Cotidiano

Infectologista afirma: “Ninguém quer intubar ninguém”

O médico Joel Gonzaga foi quem encaminhou o paciente para internação no HGR

Depois da notícia que um sobrinho teria impedido o tio de ser intubado no Hospital Geral de Roraima (HGR) o médico que foi responsável pelo encaminhamento do paciente para internação na unidade, Joel Gonzaga, concedeu entrevista à FolhaFM nesta quarta-feira, 7.

Segundo Joel, a história do paciente é complicada e inicia antes mesmo do idoso ir para uma unidade de saúde.

Ele explica que foi chamado no dia 05 de abril para avaliar uma situação de insuficiência adrenal do paciente, ou seja, a falta de produção de hormônios pelas glândulas adrenais. O profissional afirma que o sintoma é um reflexo da aplicação de corticoides no paciente.

“Nós temos uma colega que está adotando alguns procedimentos sem embasamento científico, conforme análise dos CRM’s, e sem o devido cuidado. Para aplicar corticoide é preciso estar em ambiente hospitalar. Eu fui chamado para avaliar alguns pacientes que estão recebendo uma carga de corticoide, que pode causar alguns problemas. Eu não vou questionar se o CRM acertou ou errou em afastar a colega por 60 dias, mas alerto que no caso de algumas medicações, é preocupante que a gente faça uma aplicação destas fora de um ambiente hospitalar”, declara.

Sobre o pedido de intubação, o médico informou que não estava de plantão quando foi decidida a proposta. “A família tem autonomia de se negar. Eu não tenho parâmetros para dizer que, se na hora que foi feita essa proposta, ele estava para intubar. Isso é uma decisão do médico que está de plantão e eu concordo 100% com a decisão dos colegas de plantão. Eles têm autonomia e são especialistas”, completou.

“Nós tomamos a medida correta de encaminhar para o HGR. Ele tinha sinais de intoxicação pela medicação e já evoluindo para síndrome de cushing”, disse.

O infectologista reforçou que o procedimento de intubação é extremo e não é a primeira opção adotada pelos profissionais de saúde, sendo priorizada somente quando é necessário.

“O que eu quero dizer é que ninguém quer intubar ninguém. É um procedimento extremo, de quem tem risco de morrer se não ter feito essa medida. Eu sinto muito, eu converso com a família, digo que nesses casos não tem mais solução. O risco de morrer é grande”, disse.

O profissional fala ainda que tem pacientes, principalmente os idosos, que tem uma capacidade maior de suportar mais tempo de serem intubados, possivelmente por eles já estarem adaptados com uma perda na capacidade pulmonar.

“Vários pacientes se recusaram a ser intubados e atravessaram a fase aguda, se recuperando lentamente. Mas a gente também não sabe que paciente vai sair ou não. Temos que zelar pelo paciente. Neste protocolo que é seguido dentro do HGR e na maioria dos hospitais do Brasil, se considera que a intubação precoce é uma forma de proteger o paciente, para que o pulmão possa se regenerar”, finalizou.

Sesau – A Secretaria Estadual de Saúde informa que o paciente deu entrada na unidade de saúde após receber atendimento em casa de uma médica que prescreveu uma superdosagem de corticoide.

Esclarece que o paciente estava com pneumomediastino, com indicação de intubação, mas como ele está respondendo bem aos tratamentos não precisou ainda passar pelo procedimento, apesar de ainda não ter saído da zona de risco.

A solicitação de intubação é realizada conforme critério médico de acordo com a avaliação do quadro de saúde do paciente.

A Sesau reforça que a família é consultada e comunicada sobre o procedimento e que as informações sobre o caso só podem ser repassadas à família em respeito ao sigilo médico.

Confira a entrevista na íntegra: