Cotidiano

Médicos levam atendimentos gratuitos a loteamento sem posto de saúde

Projeto também contou com o apoio de dezenas de profissionais de Enfermagem e a distribuição gratuita de medicamentos aos moradores da área João de Barro

Um grupo de seis médicos realizou cerca de 250 atendimentos gratuitos à população da Área Especial de Interesse Social (Aeis) João de Barro neste domingo (26). Conhecido como Ação do Bem, o projeto também contou com o apoio de dezenas de profissionais de Enfermagem e a distribuição gratuita de medicamentos à comunidade, que ainda não possui uma Unidade Básica de Saúde (UBS).

Criada em 2010, a ocupação seria reconhecida pelo Município como Aeis três anos depois, um passo para que problemas de infraestrutura, por exemplo, sejam solucionados pelo Poder Público. Mas mesmo após 13 anos, moradores reclamam, além da falta de uma UBS, da ausência de escola e ainda problemas de segurança, abastecimento de energia e água potável, transporte público e da coleta de lixo regular que contemplem efetivamente os mais de 5.300 moradores da região.

Para se ter uma ideia, a maioria da população do João de Barro é de baixa renda e sequer tem transporte próprio. Quando precisa de um atendimento básico, o morador precisa se deslocar, por vezes a pé, em torno de uma hora para chegar à UBS mais próxima, a Aygara Motta, no bairro Cidade Satélite. É o mesmo tempo que um estudante leva para a Escola Estadual Maria Teresa Parodi, a menos distante.

Segundo a presidente da Associação do Projeto Loteamento Social João de Barro, Geice Brito, a demanda por saúde, principalmente, é grande na localidade. “É muito difícil a gente sair daqui, a pé, até a cidade para marcar uma consulta no posto. Tem que pegar um ônibus, lotação. Temos horários aqui bem restritos em relação à cidade”, disse. “A gente agradece muito por essa iniciativa”, afirmou sobre o projeto.

“Imagine que as mães têm que sair daqui às 17h e voltar às 23h com criança, bebê de colo, por praticamente duas horas a pé, porque não temos como nos locomover, porque não tem ônibus aqui pela parte da noite. A questão de saúde é muito bem vinda, porque temos muitas pessoas doentes sem condições de se locomover até um hospital, até um médico”, afirmou Odileuza Pereira, presidente da Associação dos Moradores do João de Barro.


Cerca de 20 profissionais da Saúde participaram da ação social (Foto: Divulgação)

Após o evento, moradores relataram a necessidade de o projeto se tornar fixo na localidade. “Aqui no João de Barro, a saúde é bastante deficitária. A população precisa se deslocar pro bairro mais próximo, o Cidade Satélite. Por isso, viemos pra cá para prestar assistência e levar a medicina pra perto da população”, disse o médico clínico geral Gabriel Camarão, organizador do Ação do Bem.

Dona Maria Raimunda Martins, de 64 anos, por exemplo, já precisou sair de casa à noite para o Pronto Atendimento Cosme e Silva devido à pressão alta e disse que, se não fosse a carona do genro, poderia ter um derrame cerebral. “Quando cheguei lá, minha pressão estava em 24 por 18”, lembrou ela, que procurou o Ação do Bem para se queixar de dores e sequelas de uma fratura no pé direito, ocorrida há seis anos, em casa.

Famílias inteiras procuraram o projeto, como a do agricultor Neteval Rodrigues Vaz, 55. Ele levou a esposa Raimunda Timóteo de Sousa, 58, com quem é casado há 18 anos, e a enteada Enes Maria de Sousa Silva, 36, uma cadeirante diagnosticada com paralisia do lado esquerdo do cérebro, de nascença. Enes enfrenta uma vida inteira de transtornos de desenvolvimento e a única palavra que sabe falar é “mamãe”.

A consulta com a família, cuja renda mensal é de R$ 2 mil, foi uma das que mais demoraram a acabar devido a uma série de problemas de saúde relatados e não tratados. Em comum, o clínico geral Mateus de Oliveira Lopes receitou a eles tratamentos contra parasitas em virtude do deficiente abastecimento de água na região e prestou encaminhamentos para uma UBS especializada.


Família de Enes Maria de Sousa Silva foi atendida pelo projeto (Foto: Divulgação)

“Quem tem dinheiro, não vai pro posto, vai pra uma clínica particular. A gente tem que esperar. Já faz quase dois anos pra eu operar [da vesícula], faço exame e não dá nada. Na rede pública eu não consigo”, disse dona Raimunda.

Segundo Gabriel Camarão, os pacientes atendidos pelo projeto serão monitorados. “Esporadicamente, iremos marcar para acompanharmos esses pacientes”, garantiu.