Cotidiano

Mesmo em tempos de crise, lojas contratam temporariamente

Economista acredita que quem trabalhou na época da campanha eleitoral colaborou para que comércio não sentisse crise

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

Com o final do ano se aproximando, chegam as festas, as confraternizações e aquecimento no comércio que resulta em contratações temporárias para lidar com a demanda elevada. Mesmo diante de uma crise política e financeira, os comerciantes de Boa Vista optaram por investir nas contratações para atender bem o fluxo de clientes.

Maciel Lima, gerente de uma loja de artigos variados, afirmou que aumentou o quadro de funcionários do estabelecimento em 20% e que a mesma porcentagem foi usada como base de contratações temporárias no final de 2017.

Lima se mostrou confiante para as vendas de final de ano, mesmo com o atraso do pagamento dos salários dos servidores estaduais. “Nós ficamos meio receosos, mas o mês começou bem, os dados são positivos e estamos acreditando e apostando. Estou otimista e acredito que as vendas serão melhores do que no ano passado”, disse.

Se Maciel Lima não se intimidou por conta dos atrasos nos pagamentos dos servidores, o mesmo não pode ser dito de Leonardo Rodrigues, gerente de uma loja de roupas, que afirmou ter sentido o impacto desde setembro. Mesmo assim, Rodrigues optou por fazer um investimento nas contratações similar ao de 2017. “Contratamos quatro funcionários e esperamos que as vendas sejam bem melhores que as do ano passado e cresça ao menos 30%. Estamos praticamente na metade do mês de dezembro e as vendas não subiram o esperado”, relatou Leonardo Rodrigues.

O Sistema Nacional de Empregos (Sine) apresentou um aumento na oferta de vagas de emprego em comparação a 2017. Neste ano, 177 vagas surgiram de 1º de outubro a 10 de dezembro. No mesmo período do ano passado 135 vagas foram disponibilizadas, sendo o comércio e setores administrativos os setores que mais abriram oportunidades de contratações.

O que pode soar irônico é que o Estado vive uma crise, depende de contracheque e há dois meses os servidores estaduais, com exceção da educação e saúde, não recebem os salários e ainda assim há aumento nas contratações. O economista Dorcilio Erik Souza explicou que estes setores podem ainda não ter sentido o impacto porque este foi um ano de política, em que muita gente ganhou dinheiro por fora, trabalhando nas campanhas e talvez o comércio ainda não tenha sentido todo o impacto.

“Confecções, calçados e eletrônicos são os segmentos mais prováveis para trocas de presentes, principalmente, para este período do ano. Então por mais que estejamos vivendo uma crise, por mais que a gente tenha o atraso no pagamento dos servidores, este segmento não sente tanto o impacto. Haverá uma diminuição de vendas, mas não ao ponto de impedir as contratações temporárias”, declarou.

Apesar disto, o economista afirmou que muitos lojistas não ampliaram as compras de estoque (prática comum neste período) porque já esperavam que a economia não estivesse tão aquecida neste momento. Em outros setores, o impacto já pôde ser sentido e não haverá contratações temporárias, como na construção civil, na venda de automóveis e nas olarias.

“O comércio local ainda não sentiu o total impacto desta anomalia que está ocorrendo em nossa economia local por causa das pessoas que ingressaram nas campanhas políticas e tiveram acesso a uma renda temporária, mas o mês de novembro já castigou muitos empresários e o mês de dezembro também já está castigando”, explicou o economista.

O que é necessário para um temporário ser efetivado?

As contratações que ocorrem no final de ano são pertinentes para este período, mas sobrecarregam as folhas de pagamento quando as festas de dezembro passam. Por isso os lojistas precisam decidir se efetivam os temporários ou não.

Em janeiro é certo que contratos se encerram, mas não obrigatoriamente os contratos temporários. Os gerentes podem optar pela substituição de funcionários e decidir finalizar o contrato com um funcionário veterano que já não esteja correspondendo às expectativas da empresa e assim efetivar um temporário que se destaque.

“Não existe mais espaço para funções hierárquicas dentro de uma empresa. O que o empresário quer? Não é segredo para ninguém que o objetivo de uma empresa é obter lucro em troca do investimento feito. Quando uma pessoa é contratada, o esperado é que esta pessoa tenha uma produção bem maior em relação ao que recebe”, explicou o economista Dorcilio Erik Souza.

Ou seja, um contratado temporário precisa produzir de uma forma que justifique a sua incorporação ao quadro efetivo dentro da empresa. De acordo com Souza, é necessário pró-atividade, leitura do momento que a economia atravessa e ser “parceiro” da empresa. “Qualquer pessoa que busca uma vaga temporária para se tornar efetivo, o requisito básico que precisa ter é compromisso com a empresa e pró-atividade, ou seja, exercer a função além do que foi contratado porque passa uma boa imagem para o empresário”, recomendou. (F.A)