Cotidiano

Mulheres ultrapassam homens em cargos e salários, diz IBGE

A pesquisa aponta que em Roraima, enquanto os homens registraram rendimento médio mensal real de R$ 2.260, o das mulheres foi de R$ 2.439

Roraima e Amapá são os únicos estados do Brasil em que as mulheres ganham mais do que os homens. Foi o que apontou a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílio (PNAD), divulgada ontem, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), relativos ao rendimento médio mensal real das pessoas de 14 anos ou mais de idade, de todos os trabalhos, a preços médios do ano de 2018.

A pesquisa aponta que em Roraima, enquanto os homens registraram rendimento médio mensal real de R$ 2.260, o das mulheres foi de R$ 2.439. 

A Folha conversou com o chefe da Supervisão de Documentação e Disseminação de Informações da Unidade Estadual do IBGE em Roraima, Liezer Hernandez Pino, para saber quais os critérios da pesquisa e a que pode creditar esta singularidade. Ele afirmou que o IBGE apenas colheu os dados que apontaram o rendimento maior por parte das mulheres, mas não apresenta as justificativas para a mudança.

“Estes dados coletados levaram a esse registro de que as mulheres estão recebendo mais que os homens em Roraima, mostrando um dado que está na contramão do restante do país”, afirmou. “Porém, o IBGE mostra os dados e não tem informações ou argumentos que sirvam para justificar essa diferença”, afirmou.

Ele ressaltou ainda que a taxa de desocupação das mulheres no Estado, no ano passado, se manteve no patamar de 5% a mais que dos homens. “As mulheres permanecem com a taxa de desocupação de 5% a mais que os homens, mas mesmo assim a PNAD apontou que esse número, apesar de reduzido, de mulheres, está ocupando cargos melhor remunerados que os homens em 2018 e continuaram no primeiro trimestre de 2019”, afirmou. “Esta singularidade nunca havia acontecido antes e é um marco no Estado de Roraima a partir do ano de 2018”, complementou. 

À Folha, o sociólogo Linoberg Almeida explicou que o aumento se dá em virtude do grau de escolaridade que as mulheres vêm alcançando e conquistando cargos mais relevantes no mercado de trabalho. 

“É o ponto de inflexão de uma construção histórica da sociedade roraimense. O grau de escolaridade influencia diretamente no rendimento do trabalhador, ou seja, quanto maior o nível de instrução, maior é o salário. Neste caso, o salário da trabalhadora é influenciado pelo peso do serviço público na composição do índice”, disse. “Nota-se que boa parte de nossas mulheres atuam em áreas como saúde, assistência social, funcionalismo público militar, educação. Mesmo com obstáculos sistêmicos como discriminação, machismo e a menor renda no trabalho formal, mulheres com mais anos de estudo e mais estratégias de complementação de renda na informalidade sinalizam esse momento nos dados da PNAD, num cenário em que o mercado de trabalho formal ainda remunera, boa parte delas, menos que a homens”, afirmou. (R.R)

Bolsa Família vem diminuindo no Estado 

A PNAD divulgou outro ponto relevante para o Estado de Roraima. A proporção de domicílios com Bolsa Família no Estado caiu de 21,6% em 2016 para 18,7% em 2018. Em todo Estado, 18,7% dos domicílios particulares permanentes recebiam, em 2018, dinheiro referente ao Programa Bolsa Família. Esta proporção foi de 21,6% em 2016, o que mostra uma queda acentuada no número de famílias que deixaram de receber o benefício, sem citar números absolutos de famílias beneficiadas.

“A pesquisa mostra que desde o ano de 2016 que o número de domicílios que recebem este benefício vem caindo em Roraima. E a PNAD mostra que as famílias que recebiam o benefício moravam em localidades com menos acessos a serviços básicos de saneamento, esgotamento e água tratada”, disse. “Estes números retratam apenas sobre o Bolsa Família do Governo Federal. Não cita os programas sociais do Governo do Estado”, afirmou.

Para o sociólogo Linoberg Almeida, a mudança de gestão na presidência da república pode ter influenciado diretamente na queda do número de beneficiários.

“Os programas de transferência de renda, inclusão e cidadania dependem, além da iniciativa e filosofia de gestão, de fatores como recessão econômica, inflação, de como a matriz econômica e a política macro-econômica se desenrolam, e do cenário político vigente. Entre 2015 e 2019, vivemos uma guinada do que chamamos de sistema de proteção social com três presidentes e perspectivas diversas sobre o combate à desigualdade. Em Roraima, vivemos um vazio na renda condicionada com o fim programas locais, sem substituto até o momento”, disse.

A PNAD aponta ainda o perfil das famílias que recebem o Bolsa família no Estado. Destes, 74,1% tinha abastecimento de água de rede geral; 20,7% tinham esgotamento sanitário com rede geral ou fossa séptica ligada à rede geral; 69,3% tinham coleta de lixo. 

O mesmo comportamento foi verificado em relação à posse de bens. Entre os domicílios que recebiam o programa Bolsa Família, 94,1% possuíam geladeira; 40,9% máquina de lavar; 13,8% microcomputador. Entre os que não recebiam, os percentuais foram, respectivamente: 94,4%; 67,1%; e 40,7%.

Já o Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS) era recebido por 5,1% dos domicílios de Roraima em 2018 e caiu 0,9% da proporção observada em 2017. 

DESIGUALDADES – Em Roraima, o Índice de Gini, que mede o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos, que varia de zero (igualdade) até um (desigualdade máxima), foi estimado em 0,485 em 2017 e passou para 0,543 em 2018, registrando o maior crescimento de desigualdade depois do Estado de Rondônia.

A PNAD citou ainda que a massa de rendimento mensal real de todos os trabalhos da população ocupada em Roraima, em 2018, era de aproximadamente R$ 504 milhões, 25,1% acima do valor registrado em 2017. Aumentou 19,% o rendimento médio mensal real domiciliar per capita em Roraima. O rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1. 196, em 2018, e R$ 1.005, em 2017. 

Para Linoberg Almeida, Roraima segue com a desigualdade proporcionada pela concentração de renda nas mãos de poucos e citou também a migração. 

“Qualidade de vida, desemprego, precarização do trabalho, a informalidade, a questionável qualificação das pessoas e empregabilidade na área de formação e a dependência de programas sociais são elementos a serem levados em conta. Vale lembrar que aposentados estão sustentando mais pessoas com sua renda, além do fator situação migratória que vivemos nesses tempos de crise”, disse. (R.R)

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