Cotidiano

Pais não conseguem pagar fardamento de escolas públicas

Responsáveis pelos alunos calculam gastos acima de R$ 240 com a compra do fardamento mais simples; nas escolas militarizadas, custos ultrapassam R$ 500

O início do ano letivo significa dor de cabeça para alguns pais. Não são apenas custos com o material escolar que preocupam e, sim, o fardamento obrigatório nas escolas. Quem sobrevive com a renda de um salário mínimo, atualmente no valor de R$ 998, encontra dificuldades para conseguir arcar com todos os custos exigidos.

Em denúncia recebida pela Folha, pais criticaram os valores altos para o fardamento completo dos alunos, podendo variar de R$ 240 a R$ 500 por estudante. Um deles, que não quis se identificar e tem o filho que estuda em rede pública estadual, localizada no Centro, informou que todos os anos há um reajuste no preço do fardamento, o que limita a quantidade de camisetas compradas.

Ele calculou que comprando duas camisetas sociais e uma de educação física, mais uma calça cáqui, o valor chega a R$ 250. Ao contar com a exigência do tênis preto, meia branca e short, o custo sobe para R$ 350. Já para os alunos das escolas militarizadas, a situação se torna pior pela obrigação de dois fardamentos diferentes para serem usados no dia a dia. Ele frisou que o filho chegou a receber advertência por não estar utilizando o tênis preto como solicitado pela escola.

A mãe de duas estudantes, uma delas ingressando na 1ª série do Ensino Médio e a outra no 7º ano do Ensino Fundamental, recebe um salário mínimo e só conseguiu comprar o fardamento de uma delas porque não sabe como vai pagar o da outra, mesmo com as aulas começando na próxima segunda-feira, 4.

“Minhas filhas estudam lá há dois anos e é complicado. Ainda estou tentando comprar para a outra. Por ser uma escola estadual, mostra que não temos como pagar direito. Tem mãe que têm três filhos na mesma escola, já pensou o absurdo? Tem que parar de comer porque o filho não pode ficar sem o fardamento”, criticou.

Ela relatou que a exigência é tanta que já viu alunos serem impedidos de entrar na escola por não estarem com o fardamento completo, composto por uma calça e camisa, com a média de preço em R$ 150. O tênis precisa ser preto, assim como a mochila do aluno, resultando em R$ 100 cada.

A escola militarizada tem também um fardamento especial, sendo uma calça, camisa social e sapato preto formal, além de uma boina. No caso das meninas, é exigido sapato preto de salto pequeno, saia, camisa social e meia calça de fio 80 e luvas, dando um custo acima de R$ 500, segundo a mãe das estudantes. Ela destacou que se o aluno receber honrarias, como bom comportamento e notas altas, é obrigado a usar esse tipo de fardamento.

“Já tentei mudá-las de escola, mas é a única perto de casa. Como mudar para mais longe se não tem como ir buscar, já que não temos transporte? Então, tem que ficar lá mesmo. Antes, não era militarizada. Depois, mudaram e ficou complicado. Queria que melhorasse, que baixasse de preço”, encerrou a mãe.

Seed diz que não impede alunos de entrarem nas escolas sem farda

Por meio de nota, a Secretaria de Educação e Desporto (Seed) esclareceu que não procede a informação sobre a proibição de acesso de aluno sem o fardamento completo às unidades de ensino nas escolas da rede estadual de ensino.

A nota ressalta que para mais informações e esclarecimentos acerca do assunto, pais ou responsáveis devem procurar a Secretaria de Educação e Desporto, que funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 13h30, e das 15h às 18h, na Rua Barão do Rio Branco, 1.491, Centro.

DEFENSORIA PÚBLICA – A equipe de reportagem procurou a Defensoria Pública do Estado para questionar se havia alguma medida a ser feita sobre a obrigatoriedade do fardamento ao ponto de impedir os alunos de adentrarem as unidades de ensino. Perguntou também se os pais de baixa renda podem procurar o órgão para solicitar alguma isenção nesse tipo de situação.

A assessoria de comunicação informou que iria avaliar com mais cuidado os questionamentos e iria responder nos próximos dias. O espaço está aberto para manifestação e posicionamento da Defensoria Pública. (A.P.L)