Cotidiano

Moradores do antigo Beiral dizem que ainda esperam por indenizações

Famílias também relatam atrasos no pagamento do auxílio aluguel Prefeitura de Boa Vista não comentou o assunto até a publicação da reportagem

Moradores da área onde hoje existe o Parque do Rio Branco dizem que a Prefeitura de Boa Vista ainda não cumpriu a promessa de indenizá-los após a desapropriação das casas para a construção do novo cartão postal da cidade.

Em 2017, o Poder Executivo anunciou o plano para revitalizar a área especial de interesse social Caetano Filho, conhecida como Beiral, e transformá-la no Parque do Rio Branco. A obra, inaugurada em 2020, custou R$ 134,4 milhões aos cofres públicos. Para a construção, houve a desapropriação de casas com a proposta de que as famílias fossem indenizadas.

Enquanto o dinheiro não era depositado na conta dos moradores, eles passaram a receber um auxílio aluguel, que varia de R$ 600 a R$ 1200. A promessa era que a indenização fosse paga em até 18 meses após a desapropriação, o que ainda não aconteceu, conforme os moradores ouvidos pela FolhaBV.

É o caso do seu Denis Gomes da Silva, 38 anos. O auxiliar de serviços gerais tinha uma casa própria no Beiral e passou a receber da Prefeitura, a partir da desapropriação, R$ 600 mensais para pagar o aluguel em um aposento no bairro Calungá. O local onde mora atualmente com a mulher, que tem a mesma profissão, e os cinco filhos, fica próximo do antigo Beiral.

“Eu morava numa casinha de tábua, mas o terreno era meu”, disse ele, que também reclama da defasagem do valor do auxílio: “O aluguel tá caro, a gasolina cada vez mais aumenta, tudo tá ficando mais caro e a gente não sabe o que fazer”, declarou ele, afirmando que a promessa era de que ele e outros moradores ganhariam casas em um conjunto habitacional de Boa Vista.

Mãe de sete filhos (o mais novo de seis meses e o mais velho de 14 anos), a dona de casa Leidiane Pereira Sousa, de 32 anos, disse que atualmente precisa se virar para conseguir “bicos” e sustentar a família que vive hoje em um apartamento no bairro Buritis.

Para pagar o aluguel de onde mora, ela recebe auxílio da Prefeitura de R$ 1200. Mas o pagamento, segundo ela, chega a atrasar, a exemplo de janeiro, quando o auxílio deveria ter caído até dia 7, o que só aconteceu 21 dias depois. Situações como essa, conforme conta, comprometem o planejamento mensal, a ponto de precisar se mudar periodicamente em meio às cobranças dos locatários.

“Ninguém queria sair de suas casas para morar de aluguel. Como eu tenho bastantes filhos, fica muito ruim pra conseguir uma casa pra gente morar. Todo mês eu tenho que trocar de casa. Morávamos no Centro, tudo ficou difícil, até pra conseguir vagas nas escolas para os meus filhos. Particularmente, eles não estão estudando, estou correndo atrás, mas não estão estudando”, disse ela, afirmando que a espera pela indenização já a deixou em depressão.

Quem também vive à espera de uma resposta é o vigilante Rodrigo Santana de Medeiros, de 26 anos, que recebe mensalmente R$ 900 para pagar aluguel no bairro Cauamé, onde vive com a esposa e quatro filhos. Ele também reclama do baixo valor que lhe foi proposto para deixar o Beiral: R$ 37 mil. “Queremos uma resposta concreta do que vai ser feito com a gente […] Enquanto isso, sofremos humilhação, porque o locatário quer o dinheiro. Fica difícil porque eles ficam atrasando e não resolvem logo esse problema”, criticou.

Procurada, a Prefeitura de Boa Vista não comentou o assunto até a publicação da reportagem.