Depois de mais de 30 anos de expectativa, Devanir da Silva, hoje com 67 anos, finalmente viu seu sonho se tornar realidade. Na quarta-feira, 15, a Folha publicou uma matéria abordando o drama pessoal da aposentada, que procurava a filha caçula, com a qual perdeu contato ainda bebê, antes de mudar-se de Roraima para o Mato Grosso do Sul (MS).
“Depois que a Folha publicou a matéria, no outro dia encontramos a minha filha. Ela me ligou e conversamos por horas. Estou até agora emocionada e muito feliz por ela saber da minha existência, porque a mãe adotiva fez questão de contar toda a história para ela desde cedo”, disse Devanir.
Mesmo mantendo contato apenas por telefone, por conta da distância, a aposentada afirmou que a alegria foi ainda maior porque descobriu que possui mais quatro netos. “Ela conversou muito comigo, com os irmãos dela e depois começamos a trocar mensagem. Ela me mandou foto da família toda, inclusive dos meus netos. Ela parece muito com a irmã mais velha. Até agora ainda estou sem palavras”, prosseguiu.
A Folha conseguiu o contato da filha de Devanir após a publicação da matéria. Antes, ela se chamava Joana Darc. Após ser adotada, ainda com meses de idade, a nova mãe a registrou como Michele Gonçalves Rios.
“Minha mãe adotiva contou toda a minha história de vida ainda criança. Nunca me escondeu que eu era adotada e que minha mãe biológica havia me doado por não ter condições financeiras. Eu sempre tive curiosidade e vontade de saber quem era a minha mãe verdadeira, mas me faltou atitude. Hoje eu estou muito feliz que isso tenha finalmente acontecido”, disse a filha.
Hoje com 33 anos, Michele ajuda o marido em uma tapeçaria, de propriedade do casal, possui quatro filhos e continua residindo em Boa Vista. Ela contou à Folha que uma amiga ligou após ler a matéria. “Eu ainda não tinha visto. Uma amiga minha da igreja, que sabe toda a minha história, me ligou e falou sobre a matéria e que minha mãe estava me procurando. Quando li, não acreditei. Comecei a chorar imediatamente. Peguei o número que estava divulgado e liguei na hora. A ficha até agora ainda não caiu”, afirmou.
Michele disse que não sabe quando irá visitar a mãe e os irmãos no Mato Grosso do Sul, mas pretende ir em breve com toda a sua família. “Não temos uma boa condição financeira e as passagens são muito caras. Não quero ir só, quero levar meus filhos e meu esposo. Vou me organizar e ver o que posso fazer, mas estou ansiosa. Quero muito conhecer minha família que não tive a oportunidade. Liguei hoje para minha mãe adotiva e contei tudo o que tinha acontecido. Ela também ficou muito feliz”, disse.
O CASO – Mais de 30 anos se passaram desde que Devanir da Silva deixou Roraima e retornou para o Estado onde nasceu. Ela partiu com sete filhos após ficar viúva no Município de São João da Baliza, Sul do Estado, e procurou a Folha para pedir ajuda a fim de encontrar a oitava filha, a caçula, que ficou em Roraima morando com a ex-vizinha.
“Eu cheguei a registrar minha filha e criei até uns seis meses de vida. Como fiquei viúva, estava vivendo uma situação muito complicada de vida, criando oito filhos sozinha e sem condições. Tudo era muito difícil naquela época, principalmente para uma mãe solteira. Joana nasceu com vários problemas de saúde e eu vivia no hospital com ela, o que tornava tudo ainda mais complicado”, narrou a senhora.
Os problemas de saúde de Joana e as dificuldades encontradas por Devanir começaram a chamar a atenção dos vizinhos. “Foi quando uma senhora chamada Odete, minha vizinha na época, me fez uma proposta: ela queria criar Joana. Neguei a princípio, mas os problemas de saúde de Joana pioraram e mudei de ideia. Depois de quase dois anos, quando estava vindo embora para o Mato Grosso do Sul, pensei em roubar a criança de volta, mas ela já havia se apegado com a nova mãe, eu não poderia fazer isso, já que ela estava sendo muito bem cuidada”.