FORTE ESTIAGEM

Incêndios florestais atingem Uiramutã

Município tem apenas dois brigadistas e governo do Estado ainda não enviou seletivados

Fogo nas serras do Uiramutã; faltam brigadistas para combater os focos de incêndio
Foto: Amilcar Júnior
Fogo nas serras do Uiramutã; faltam brigadistas para combater os focos de incêndio Foto: Amilcar Júnior


Em menos de uma semana, a Defesa Civil já detectou mais de 10 grandes focos de incêndio no Uiramutã, município ao Norte de Roraima. O fogo atinge principalmente as regiões de mata no topo das serras. O difícil acesso dificulta o combate.

Brigadistas da Defesa Civil municipal e do Prevfogo – do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) – montaram uma base na sede do Uiramutã, mas o contingente não é suficiente para combater as queimadas, pois o município tem hoje apenas dois brigadistas e o Prevfogo mandou somente sete combatentes ao Uiramutã.

A estiagem e os ventos fortes fazem o fogo se alastrar rapidamente na região das serras e no cerrado. Os focos de incêndio geralmente começam com a queima de roças por parte dos indígenas sem o devido aceiro, que é uma técnica utilizada para impedir que as chamas se alastrem.

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A região das comunidades indígenas Pedra Branca e Mutum são as mais atingidas pelo fogo. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê que a estiagem seguirá forte na região até o próximo mês de abril.

Serra pegando fogo em Uiramutã (Foto: Amílcar Júnior)

Coordenador da Defesa Civil no Uiramutã, Julimar Sena Ferreira disse que, mesmo com a situação de emergência, o governo do Estado ainda não enviou ao município os 15 brigadistas aprovados este ano em processo seletivo. Disse também que há equipamentos para trabalhar, mas falta contingente.

“Foi feito o seletivo e esses profissionais já assinaram até os contratos, mas até o momento não chegaram no Uiramutã, por isso nosso contingente não é suficiente para combater os focos de incêndio em toda a região, que é de difícil acesso”, explicou Julimar.

A reportagem entrou em contato com a Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femrh), mas não obteve resposta.

Julimar Sena, coordenador municipal da Defesa Civil de Uiramutã (Foto: Amílcar Júnior)

Aulas podem ser suspensas por falta d’água

A situação piora com a seca das nascentes dos rios. Os poços artesianos na sede do município e nas comunidades indígenas também já se esgotaram. Alguns diretores de escola avisaram que vão suspender as aulas, caso continue faltando água.

Para amenizar a situação, Julimar informou que a Defesa civil e a prefeitura do Uiramutã estão levando água em tonéis aos moradores de vários bairros na sede do município e às comunidades indígenas. Eles também abastecem escolas municipais, estaduais e postos de saúde.

Este mês, o prefeito do Uiramutã, Tuxaua Benísio, decretou situação de emergência no município devido à forte estiagem, mas o decreto ainda está sendo analisado em Brasília. “Só depois de aprovado, a prefeitura poderá contratar carros-pipa e comprar caixas d’água para atender a população”, informou Julimar.

Enquanto o decreto passa por análise em Brasília, a Defesa Civil do Uiramutã encaminhou um ofício ao comando do 6° Pelotão de Fronteira (PEF), do Exército Brasileiro, solicitando apoio. Julimar adiantou que os militares irão formar uma brigada para combater o fogo e também ajudar no fornecimento de água à população.

“Algumas comunidades indígenas também estão formando brigadistas voluntários. Temos que unir forças, pois os rios estão secos e os focos de incêndio surgem a todo momento”, alertou o coordenador.
A falta de água em vários bairros na sede do Uiramutã já ocorre há mais de seis meses. Este ano, o governador do Estado, Antônio Denarium, e o presidente da Companhia de Águas e Esgoto de Roraima (CAER), James Serrador, estiveram no município e inauguraram um novo poço artesiano, mas, raso, o poço já secou e a bomba d’água queimou.

Faltam brigadistas em Uiramutã

O que diz a Caer

Por meio de nota, o Governo do Estado informou que, por meio da Caer, investe em melhorias na estrutura de abastecimento de água potável aos moradores de Uiramutã.

Antes dos investimentos, o município era abastecido por apenas dois poços artesianos.

Na atual gestão, a Caer entregou, em dezembro de 2023, uma nova agência de atendimento ao público. E cinco novos poços artesianos foram perfurados e 2.500 metros de extensão de rede de água construídos.

A sede do município de Uiramutã é abastecida por sete poços artesianos, e água da barragem que vem por gravidade da serra e é responsável por 20% do abastecimento, além de reservatório elevado de 50 mil litros e ainda um reservatório semi-enterrado que armazena 100 mil litros de água tratada.

A vazão produzida dos sete poços em novembro de 2023 era de 107 mil litros/hora. Hoje, em 2024, a vazão produzida é de 76 mil litros/hora, traduzido em uma redução de 30% na produção dos poços, cerca de 40 mil litros por hora a menos.

Cinco destes poços atendem a área da central do município. Os outros dois atendem aos moradores do bairro Venezuela e da comunidade Macunaíma.

A Caer informa ainda que vai perfurar novos poços em Uiramutã.

Como forma de amenizar os efeitos da estiagem, a Defesa Civil de Roraima está realizando a distribuição de água em alguns lugares, a equipe abastece em torno de 15 mil litros de água ao dia nos poços da Caer e fazem a distribuição nos pontos críticos.

NOVOS POÇOS

A previsão de perfuração de novos poços, somente após a conclusão dos poços no município de Pacaraima e na Vila Campos Novos (Mucajaí), atualmente considerados os locais mais críticos.

Produção agrícola comprometida

A estiagem também atinge a produção agrícola nas comunidades indígenas. As roças secaram e hoje falta até farinha no município. A produção do Caxiri – bebida indígena típica da região – também foi comprometida.

Prefeitura aguarda recursos federais

A Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Uiramutã informou por meio de nota, na manhã de hoje, dia 21, que o prefeito Tuxaua Benísio está tomando todas as medidas possíveis para resolver o problema. Ele aguarda a liberação de recursos federais.

Contudo, segundo a Assessoria, Benísio já solicitou o empenho de todas as secretárias municipais para dar o suporte necessário às ações a serem implantadas, inclusive, já assinou e publicou em diário oficial, o decreto emergencial para garantir que os recursos federais possam ser aplicados imediatamente de forma transparente na contratação de brigadistas, aquisição de cestas básicas e locação de transportes.

Ainda segundo a Assessoria, a prefeitura já montou uma logística necessária para solucionar o problema. Informou ainda que no dia 20/02/2024, o secretário municipal do Meio Ambiente e Turismo, Elder Marques, esteve reunido com várias instituições parceiras: 6º pelotão de fronteira do Exército Brasileiro, brigada do Prevfogo (do Ibama), brigadistas estaduais, agentes da Femarh e da Defesa Civil municipal para tratar do plano de combate aos incêndios florestais no Uiramutã.

Conforme a Assessoria, o secretário também está buscando parceria com as organizações e comunidades indígenas para darem apoio através de seus brigadistas voluntários, enquanto o município aguarda a liberação de recursos federais.