PERÍODO SECO

Roraima ainda não recebeu recurso federal para combater queimadas, diz governo

Governo também admite risco de racionamento de água em Boa Vista em virtude de um dos mais baixos níveis do rio Branco na capital

Coletiva de imprensa com representantes do governo estadual sobre a crise da estiagem em Roraima (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Coletiva de imprensa com representantes do governo estadual sobre a crise da estiagem em Roraima (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O governo estadual revelou nesta terça-feira (26) que ainda não recebeu o recurso federal que solicitou para combater as queimadas por todo o Estado e se esquivou da responsabilidade total pelos incêndios que têm levado fumaça para as cidades roraimenses nos últimos dias.

O comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR), coronel Anderson Carvalho de Matos, explicou que Roraima solicitou R$ 29 milhões para enfrentar a crise provocada pela estiagem, e recebeu, até agora, R$ 6,6 milhões dos R$ 10 milhões solicitados especificamente para a compra e distribuição de 30 mil cestas básicas em nove municípios por três meses, além de R$ 350 mil dos R$ 1,9 milhão para alugar caminhões-pipa.

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“Esses recursos só podem ser usados nesses municípios que decretaram emergência e nessas duas ações”, esclareceu Matos. “É um valor insignificante que o governo federal destinou”, complementou o presidente da Caer (Companhia de Águas e Esgotos de Roraima), James Serrador.

“O Corpo de Bombeiros trabalha principalmente na prevenção, para que não ocorra o incêndio, porque a partir do momento que já iniciou, o prejuízo já se estabeleceu pras pessoas”, disse o líder dos bombeiros.

Atualmente, o Governo de Roraima emprega 300 militares por mês, nove caminhões de combate a incêndio, 29 picapes com kit de combate a incêndio florestal, dois veículos de transporte de tropa, dois caminhões de carga logística e quatro drones para o enfrentamento das queimadas.

O presidente da Femarh (Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), Glicério Fernandes, admitiu que 240 brigadistas para o Estado, especificamente, ainda é um número insuficiente para enfrentar o problema, e voltou a explicar que o recurso insuficiente impossibilita aumentar o efetivo.

Mapeamento das queimadas

RR-205
Estiagem em Roraima (Foto: Reynesson Damasceno)

O comandante-geral do Corpo de Bombeiros disse que as últimas queimadas que ajudaram a deixar Boa Vista com o pior ar desde o início da estiagem aconteceram em Boa Vista, Bonfim e Cantá. Citou, ainda, que os ventos também ajudam a trazer fumaça de incêndios florestais na Venezuela e na Guiana. “À noite, o ar quente tende a subir e o ar mais frio tende a descer e acaba comprimindo essa fumaça dentro dessas áreas onde há essa concentração”, pontuou.

Ele confirmou que, no Estado, a maioria das queimadas ocorre em propriedades rurais, especialmente à noite, o que dificulta o trabalho de brigadistas. Terras indígenas, de responsabilidade do governo federal, também registram focos. No geral, Roraima registrou quase 5 mil focos desde outubro.

Segundo a delegada-geral da Polícia Civil, Darlinda Moura, até o momento, três pessoas foram presas em flagrante por envolvimento com queimadas criminosas. A corporação ainda indiciou sete pessoas, abriu 29 inquéritos e lavrou 38 termos circunstanciados de ocorrência. “Faço um apelo que as pessoas que tiverem material fotográfico de pessoas cometendo crime, inclusive de quem está em atitude suspeita, que encaminhem à Polícia Civil ou a delegacia mais próxima”, apelou.

A delegada-geral da Polícia Civil de Roraima, Darlinda Moura, em entrevista coletiva sobre a operação Verão Seguro (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O comandante-geral da Polícia Militar de Roraima (PMRR), coronel Miramilton Goiano, destacou que a corporação tem atuação na condução de suspeitos e na realização de visitas de orientação sobre a seca pelo Estado: já foram mais de 1,4 mil visitas.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Miramilton Goiano de Souza, em entrevista coletiva sobre a operação Verão Seguro (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Falta de água

Seca aumenta praia do rio Branco no Centro de Boa Vista (Foto: Lucas Luckezie/FolhaBV)

Em meio à seca, o governo também admitiu a possibilidade de haver racionamento de água em Boa Vista. Segundo a Caer, o nível do Rio Branco na capital registra, nesta terça, a marca de 38 centímetros negativos – 21 a menos que a margem de segurança. “A situação de Boa Vista é muito sensível”, alertou James Serrador, que pediu para a população economizar água.

“Se chegarmos a 58, 60 centímetros negativos, precisaremos desligar essas bombas do sistema de captação submersa. Portanto, neste caso, teremos uma redução de pelo menos 300 litros por segundo, entre 25 e 30% da carga. Se isso ocorrer, teremos racionamento”, disse o presidente da Caer.

O presidente da Caer, James Serrador, em entrevista coletiva sobre a operação Verão Seguro (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Para atenuar o problema, a empresa pretende iniciar a perfuração de 20 novos poços artesianos em oito bairros da capital para reforçar o abastecimento de água, assim que a atenuar a crise hídrica no interior de Roraima. Ele citou, entre os exemplos críticos, Pacaraima, onde não há água nem nos poços e tem um sistema de captação de água da década de 1980 para fornecer água a uma população de 6 mil pessoas, enquanto hoje existem 19 mil habitantes.

O comandante do Corpo de Bombeiros, por sua vez, afirmou que o governo estadual pretende comprar, com recursos próprios, 1 mil caixas d’água para abastecer a população do Estado.