Cotidiano

Garimpeiros estariam sendo vacinados contra covid em troca de ouro

Indígenas teriam denunciado à Hutukara Associação Yanomami que uma funcionária do DSEI-Y estaria aplicando doses em garimpeiros em troca de ouro

A Hutukara Associação Yanomami denuncia que garimpeiros estariam sendo vacinados em troca de ouro, por profissionais de saúde que atuam na Terra Yanomami, localizada nos estados de Roraima e Amazonas.

Em ofício encaminhado na semana passada ao DSEI-Y (Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami), à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e ao Ministério Público Federal (MPF-RR), a Hutukara pede respostas para essa situação. 

No documento, assinado pelo vice-presidente da Hutukara, Dario Kopenawa, a entidade pontua que, em janeiro, na região de Homoxi, uma das mais afetadas pelo garimpo, indígenas denunciaram que uma funcionária do DSEI-Y estaria aplicando doses em garimpeiros em troca de ouro. Uma liderança denunciou à organização que na comunidade de Uxiu um técnico de enfermagem havia levado as vacinas destinadas aos indígenas para um acampamento de garimpeiros nas proximidades. 

“Essas informações vieram de lideranças indígenas desses locais. Nessas regiões é bem comum a troca de materiais por ouro, como remédios e, infelizmente, às vezes esses profissionais acabam se deixando levar”, lamenta o vice-presidente da Hutukara, Dario Kopenawa. Ele disse ainda que “os invasores [garimpeiros] também estão sendo acusados de disseminar notícias falsas sobre a vacinação”. 

Segundo Dario Kopenawa, é comum a queixa por parte dos yanomami de que materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estariam sendo desviados para atendimento aos garimpeiros.

Ele afirmou que em julho de 2020, já havia sido encaminhado ao DSEI-Y, Sesai e MPF o depoimento de uma yanomami da comunidade de Kayanau se queixando da piora no estado da saúde em sua comunidade e mencionando o desvio de medicamentos por um funcionário do DSEI-Y que atendia no polo base local.

“Tal prática, recorrente, não só prejudica o atendimento regular dos indígenas, que já sofrem com a falta de materiais medicamentos nos polos bases, como configura crime contra a administração pública na modalidade de peculato (artigo 312 do Código Penal)”, ressaltou.

SESAI/DSEI-Y – A reportagem entrou em contato com a Sesai/DSEI-Y, que enviou a seguinte nota:

“A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, informa que se reuniu com lideranças indígenas, coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami e representantes do Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI), em Boa Vista, no dia 5 de abril, para ouvir as demandas sobre os serviços de saúde básica prestados aos indígenas nas aldeias.

Esclareceu que a Sesai sempre manteve diálogo aberto com todas as etnias e se mantém empenhada em solucionar os problemas apresentados para prestar um melhor atendimento à população indígena.

Informou que a denúncia sobre a suposta troca de vacinas contra a Covid-19 por ouro, envolvendo profissionais de saúde e garimpeiros, foi apresentada à Sesai e à coordenação do DSEI-Yanomami, o Distrito está averiguando internamente, onde ocorreu o fato, e quais profissionais estariam envolvidos.

Que em caso de confirmação da suspeita, o DSEI Yanomami tomará medidas administrativas, como desligamento dos funcionários, e apresentará uma denúncia formal ao Ministério Público Federal para ação penal cabível. “O Distrito Yanomami não compactua com a comercialização de insumos de saúde em troca de qualquer benefício entre garimpeiros e profissionais”.

MPF – O Ministério Público Federal informa que já existe investigação em curso para apurar denúncia de desvio de doses de vacinas destinadas a indígenas. Após as investigações, tomará as medidas cabíveis para a responsabilização das pessoas envolvidas.