Cotidiano

Imigração de venezuelanos faz dobrar atendimentos nos hospitais de Roraima

Crescimento reflete principalmente no HGR, maternidade e Hospital de Pacaraima, que estão sobrecarregados

A crise na Venezuela fez de Roraima um dos principais destinos da população daquele país. Esta imigração fez crescer significativamente o número de atendimentos aos venezuelanos nas unidades de saúde roraimenses sem que o Estado receba nenhum recurso financeiro da União em contrapartida. Para se ter uma ideia, os acolhimentos realizados no primeiro semestre deste ano superaram a quantidade de atendimentos de todo o ano de 2015.

Referência em atendimentos de média e alta complexidade, o HGR (Hospital Geral de Roraima) concentra o maior número de atendimentos de venezuelanos. Comparando-se todo o ano de 2015 ao primeiro semestre de 2016, houve um aumento de 102%. Foram 544 venezuelanos atendidos no Pronto Atendimento Airton Rocha até junho deste ano, contra 531 acolhimentos em todo o ano passado. No total, houve 129.972 e 75.864 atendimentos, respectivamente, de pacientes de todo o Estado, países e estados vizinhos.

No Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, no bairro São Francisco, zona Norte, em agosto, o número de atendimentos de emergência já superavam os números do ano passado: foram 453 venezuelanas atendidas em 2015, com 308 internações, contra 478 atendimentos em 2016, com 275 internações.

Se o impacto tem sido grande na Capital, no Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, Norte do Estado, nos sete primeiros meses do ano foram atendidos 3.200 venezuelanos no Hospital Délio de Oliveira Tupinambá, o que corresponde a 27% da população do município. Esta quantidade de atendimentos variava de 40 a 60 atendimentos nos últimos três anos, de acordo com informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Mais de 90% das unidades de saúde do município estão localizados dentro de áreas indígenas, o que direciona a demanda de estrangeiros para a sede.

Além da imigração, que afeta diretamente o aumento na busca por atendimento pelos venezuelanos, existe ainda a fragilidade da vigilância epidemiológica no país vizinho, que resulta em um aumento no registro de doenças endêmicas importadas. Um exemplo é a malária, que entre 2015 e 2016 (dados atualizados em 15 de agosto) teve um crescimento de 153% de pessoas infectadas em outras regiões – a maioria na Venezuela – e registradas aqui no Estado. Estes casos, por sua vez, vão parar nas portas de urgência e emergência do Estado.

Além disso, uma epidemia de malária tem cruzado a fronteira e contribuído para o crescimento de mais de 273% neste ano. Doenças como HIV/AIDS, Tuberculose e Leishmaniose estão na lista de enfermidades que mais acompanham os venezuelanos. “Ao analisar os casos de notificação compulsória, observamos que os agravos de maior relevância estão em pessoas que relataram morar na Venezuela”, complementa o documento.

Maioria dos casos de estrangeiros é grave

Embora exista uma demanda significativa para atendimento ambulatorial, a maioria dos atendimentos prestados a pacientes estrangeiros – especialmente venezuelanos – é para casos de urgência e emergência, o que pode ser explicado pela deficiência da atenção primária, ou seja, dos serviços de saúde preventiva. Na maternidade, por exemplo, por falta de um pré-natal adequado, a maioria das gestantes venezuelanas chega com quadro agravado e, em muitos casos, de alto risco.

O secretário estadual de Saúde, César Penna, explicou que a superlotação nas unidades de saúde, agravada pelo atendimento a estrangeiros, tem causado uma insuficiência financeira no Estado para a cobertura total dos atendimentos da população como um todo. “Além da falta de financiamento para cobertura dos atendimentos, esbarramos em questões como o ‘abandono’ de pacientes nos hospitais, dificuldades, como a falta de documentação ou identificação inexistente, dificuldade de articulação com o Consulado Venezuelano no translado de corpos, risco de transmissão de doenças já erradicadas, além da ocupação de leitos por tempo prolongado, o que acaba refletindo no atendimento prestado à população como um todo”, enumerou.

Governo pede apoio da União para garantir atendimentos

Em virtude do aumento na quantidade de estrangeiros que recebem atendimento nos hospitais em Roraima, após solicitação do Governo de Roraima e intermediação da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP) do Ministério da Saúde, técnicos do órgão vieram a Roraima e visitaram hospitais em Boa Vista e Pacaraima durante o mês de setembro para verificar de perto a situação nas unidades.

As reuniões iniciaram em Boa Vista, com a apresentação de dados e, sem seguida, partiram para as visitas técnicas nas unidades. Em uma reunião de avaliação, os técnicos afirmaram que levarão os relatórios para análise do Ministério, que se comprometeu a analisar os dados. O Governo aguarda posicionamento do Ministério da Saúde sobre uma possível ajuda nos atendimentos em saúde.

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