Cotidiano

Mãe e filho venezuelanos se reencontram no Brasil após 2 anos sem se ver

O reencontro foi possível com a ajuda da Organização Humanitária Fraternidade sem Fronteiras

Uma campanha promovida pela Organização Humanitária Fraternidade sem Fronteiras (FSF), proporcionou mãe e filho venezuelanos se reencontraram em Roraima depois de dois anos sem ver.

A mãe, Alícia Victoria Vargas Lopes de 31 anos, disse que devido à crise no país vizinho, foi obrigada a vir embora para o Brasil em 2019, momento em que passou a morar em São Paulo. Ela seguiu com a filha caçula e deixou o mais velho, Ivan Alexander Jove Vargas, de 14 anos, com um amigo. Esse amigo acabou morrendo e o menino ficou sozinho.

A missão para fazer o reencontro de mãe e filho começou em agosto, através dos projetos “Fraternidade na Rua”, com o polo de São Paulo, e “Brasil, um coração que acolhe”, em Roraima.

Alícia desembarcou em Boa Vista no dia 13 de agosto, onde passou quase um mês hospedada na casa de uma amiga, na periferia da capital roraimense, no aguardo do momento ideal para Ivan sair de Barcelona, Anzoátegui, no litoral venezuelano, e atravessar a fronteira ao sul do país.

No dia 4 de setembro, após muitas negociações, arrecadação de verbas para enviar ao país vizinho, o menino conseguiu chegar, na companhia de um primo, até Santa Helena, cidade venezuelana fronteiriça com o Brasil.

No mesmo dia, Victoria então foi para Pacaraima, fronteira brasileira com Santa Helena, para esperar o filho atravessar a fronteira. E assim foi. Ivan chegou ao Brasil são e salvo e os dois finalmente se reencontraram.

“Choveu muito e fiquei com muito medo de ter que voltar. Mas deu tudo certo. Agora estou feliz de estar com a minha mãe, me sinto seguro agora”, disse o pequeno Ivan.

Mãe e filho passaram mais 3 meses em Pacaraima, onde ficaram acolhidos na sede de uma igreja parceira da FSF. Durante esse tempo, fizeram os trâmites de documentação exigida no Brasil e tentaram, sem sucesso, a interiorização.

Então, mais uma vez com a ajuda de doações, Alícia e Ivan conseguiram seguir viagem. Foram para Boa Vista e depois para São Paulo, onde estão morando atualmente.

“Descobri que meu filho passou o primeiro semestre de 2021 comendo, diariamente, pão e café. Isso me fez pensar que eu precisava pedir ajuda e enfrentar qualquer situação para tirá-lo da Venezuela. Em São Paulo, a Fraternidade na Rua disse que ajudaria e então eles fizeram várias campanhas para nos ajudar. Agradeço a todos por hoje eu estar novamente com meu filho ao meu lado”, disse Victoria emocionada ao lado de Ivan.

Alícia, o marido e a filha do casal, Franlys, vieram para o Brasil em 2019 para morar com um tio dela que já vivia em São Paulo. Ivan ficou no país vizinho porque a família não tinha dinheiro suficiente para que todos fizessem a viagem.

“Nós, do projeto ‘Brasil, um coração que acolhe’ ficamos extremamente felizes com o contato do Fraternidade na Rua, de São Paulo, e de poder ajudar essa mãe com o filho em Roraima. Seguimos as diretrizes internacionais de acolhimento a refugiados e migrantes, tratamos todos igualmente e sabemos que um fluxo deve ser seguido, afinal, muitas famílias estão na mesma situação. Mas podemos ajudar com orientações, acolhimento, alimentação e transporte, e foi o que fizemos. Somos gratos a todos que ajudaram”, finalizou Arthur Dias, coordenador do Projeto em Roraima.

Hoje, Victoria e Javier estão desempregados. A família vive de aluguel e segue sendo acompanhada de perto pelos voluntários da FSF de São Paulo.

Projeto ‘Brasil, um coração que acolhe’

O projeto foi criado em outubro de 2017, após o aumento significativo do fluxo migratório da Venezuela para o Brasil, via Roraima. Na época, venezuelanos entravam diariamente no Brasil, e passavam a viver em situação de vulnerabilidade, sem casa e sem comida, nas ruas, principalmente, de Pacaraima e Boa Vista, onde estão as frentes de atuação do projeto.

Hoje o projeto acolhe, em Roraima, quase 2 mil refugiados e migrantes, com moradia, alimentação, serviços de proteção, atividades para as crianças e capacitações para adolescentes e adultos. São cinco frentes de trabalho, sendo três Centros de Acolhimento (Abrigos) em Boa Vista, um Centro de Referência e Capacitação em Pacaraima e o Setor de Interiorização que atua nos dois municípios.

A FSF é uma organização humanitária e não-governamental, com sede em Campo Grande (MS) e atuação brasileira e internacional, com atuação em sete países, em alguns dos lugares mais pobres do planeta, com esperança e profundo desejo de ajudar, acabar com a fome e construir um mundo de paz.

A instituição possui 68 polos de trabalho, mantém centros de acolhimento, oferece alimentação, saúde, formação profissionalizante, educação, cultivo sustentável, construção de casas e ainda, abraça projetos de crianças com microcefalia e doença rara. Todos os trabalhos são mantidos por meio de doações e principalmente pelo apadrinhamento.