
Mudar para recomeçar, esse é um slogan que bem define o trabalho do Centro Reflexivo Reconstruir, da Secretaria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), que atua há sete anos no Estado. O projeto atua diretamente com homens condenados pela Justiça em processo de violência contra a mulher, para que repensem o comportamento nas relações interpessoais.
Luiz Alberto Gomes do Nascimento encerrou o ciclo de atividades no Centro Reflexivo Reconstruir, que, atualmente, recebe 80 homens enviados pelo Poder Judiciário. Eles são atendidos às segundas, pela manhã, e às terças, nos dois horários. Luiz afirma que percebeu uma mudança significativa de comportamento ao encerrar a passagem pelo grupo e agradeceu à equipe da secretaria.
“Aprendi a controlar o Hulk que tem dentro de mim; às vezes, eu estava errado e não aguentava ouvir. Hoje, eu escuto. Mudei muito, aprendi a refletir, não podemos agir por impulso, porque o ser humano é complicado e não é bem assim. Esse projeto é maravilhoso! A equipe é maravilhosa. Só tenho a dar nota 10. No início, quando eu bati à porta com vergonha, imaginava que era uma bobagem. Depois, não. Quando um novato chegava, eu já falava: ‘Pode entrar’”, contou Luiz, que é carreteiro.
O Reconstruir é um mecanismo de enfrentamento da violência contra a mulher que se soma às demais iniciativas da Secretaria Especial da Mulher. O Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame) dispõe do ZapChame (95) 98402-0502, para atender vítimas em situação de vulnerabilidade; palestras para alunos das escolas estaduais; ainda e o grupo terapêutico Flor de Lótus.
Para o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), as matérias relacionadas à proteção e garantia de direitos das mulheres são prioridade na Casa. Ele lembra que nos últimos cinco anos, mais de 60 textos foram aprovados pelos deputados estaduais e sancionados pelo Poder Executivo.
“Nós, enquanto parlamento, precisamos fortalecer a rede de apoio a essas mulheres, e isso já ocorre de maneira excelente através do Chame, com foco nas mulheres, e do Reconstruir, que trabalha para que esses homens que foram condenados repensem seus comportamentos. É uma forma de também romper o ciclo de violência e tirar o Estado de Roraima de um ranking negativo”, comentou Sampaio.
Encontros
Os homens são enviados ao Centro Reflexivo Reconstruir pela Vara de Penas e Medidas Alternativas (Vepema), do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR). As rodas de conversa, palestras e sessões orientativas fazem parte das penas alternativas impostas pela sentença. A secretária Especial da Mulher, deputada Joilma Teodora (Podemos), avalia que os relatos de quem passou pelo grupo revelam que o trabalho tem sido promissor.
“As nossas equipes são capacitadas para atender todas as pessoas que precisam de um suporte emocional, psicológico, jurídico e de assistência social. Hoje, nossa rede de apoio acolhe as mulheres vítimas das mais diversas violências, e com a parceria com a Justiça estende esse atendimento para os homens que foram condenados, pois entendemos que o combate à violência também passa por essa perspectiva”, enfatizou a deputada.
Atualmente, todos os homens que fazem parte do centro foram encaminhados pelo Poder Judiciário. Contudo, quem tiver interesse em participar de maneira voluntária, pode procurar a sede da Secretaria Especial da Mulher para se cadastrar. O prédio fica na Avenida Santos Dumont, 1470, bairro Aparecida, zona Norte de Boa Vista.
Segundo Jadiel Ribeiro, servidor do Reflexivo Reconstruir, o objetivo central é pensar na reelaboração comportamental dos homens. No último ano, 35 assistidos concluíram os ciclos de atendimento no centro.
“Geralmente, são homens movidos por impulsos, então os trazemos para os encontros para trabalhar diversas temáticas, como a Lei Maria da Penha, os tipos de violência, que são desconhecidas pelo homem, como a psicológica e a moral. O que fazemos são essas reflexões, para que essas informações também cheguem no ambiente familiar, porque o que percebemos é que muitos deles já vivenciaram a violência na infância ou adolescência”, comentou.