Cotidiano

Mudança de comportamento pode indicar relacionamento abusivo

Ciúme em excesso, controles emocional, psicológico e financeiro. Esses são alguns dos sinais de um relacionamento considerado abusivo e que pode culminar em situações mais graves, como o feminicídio, crime previsto na Lei 13.104/15, para caracterizar o assassinato de mulheres em razão do gênero.

Na quarta-feira (13), uma adolescente de 16 anos foi assassinada pelo ex-companheiro, Leandro Ribeiro, 22, após se recusar reatar o relacionamento. Após desferir facadas na ex-mulher, ele tentou suicídio, foi socorrido pelo Serviço Móvel de Urgência (Samu) e morreu no fim da tarde no Hospital Geral de Roraima (HGR).

Familiares relataram que José Leandro era extremamente ciumento e não aceitava o fim do relacionamento com a adolescente. Este tipo de comportamento é um sinal de alerta, segundo a psicóloga Sângida Teixeira, do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame).

“Desde o início da relação, quando o agressor quer dominar a vítima, ter poder sobre as escolhas, ciúme excessivo, dependência emocional. Isso não é saudável e pode piorar.”

Antes da agressão mais grave ou até mesmo da morte, há ações mais discretas que a mulher sofre em um relacionamento. Muitas vezes, a vítima não consegue enxergar o comportamento do companheiro como nocivo à saúde.

“Antes de acontecer a violência física, geralmente acontecem a violência psicológica, que é uma das mais devastadoras, a violência patrimonial, a violência moral”, destacou Sângida.

FAMILIARES E AMIGOS – Para combater este tipo de violação de direitos, a psicóloga orienta a busca por informações e ajuda. Vizinhos, familiares e amigos podem auxiliar neste processo por meio de denúncia e acolhimento à mulher agredida.

“Informar que ela está em um relacionamento abusivo, que o que ela vive é violência psicológica, ou moral ou patrimonial. As palestras feitas pelo Chame são instrutivas, porque a maioria das pessoas acredita que a violência doméstica é só violência física, um chute, um tapa, mas não é”, frisou.

Violência doméstica afeta crianças e adolescentes

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), da Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência doméstica não impacta somente a vida da mulher vítima, mas de todo o seio familiar. Em um estudo publicado pela Organização, a Folha Informativa – Violência Contra as Mulheres 2017, as crianças são atingidas de maneira direta.

Conforme o estudo, as crianças desenvolvem transtornos comportamentais e emocionais que podem permanecer o resto da vida e, como sequela, podem se tornar adultos agressivos ou depressivos. A Opas associou ainda taxas de mortalidade infantil de crianças com menos de cinco anos de idade, principalmente por doenças relacionadas à má nutrição.

Outras consequências como a irritabilidade, insônia, isolamento social, baixo rendimento escolar, ansiedade, ou mesmo sentimento de culpa, são encontrados em crianças que vivem em um ambiente de conflito. Este tipo de violência dificulta o desenvolvimento cognitivo da criança, que na primeira infância, pode apresentar inclusive dificuldades na fala.

“Se é um menino, ele pode achar que o comportamento do pai é normal e isso dificultará que ele tenha respeito a outras mulheres. Se é menina, achará normal ter um companheiro controlador, que pode bater, ameaçar”, enfatizou a psicóloga do Chame.

Ajuda e prevenção

No intuito de ajudar a reduzir problemas como este, o Chame oferece atendimentos psicológicos, orientações jurídicas e de assistência social no prédio localizado na Rua Coronel Pinto, nº 524, no Centro de Boa Vista.

Instituições, empresas, órgãos públicos ou comunidade podem solicitar palestras educativas sobre violência contra a mulher. Nestes encontros, os participantes conhecem sobre a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) e os tipos de violência enfrentada pelas mulheres (física, moral, psicológica, patrimonial, sexual e virtual).

“Atendemos não só na capital. Levamos para o interior e comunidades indígenas campanhas, levando prevenção a essas mulheres para que a partir dos conhecimentos elas comecem a enfrentar a violência doméstica”, acrescentou a coordenadora do Chame, Elizabete Brito.