Cotidiano

Levantamento da Folha revela 161 homicídios em cinco meses

Apuração foi feita pela editoria de Polícia da Folha com base em boletins de ocorrência registrados nos Distritos Policiais

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

A Folha contabilizou 250 mortes entre setembro de 2018 e janeiro de 2019 com base em boletins de ocorrência. Destas, 161 foram homicídios. Em setembro, houve o maior número de registros, com 47 assassinatos. Já em outubro, foram 34 casos. No mês seguinte, 36, e 26 em dezembro, quantidade que se repetiu em janeiro deste ano.

A Delegacia Geral de Homicídios (DGH) não soube informar quantos inquéritos de assassinatos estão sem solução. Solicitamos os dados e uma entrevista com um responsável pelos casos no último dia 6, mas até o fechamento desta matéria o levantamento não foi realizado. De acordo com a assessoria da Polícia Civil, isso precisaria ser feito de forma manual e o efetivo está reduzido. Já sobre a entrevista, fomos informados que a pessoa que poderia falar sobre o assunto está de férias.

A falta de solução para assassinatos pode até cair no esquecimento dos responsáveis em investigar, mas não para os familiares que precisam conviver com a dor da perda e a impotência diante da falta de Justiça. Esse é o caso de Nilvan Feitosa de Lima que perdeu o pai, Luiz Reinaldo de Lima, há seis anos e ainda não tem respostas sobre quem são os culpados pelo assassinato.

Na noite de 30 de setembro de 2012, Nilvan estava com o pai em uma festa no bairro Jóquei Clube. Às 3h da manhã, Luiz resolveu ir para casa e como o local da festa era próximo, resolveu retornar de bicicleta.

Às 7h da manhã, Nilvan foi avisado que o pai sofreu um atentado e estava muito ferido. Luiz havia sido largado em um terreno abandonado na divisa entre os bairros Jóquei Clube e Cinturão Verde, com muitos ferimentos graves, mas ainda vivo.

Ele foi atacado por um grupo que amarrou seus pés e mãos e desferiu 15 golpes de faca no peito. Nenhum atingiu seu coração, mas os pulmões foram perfurados. Após ser encontrado pela família, Luiz foi levado ao hospital, mas resistiu por apenas 24 horas.

“A partir daí, começamos uma luta. Duas pessoas foram apreendidas como suspeitas, mas logo em seguida, em menos de quatro horas, foram soltas porque não tinha provas. Naquela época, a polícia estava com vários problemas: não tinha combustível para fazer diligências, não tinha papel para fazer ocorrência nem pessoal. Estava um caos”, declarou Nilvan.

Segundo ele, os familiares passaram meses cobrando repostas. Chegaram a se encontrar com o delegado geral, com o que atendeu o caso e também com o secretário de Segurança Pública da época, mas o caso nunca foi solucionado e os culpados ainda estão impunes.

“Depois de algum tempo, passamos a ir lá de vez em quando para saber como estava, mas o caso simplesmente morreu, não tem mais, não estão investigando, ninguém sabe mais de nada”, lamentou Nilvan.

Outra pessoa, que não quis se identificar, procurou a Folha para relatar de forma breve um caso semelhante. Segundo a denunciante, seu irmão foi assassinado em 2015 e até agora só um responsável havia sido preso, mas acabou sendo morto dentro da Cadeia Pública. Já o mandante do crime, continua impune.