Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Roraima (Sesau), o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) registrou, no primeiro semestre deste ano, o total de 931 partos em jovens indígenas e não indígenas entre 12 e 18 anos. O número é 45% menor do que os 1.686 registrados durante o mesmo período de 2015. Apesar da redução, o número ainda é exorbitante para o conselheiro tutelar de Defesa e Proteção da Criança e do Adolescente do Território II, Franco da Rocha.
Para o conselheiro, o assunto precisa ser trabalhado com mais informações e orientações aos adolescentes, tanto no âmbito familiar, quanto na educação escolar. Rocha relatou que os pais já não conversam mais com os filhos sobre as consequências dos atos e ações, mas que é necessário informar aos adolescentes orientações sobre o risco de gravidez precoce e as doenças sexualmente transmissíveis (DST).
“Às vezes, essa adolescente é criada pela avó ou outro familiar mais velho, que não sabe mais falar desse assunto. Em outros casos, os próprios pais não orientam ou não aconselham”, disse. Segundo Rocha, a maioria dos jovens aprende sobre sexualidade com os próprios colegas da escola ou pela internet, que trouxe facilidade de acesso à sexualidade e erotismo.
“O número ainda está elevadíssimo, são necessárias medidas mais concretas para que haja melhores índices”, frisou, acrescentando que políticas públicas focadas no planejamento familiar seriam fundamentais para a educação e que a ausência precisa ser preenchida. “As consequências de uma adolescente grávida são gravíssimas. Ela pode deixar de estudar, pode ser excluída do grupo que faz parte, e isso pode provocar depressão ou outros problemas”.
Franco da Rocha relatou que, durante os atendimentos que realiza com crianças e adolescentes, é ressaltado aos pais que assumam a responsabilidade de educar os filhos para qualquer tipo de assunto, seja gravidez, uso de drogas ou envolvimento com o crime. O diálogo deve começar no seio da família para que então possa ser discutido em outros ambientes frequentados pelos jovens.
Durante atendimento a adolescentes grávidas, o conselheiro produz um relatório encaminhando as jovens para acompanhamento psicológico ou com assistente social, a fim de que sejam abordadas as noções básicas de educação sexual e as consequências de uma vida sem informação. “Esse acompanhamento também é realizado com os familiares, para que possamos trabalhar o núcleo de forma completa. Sabemos que qualquer possível problema, seja qual for, envolve a família”, ressaltou.
PREFEITURA – A Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) ressaltou que o programa Família que Acolhe é a política pública de cuidados com a primeira infância e gestantes, e tem atendido mais de cinco mil mulheres e famílias desde sua criação. Ele oferece serviços e ações para o estudo e enfrentamento da situação por meio de palestras, planejamento familiar e acompanhamento médico.
“No entanto, para reduzir estes indicadores se requer uma mudança de condutas e cultura. É um desafio que leva algum tempo. O município está atento e acompanhando esta situação juntamente com parceiros especializados”, declarou.
Por nota, a PMBV informou que a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) desenvolve diversas ações de orientações com o objetivo de informar e sensibilizar jovens sobre saúde sexual e métodos contraceptivos para evitar a gravidez não planejada. “A prefeitura reforça que a realização dessas ações nas Unidades Básicas de Saúde, nas escolas e a distribuição de preservativos têm contribuído para a queda no número de adolescentes grávidas em Boa Vista”.
Conforme repassado pelo município, adolescentes grávidas têm seus direitos garantidos, como a realização do pré-natal gratuito e um pacote de serviços, como exames, preventivos, ultrassons, consultas com enfermeiros e médicos, com prioridade de atendimento. “As encaminhadas para Família que Acolhe têm tudo isso e mais as atividades e benefícios que o programa oferece”.
Além disso, a PMBV informou que após o nascimento, a criança passa a ser atendida na puericultura, que se refere ao acompanhamento que se faz com a criança, desde o nascimento até os cinco anos de idade, e que este serviço está presente tanto na rede básica quanto no Família que Acolhe.
GOVERNO – A Folha entrou em contato com o Governo do Estado, mas até o fechamento da matéria, às 18h, não obteve resposta. (A.G.G)