PAIXÃO PELA AVIAÇÃO

'Maior orgulho quando tinha voo para Boa Vista', relata família de piloto morto em acidente no AM

Leandro Souza fazia o percurso Manaus-Barcelos há mais de 10 anos

Leidiana Nobles, irmã de Leandro. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Leidiana Nobles, irmã de Leandro. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Uma semana após o acidente aéreo que vitimou 14 pessoas em Barcelos, Amazonas, a família do piloto roraimense, Leandro Costa de Souza, de 40 anos, que comandava a aeronave Bandeirantes no dia 16 de setembro, abriu as portas de casa para comentar o ocorrido e dar mais detalhes da vida do apaixonado pela aviação.

Leandro era casado e pai de uma menina de 5 anos, que moram em Manaus. A família, que mora em Boa Vista, conta que ele se apaixonou pelas aviação no final do ensino médio, quando, retornando da escola, via o aeroclube que funcionava nas dependências do aeroporto, por volta dos anos 2000.

“O requisito era ter um ensino médio então quando terminou o ensino médio, logo em seguida, ele ingressou na aviação. Foi para o Aeroclube de Boa Vista, curso de piloto privado, fez o teórico e depois as [aulas] práticas. Eu lembro que no horário das práticas, tinha um horário que a gente via a aeronave de instrução passar. Uma aeronave vermelha com branco”, relembra a irmã, Leidiana Nobles.

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A também médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) conta que depois do curso, Leandro trabalhou, por dois anos, como táxi-lotação para juntar dinheiro para obter a carteira de piloto em São Paulo. Até a família ajudou investindo no sonho.

Em 2007, após a carteira e outras especializações em vários estados, o piloto foi ao Amazonas em busca de emprego. Foi contratado por uma empresa de táxi-aéreo, depois por outra, onde passou a pilotar a aeronave Bandeirantes. Seis anos mais tarde, recebeu a proposta da Manaus táxi-aéreo para pilotar o mesmo modelo em voos privados.

Orgulho em pilotar para Boa Vista

Leandro (direita) com a mãe, primas e tia. (Foto: arquivo pessoal)

“O maior orgulho era quando tinha voo para Boa Vista. Orgulho em vir pilotando para a cidade dele”,

comenta a irmã de Leandro.

Isso porque, alguns raros voos da empresa tinha destino à capital de Roraima e o piloto se alegrava quando podia vir para casa. Ela também relembra que em todas as férias, Leandro vinha para Boa Vista ficar com a família e visitar todos os parentes, nem que fosse por um dia. “Sempre dizia para ele viajar para outro lugar, com uma praia”, conta Leidiana.

Apoio na pandemia

O piloto trabalhou durante a pandemia, transportando as vítimas da covid-19 dos interiores do Amazonas para Manaus após pegar o vírus. “Ele me dizia: ‘mãe, um desses corpos podia ser meu’, porque ele chegou pertinho [de falecer], ficou comprometido, o pulmão, 90%”, lembra a mãe de Leandro, Eleni.

Leidiana e Leandro em suporte a uma ocorrência hospitalar depois de pouso em Boa Vista. (Foto: arquivo pessoal)

Na época em que ficou internado, a família foi buscar ele em Manaus para trazer ao Hospital Geral de Roraima (HGR). Mesmo não tendo vaga, Leidiana, como médica e empresária de ambulância particular, forneceu todo o material e suporte para que o irmão pudesse ser tratado em Boa Vista.

“Manaus estava naquela época que faltava oxigênio. [Em Boa Vista] Ele era o que melhor respondia aos exercícios, […] chegava a ficar duas horas. A fisioterapeuta até dizia que, como ele já voava há muito tempo em aeronave não pressurizada, a pressão do pulmão respondia muito mais”, completa Leidiana.

O acidente

No último sábado, 16 de setembro, Leandro Souza e um co-piloto iriam para Barcelos (AM) levando 12 turistas de pesca esportiva. Sua saída de Manaus estava prevista para às 12h. Nesse horário, conforme conta, Leidiana estava tentando uma videochamada com ele para conversar enquanto curtia um balneário na área rural de Boa Vista.

Aeronave saiu da pista e bateu em barranco, já próximo a uma avenida. (Foto: reprodução)

“Quando eu liguei, ele abortou a chamada e em seguida eu vi o ‘digitando’. Quando ele fazia isso é porque estava ocupado com viagem. Em seguida chegou um áudio: ‘eu estou decolando, quando eu chegar eu ligo’. Por volta de 13h10 aconteceu o acidente”, relata.

A esposa de Leandro logo foi informada de um possível acidente pela empresa. No entanto, após o acidente, vídeos e fotos com informações sobre a queda de um avião, onde não havia sobreviventes, começou a circular e Leidiana viu que poderia ser o irmão. Quando estava retornando à cidade, recebeu a ligação da cunhada chorando e ali chorou junto porque já sabia da notícia.

Perícia

As informações, até o momento, é de que o mau tempo dificultou o pouso do Bandeirantes na pista do aeroporto de Barcelos. Segundo a irmã do piloto, uma rajada de vento poderia ter impedido Leandro de arremeter a aeronave, o que o fez sair da pista e seguir em direção a um barranco próximo. Com o impacto, ele teve politraumatismo.

“O avião em questão é um modelo que ele já voava há onze anos e essa rota que ele fazia [Manaus à Barcelos], também fazia há onze anos porque são empresas que fazem muito atendimento para pesca [esportiva]. No dia do acidente, ele tinha duas vezes esse essa rota. […] Ali eu via que ser a família do piloto, do comandante do voo, pesava muito”,

defende Leidiana Nobles, que informou sempre ser questionada pela experiência do irmão.

A perícia chegou ao local do acidente no domingo de manhã. De acordo com Leidiana, a previsão é de que o resultado saia em 120 dias.

Além de acreditar que ocorrido foi uma fatalidade sem culpados, a médica ainda reforçou que tudo estava dentro da legalidade: peso, aeronave, quantidade de pessoas. A Manaus Táxi-aéreo e o Governo do Amazonas também prestaram apoio e suporte às famílias das vítimas.

Realidade que não espera viver

Tanto Leidiana quanto a mãe de Leandro foram ao local do acidente, em um voo fretado pela família, na noite de sábado. “Às 16h [do domingo], a aeronave com os corpos pousou e eu fui lá para o lugar da base aérea e foi uma realidade a gente nunca espera viver”, lembra a irmã, que como médica do Samu, já presenciou a cena em outros momentos.

Na madrugada da última segunda (18), retornaram à Boa Vista para receber o corpo de Leandro, que foi sepultado no mesmo dia. Agora, sete dias depois do acidente, a família realizará uma missa de sétimo dia de falecimento na comunidade de Santa Terezinha, às 19h30, no bairro União, além de uma homenagem no local da queda do avião nos próximos dias.