Cotidiano

Servidores bloqueiam avenida Capitão Ene Garcez em protesto

Ideia de manifestantes era chamar a atenção de ministro do STJ, que ministraria palestra no prédio do TJRR

Como maneira de chamar atenção para a situação que estão passando, sem receber os salários em dia, servidores estaduais interditaram a avenida Capitão Ene Garcez, em frente ao prédio administrativo do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima (TJRR) na tarde de ontem. No local, seria ministrada a palestra “O Poder Judiciário e os 30 anos da Constituição Federal”, pelo ministro Sérgio Kukina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O evento foi cancelado após a interdição da via. O protesto surtiu o efeito esperado, despertando a curiosidade do ministro, segundo informou uma das lideranças do ato, a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de Roraima (Sindape-RR), Joana Dark.

“Queríamos chamar a atenção do ministro do STJ e conseguimos. Fui informada que ele tem interesse em visitar as cadeias públicas. Mas este ato também aproveita para reforçar o nosso apelo ao Judiciário. Em meio às decisões do Tribunal de proibir o uso de recursos do Instituto de Previdência do Estado para pagamento de servidores, estamos perguntando qual seria então a solução, pois não conseguimos ver mais nenhuma”, comentou.

No protesto, houve um momento em que o secretário municipal de Segurança Urbana e Trânsito, Raimundo Barros, pediu para que os manifestantes saíssem do local, uma vez que a queima de pneus poderia danificar o asfalto. Ele ameaçou chamar a Guarda Municipal, mas não houve represálias.

O presidente do Sindicato dos Fiscais Tributários, Jorge Teixeira, destacou que as condições de trabalho no posto de Jundiá estão cada vez mais difíceis e que, com o fechamento da Secretaria Estadual de Fazenda nesta quarta-feira, 5, a tendência é de maior apoio da categoria em mobilizações.

“O Governo do Estado morreu, e está em estado de putrefação. No próprio posto de fiscalização, no Jundiá, não há condições de higiene e segurança. A cada momento, há um fato novo e vejo que é questão de dias até que as atividades na fronteira fiquem impraticáveis, pois temos que muitas vezes pagar por recursos, e hoje em dia não é mais possível”, afirmou.

TJ diz entender ato, mas afirma não ter relação com crise

Sindape afirma que protesto surtiu efeito esperado, despertando curiosidade de ministro do STJ (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

Por nota, o Poder Judiciário de Roraima considerou legítima a manifestação, que denominou como pacífica, e afirmou se solidarizar com as famílias dos servidores privados de suas remunerações. Mas afirmou não ter relação com a atual crise econômica do Estado.

“O Tribunal de Justiça lamenta o episódio, considerando que os prejudicados, mais de 200 participantes [da palestra], entre estudantes, profissionais e comunidade em geral, não têm qualquer responsabilidade pela falta de pagamento de salários que ocorre no Poder Executivo”, citou a nota.

Além disso, o Tribunal também repudiou a atitude de manifestantes em proibir a passagem de pessoas para dentro da instalação. “Fato que restringiu indevidamente a liberdade de ir e vir dos servidores públicos e da comunidade em geral”, complementou. (P.B)

5º DP volta a funcionar

A interdição do 5º Distrito Policial, iniciada na manhã da quarta-feira, 5, teve o seu fim antecipado às 12h de ontem, 7, pelo Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Roraima (Sindpol). A princípio, a ideia era que a única delegacia em funcionamento em Boa Vista fosse liberada às 8h de hoje, 8.

Segundo o presidente do sindicato, Leandro Almeida, os manifestantes foram sensibilizados pelos populares que passaram pelo local ao longo dos últimos dias, que apesar de lamentarem a falta de atendimento, se mostraram solidários à causa dos servidores pela exigência dos quase três meses de salários que estão sendo devidos pelo Governo do Estado.

“Ontem chegou um senhor de bicicleta, com sandália, bermuda, de aparência humilde, com mochila nas costas. Ele tirou um quilo de feijão e nos deu dizendo que não era muito, mas que mesmo assim queria ajudar. Situações como essa sensibilizam muito a todos nós, pois sabemos que a população como um todo sofre com a falta do nosso serviço. Iremos desafogar as demandas dos últimos dias e segunda, 10, redefinimos novamente o próximo passo”, explicou Leandro.

Esposas de militares estão acampadas em 14 quartéis

Esposas de bombeiros militares estão em frente ao quartel do Comando do Corpo de Bombeiros (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

As esposas de policiais e bombeiros militares estão há mais de um mês acampadas em diversos locais do Estado, como forma de protesto ao atraso no pagamento dos salários. Elas estão distribuídas em 14 localidades do Estado.

Na maior parte, as concentrações surgiram de forma espontânea. Em Boa Vista, elas estão concentradas na Praça do Centro Cívico e nas entradas do Comando de Policiamento da Capital (CPC), do 2ª Batalhão da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBM-RR), do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), da Companhia Independente de Policiamento Ambiental (CIPA) e do Grupamento Independente de Intervenção Rápida Ostensiva (GIRO). Os quatro últimos foram ocupados ontem, 7.

Além disso, no interior, quartéis da Polícia Militar dos municípios de Rorainópolis, Pacaraima, Caracaraí, Caroebe, Alto Alegre e São João da Baliza também estão bloqueados para a saída de viaturas.

Na frente do Corpo de Bombeiros, a esposa de bombeiro militar Renata Borges explicou que apesar do bloqueio, alguns serviços ainda estão sendo mantidos, mas a saída de viaturas do local está impedida. “Serviços essenciais, como os do Samu e da base dos bombeiros no Cambará, estão funcionando normalmente, para não deixar a população na mão. Mas viaturas não sairão daqui da sede. Sentimos fome e estamos vivendo de doações e empréstimos. Água e luz estão para serem cortadas, e não aguentamos mais viver nessas condições”, contou.

No quartel do Bope, as esposas usam capuzes para não serem identificadas por membros de facções criminosas. “Chegamos aqui às 5h. Estamos impedindo a saída de viaturas e armamentos daqui. Nós não queríamos fazer isso, mas as coisas chegaram a uma proporção em que não há mais como ficar em casa com nossos maridos aqui fora arriscando a vida, sem certeza de volta, e com o psicológico extremamente abalado. Isso é o que podemos fazer, e estamos fazendo”, explicou uma das esposas. (P.B)