mosquito Aedes aegypti”. “No Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa), realizado em outubro e novembro de 2015, a Capital ficou entre as 10 capitais brasileiras com índices satisfatórios, com uma taxa de 0,9 % de infestação, considerada de baixo risco”, frisou.

“Desde 2013, nenhum surto de dengue, zika ou chikungunya  foi registrado no Município de Boa Vista. Esses resultados são atribuídos  a um trabalho minucioso das equipes de saúde e vigilância municipal, que atuam nas visitas domiciliares para identificar e eliminar os possíveis criadouros do mosquito, além de orientar a população sobre os métodos de combate ao Aedes aegypti”, destacou.

 A nota frisou que, desde outubro, a Prefeitura vem promovendo uma campanha de combate ao Aedes aegypti. Até o dia 04 de dezembro, foram visitados 103.745 imóveis e eliminados 62.039 criadouros, o que representa 70,5% dos imóveis visitados durante o ciclo.

“Através das ações realizadas pela Secretaria Municipal de Saúde, foi possível diminuir o número de casos de dengue. Nos últimos três anos houve uma redução de 88 % no número de casos confirmados de dengue em Boa Vista. A Prefeitura está trabalhando com foco na captação dos casos de chikungunya e principalmente do zika vírus”, frisou. (M.L)

Pesquisador da Fiocruz tira dúvidas sobre o zika vírus

A relação do zika vírus, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue e chikungunya, com os recorrentes casos de microcefalia que vêm ocorrendo em todo o país, foi abordada em uma palestra realizada na tarde de ontem, no auditório Alexandre Borges, na Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Com o tema “Zika: um desafio para a saúde pública brasileira”, o pesquisador em virologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de Manaus, Felipe Gomes Naveca, tratou sobre a descoberta da doença, o diagnóstico, e os casos de microcefalia espalhados pelo Brasil.

Segundo ele, apesar de ter sido descoberta em 1947, o vírus só ganhou no país notoriedade em 2012. “Há uma epidemia grande de zika na Polinésia Francesa e alguns casos atípicos tinham sido notados, como a Síndrome de Guillain-Barré. Mas, por se tratar de uma população pequena, só foi reconhecida mundialmente quando começaram a aparecer casos no Brasil”, comentou.

Conforme o pesquisador, os casos de microcefalia, que causa o crescimento anormal do cérebro dos bebês, chamou a atenção após a confirmação de que estava sendo provocada pelo vírus zika. “O Ministério da Saúde reconheceu a relação entre eles e fez um alerta mundial para a Organização Mundial da Saúde. Isso fez com que outros países também se movimentassem e achassem outros casos”, disse.

De acordo com Naveca, a microcefalia ocorre porque o vírus consegue atravessar a barreira que protege o embrião. “Quando chega até lá, se multiplica nos tecidos do feto. Mas como exatamente acontece ainda é um objeto de estudo e precisamos de tempo para poder entender isso”, explicou.

Por possuir quase os mesmos sintomas da dengue, o especialista disse que, em 80% dos casos, as pessoas acabam nem sabendo que têm a doença. “Como um caso mais grave, verifica-se que a população conhece pouco sobre o vírus”, analisou.

O principal desafio para vencer a doença, conforme ele, é acabar com o vetor que a transmite. “Convivemos há anos com a epidemia de dengue, e agora vieram a chikungunya e a zika. Todos eles têm o mesmo vetor, então tem que haver um trabalho do poder público, em conjunto com a população, para diminuir os focos do mosquito. E a única ferramenta que temos no momento”, frisou.

Felipe complementou que a população deve fazer sua parte e eliminar possíveis criadores dentro de casa. “Qualquer reservatório com água pode ser criadouro do mosquito. Ele é adaptado ao convívio dentro de casa. Qualquer foco de água parada pode ser fonte de proliferação”, pontuou. (L.G.C)

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