Cotidiano

Pesquisador analisa que turismo mantém tudo em Tepequém

JESSÉ SOUZA

Especial para a Folha

O pesquisador Joaci de Freitas Luz, autor do Guia de Turismo do Tepequém lançado em 2013, analisa a garimpagem na região com preocupação. Ele afirmou que o custo ambiental e social para fazer exploração em larga escala em cima da serra não paga os custos exorbitantes.

“Só na cabeça dos garimpeiros de lá isso funciona, porque querem alguém pagando pra eles fazerem o que sempre fizeram”, disse.

Conforme frisou, a maior riqueza do Tepequém sempre foi a água.

“São poucos os topos de montanha que conservam água por tanto tempo. O turismo ecológico mantém o garimpo artesanal, os agricultores lá de baixo, as pequenas empresas do setor, o comércio local e a felicidade dos visitantes”, analisou. “Ou seja, a mineração industrial não paga os custos sociais, ambientais e econômicos para ser viabilizada nem paga os altos riscos da atividade”.

Quem explora o turismo guiando turistas para as cachoeiras, igarapés e serras não só se depara com as marcas do garimpo do passado, como enormes crateras de erosão, chamadas de voçorocas, e montanhas de areia e cascalho que foram revirados durante décadas de exploração. Também encontra piquetes de madeira que serviram de marco para pesquisas nos quadrantes que se estendem além da serra.

Embora os moradores da Serra do Tepequém não se sintam à vontade para falar abertamente sobre a volta do garimpo, há vários garimpeiros artesanais, remanescentes dos exploradores mais antigos, que nunca mais saíram de lá e continuam com suas tralhas revirando os cascalhos no leito dos igarapés, em busca de pequenos diamantes perdidos na terra revirada por décadas, ou mesmo garimpando fagulhas de ouro, metal que era desprezado no passado, auge da exploração mineral.

Estudo chama atenção para volta do garimpo

Acampamento de garimpeiro encontrado às margens do Igarapé do Cabo Sobral (Foto: Jessé Souza/Divulgação)

A realidade da volta do garimpo não é algo novo. Há alguns estudos que apontam para esta possibilidade da reocupação, a exemplo da pesquisa intitulada “Memória do Garimpo de Diamantes do Tepequém: Uma Nova Paisagem”, um trabalho de conclusão do Curso em Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR), que visa propor a elaboração de projetos para a estruturação do Museu do Garimpo no Tepequém.

O trabalho foi apresentado no 3° Colóquio Ibero-Americano Paisagem Cultura, Patrimônio e Projeto – Desafios e Perspectivas, em Belo Horizonte (MG), em 2014.

Conforme os autores desse estudo, se não houver uma atenção especial para regular o avanço do garimpo e uma proteção à “paisagem física e cultural do Tepequém”, tudo estará em xeque.

“Esse risco latente e concreto expõe a possibilidade de ser apenas uma questão de tempo sua nova descaracterização”, sentencia o estudo referindo-se às belezas naturais que resistiram às décadas de exploração predatória do diamante e que hoje ainda se recuperam lentamente das ações que devastaram a vegetação nativa e alteraram serras e cachoeiras, seja pelas escavações manuais e por maquinários, além das explosões por dinamites para desviar o curso dos igarapés.