Cotidiano

Mistério envolve explosão de avião que ia para garimpo

Um avião de pequeno porte pegou fogo no momento em que decolava de uma pista localizada em uma vicinal, dentro de uma fazenda no município de Amajarí, distante 157 quilômetros da capital Boa Vista. No acidente que ocorreu às 9h30 dessa terça-feira (4), o piloto conseguiu pular da aeronave, mas duas mulheres que estavam na parte de trás do avião morreram carbonizadas. Os ocupantes ainda não tiveram oficialmente as identidades reveladas. Nas imagens cedidas pelo Comando da Polícia Militar, é possível perceber latinhas de cervejas dentre os destroços.

Em entrevista à reportagem da Folha, o comandante da Polícia Militar de Roraima, coronel Elias Santana, informou que a área onde caiu o avião é de difícil acesso. “O que sabemos nos foi repassado pelo caseiro da fazenda. Ele disse que escutou um ruído e logo em seguida um barulho da queda, depois uma explosão, e que ao sair para o local onde o avião teria caído, encontrou o piloto pedindo ajuda, com partes do corpo queimadas”, contou. 

Segundo a PM, o caseiro relatou ainda que viu outros corpos se mexendo junto aos destroços da aeronave, mas que não conseguiu ajudar, porque as chamas estavam altas. Que logo após levou o piloto para a sede da fazenda, onde ele solicitou ajuda via celular e minutos depois chegou ao local outro avião, que o socorreu.

Segundo coronel Elias Santana, o caseiro não soube informar o nome do piloto e nem passar informações sobre a outra aeronave que socorreu o sobrevivente. “Por enquanto, não sabemos se o avião que caiu estava ou não sendo utilizado para o transporte de passageiros ao garimpo, mas esse acidente aconteceu numa fazenda, em uma das várias vicinais que estão sendo usadas para o garimpo clandestino”, comentou.

Santana explicou que o comandante Cleiton, do 2º Pelotão do Amajarí, esteve no local para iniciar o relatório formal da ocorrência e observou que junto aos destroços da aeronave possivelmente tenha dois corpos carbonizados, mas não precisou se eram do sexo masculino ou feminino. “Mas, o caseiro contou que o piloto havia dito que se tratava de duas mulheres e a esposa do piloto confirmou ter ouvidos de terceiros que seu marido havia sido contratado por uma mulher para seu marido fazer o voo de duas mulheres, uma de 19 anos e outra de 20 anos. Como a aeronave virou cinzas, então para se saber a identificação, será preciso uma investigação mais aprofundada ou então o próprio piloto vai precisar revelar. Temos indícios de que esse avião estava a serviço do garimpo ilegal, mas por enquanto são somente indícios”. Até o fechamento dessa matéria, às 20h31, Santana informou que a perícia ainda não havia chegado ao local do acidente.

GARIMPO – O presidente da Cooperativa dos Garimpeiros, Josias Licata, afirmou que não vai se manifestar porque a aeronave que caiu nessa terça-feira não tem nada a ver com o garimpo. “Também não tem nada a ver com o nosso pessoal, inclusive as pessoas envolvidas no acidente não fazem parte da atividade garimpeira. Era coisa de fazendeiro e averiguamos que o piloto estava em Pacaraima e foi para o Amajarí. 

Piloto está hospitalizado e passa bem

 A reportagem entrou em contato com o pai do piloto, que esclareceu que não gostaria de se manifestar sobre o acidente. Em nota enviada à equipe, a Direção Geral do HGR (Hospital Geral de Roraima) informou que o paciente deu entrada na Unidade na tarde desta terça-feira (4), e, de imediato, foi encaminhado para atendimento médico especializado no GT (Grande Trauma) do hospital.

Conforme a Direção Geral do HGR, o piloto teve um ferimento no braço e algumas queimaduras na região da cintura, e segue em observação, com o estado de saúde estável e sem risco de morte.

Dois helicópteros apreendidos e 20 pessoas detidas na região 

No mês de outubro do ano passado, também no Amajarí, 20 pessoas foram detidas e dois helicópteros apreendidos, além de produtos, dentre eles mais de 3,6 mil litros de combustível. A Companhia Independente de Policiamento Ambiental (Cipa), da Polícia Militar, descobriu que se tratava de um acampamento que guardava produtos ilegais, que eram levados para um garimpo clandestino, e logo que chegaram ao local avistaram uma aeronave decolando nas proximidades. Na hora da abordagem, notaram que outro helicóptero também estava em serviço de decolagem. 

Os policiais fizeram buscas nas imediações com auxílio de um drone com câmera de alta definição e constataram que a cerca de 300 metros de distância do acampamento existia um terceiro helicóptero escondido numa clareira em meio à mata, numa área de difícil acesso. Como o efetivo policial era pequeno, retornaram para o local do acampamento e pouco tempo depois o helicóptero decolou e fugiu do local.

Durante as buscas aos pertences dos garimpeiros, foram encontradas duas armas de fogo, sendo uma pistola Taurus 138, calibre 380, sem numeração, com coldre, carregador e mais seis munições; uma espingarda calibre 28; 155 munições de calibres variados, além de R$ 11.994,40. Também joias; mantimentos e bebidas; geradores de energia; GPS; rádio comunicador; botijas de gás; ferramentas; compressor; bomba d’água; balanças de precisão; televisores; fogões; freezer; geladeira; roteador; tapetes; motosserra; inúmeras ferramentas para conserto de aeronaves; carrinhos para taxiar aeronaves; fones de ouvido para serem usados em aeronaves; bateia; carpete de garimpo; cem metros de mangueira utilizada em dragas; carregador de baterias; aparelhos celulares; pepitas de ouro; cartões bancários; credencial de piloto comercial expedida pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), um helicóptero e uma caminhonete Chevrolet/S-10. (E.R.)