Cotidiano

Produção de biodefensivos cresceu no último ano

Eles são produtos defensivos agrícolas naturais que podem ser originados de plantas ou organismos para controlar pragas

Rayna Freitas é uma agricultora que trabalha com plantações de feijão, maxixe, quiabo, couve e rúcula. Para controlar as pragas, faz uso de alternativas sustentáveis, popularmente chamadas de biodefensivos. De acordo com a pequena produtora, a maior vantagem é que sem o uso de agrotóxicos se tem produtos mais saudáveis.

“Quando uma pessoa pensa em fazer um trabalho de agroecologia, já é preciso pensar nesses produtos”, declarou Rayna, que iniciou os trabalhos em 2017 ainda com compostagens, que são um conjunto de técnicas para estimular a decomposição de material orgânico.

Os biodefensivos são produtos defensivos agrícolas naturais que podem ser originados de plantas ou organismos para controlar pragas. Ou seja, trata-se do uso de material alternativo para ter controle de pragas e doenças, assim como também garantir uma qualidade nutricional maior dos alimentos.

É um controle biológico que pode ser feito a partir de óleos e extratos de plantas, assim como produtos à base de organismos vivos, como fungos, bactérias, vírus, insetos e ácaros que controlam pragas. Importante salientar que este tipo de defensivo não mata as pragas, apenas as afugenta porque são inseticidas sem agrotóxicos.

O professor do curso de Agroecologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Rafael Prado explicou que para a agricultura em larga escala, o uso desta alternativa ainda enfrenta desafios por causa da quantidade de insumos necessários e do contexto de produção.

Ele comparou o uso dos defensivos sustentáveis a biofertilizantes para explicar as dificuldades no uso em grande escala. Ambos necessitam de reaproveitamento de material e se a produção não for realizada pelo próprio agricultor, o valor pode ser alto no mercado devido à grande quantidade necessária.

“Por exemplo, se tem uma árvore de neem, vai se pegar as folhas, deixar secar e fazer um extrato. É um reaproveitamento de resíduos, por isso é muito voltado à agricultura familiar, ecológica e orgânica”, relatou o professor.

DESAFIO EM RORAIMA – O empresário Genor Faccio testou biodefensivos em suas plantações, mas não manteve o uso, pois considerou o produto muito “devagar” para agir em uma região tropical e, portanto, não os considerou suficientes para lidar com os insetos.

“Os biodefensivos funcionam, sem dúvida, só que são mais lentos que os defensivos normais. Se formos esperar atuar, perderemos a lavoura por causa da agressividade dos insetos”, contou Faccio.

O professor Prado lembrou que Roraima possui características muito específicas que o diferenciam do restante do País. No caso da produção rural, há uma dificuldade imposta pela umidade e as temperaturas elevadas que aceleram os ciclos.

“Enquanto no Sul ou Sudeste, os ciclos levariam de quatro a quatro meses e meio para se iniciar e terminar o círculo de produção, aqui se acelera para três meses. E há também um círculo acelerado de pragas e doenças. São muito dinâmicas, estão todo tempo se reproduzindo”, explicou. 

MERCADO – Os biodefensivos podem ser produzidos diretamente pelos agricultores, mas também podem ser comercializados. O valor, de acordo com a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Elisângela Fidelis, pode variar bastante, mas se torna caro por dois motivos: o tempo curto de prateleira, pois há produtos com uma semana de prazo de validade, e a distância, que também pode elevar os preços. 

“Aqui em Roraima, temos uma grande dificuldade de ter estes produtos porque a maioria de pronto uso, comerciais, é produzida nos grandes centros que ficam no Sudeste e Centro-Oeste e o que encarece, no nosso caso, é o transporte”, disse Elisângela.

A Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio) apresentou dados que apontam um crescimento de 70% na produção de produtos biológicos para controle de pragas e doenças agrícolas no último ano somente no Brasil.

O resultado é o mais expressivo da história do setor e superou os números apresentados pelo mercado internacional. O valor movimentado em 2018 foi de R$ 464,5 milhões ante R$ 262,4 milhões em 2017.

“Hoje, no mercado, graças a pesquisas, temos vários produtos que podem ser adquiridos por produtores para pronto uso. E tem também fungos, bactérias e vírus em várias formulações para uso na agricultura e empresas que vendem outros insetos predadores e parasitoides para controlar pragas”, declarou a pesquisadora da Embrapa.