ESTIAGEM

Fogo destrói pasto, cercas e até as casas de colonos no Trairão

Colonos relataram à FolhaBV como está a rotina dos moradores da região após os incêndios

Donizete mostra as áreas afetadas pelo incêndio (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Donizete mostra as áreas afetadas pelo incêndio (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Em Estado de Calamidade, o município de Amajari vem enfrentando grandes transtornos por conta de incêndios e seca, resultado do Período de Estiagem que assola todo o estado. No Trairão, região de colonos, as últimas semanas foram de desespero por conta das chamas.

Pasto, cerca, animais e as casas de alguns moradores não resistiram ao fogo alto. Pela estrada que dá acesso à vila da região, é possível ver as áreas afetadas, como é o caso da fazenda do colono Donizete Lopes.

Donizete perdeu o pasto no incêndio (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Ele relata que não teve tantos prejuízos quanto os moradores das áreas mais remotas, mas todo o pasto que é usado para alimentar os bezerros que dão sustento para a família foi levado pelo fogo.

“Quando o fogo ‘arrochou de lá pra cá’, a gente querendo sem saber o que fazer correu para a rua. O fogo era alto e a fumaça cobriu tudo, não sabíamos se a casa tinha ido junto ou não”, relata Donizete.

Incêndios no Trairão iniciaram há duas semanas (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

A área foi uma das primeiras a ser atingidas pelos incêndios, por ser cerca de 70 km distante da sede do município os próprios moradores se reuniram para controlar o fogo. De longe é possível ver o gado de Donizete procurando pasto para se alimentar.

Animais procuram por pasto na fazenda do colono (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Seguindo a estrada do Trairão, a situação só se agrava. Cerca de 15 km após a casa de Donizete encontramos uma das áreas mais afetadas pelos incêndios, na beira da estrada é possível ver a carcaça de um boi, que não conseguiu escapar da chamas.

Carcaça de boi é encontrada na beira da estrada no Trairão (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

A colona Hilda Alves, de 58 anos, está doente por respirar muita fumaça. Na última semana a fazenda dela e do marido incendiou, perderam o pasto e também as cercas que delimitam a área da propriedade. Além da fraqueza e da dificuldade de respirar, a colona lamenta do trabalho que o marido terá controlar o gado, que tenta fugir para encontrar pasto bom para se alimentar.

“Eu não sei como que vai ficar a nossa situação, porque em poucos dias ja estamos sofrendo. E o inverno ta longe para chegar, eu nunca passei por isso”, relata dona Hilda, preocupada.

Hilda está doende por inalar fumaça (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Hilda mora na vicinal 2 da região do Trairão há quase 30 anos, há dois anos ela teve que fazer uma cirurgia e relata que depois disso não foi mais a mesma. Inalar muita fumaça intensificou as dores no corpo de Hilda, que sofre com osteoporose e artrose, ela sozinha cuida da casa e dos animais da fazenda.

“Eu tenho caroços nas mãos e sinto dores no corpo, tomo remédio controlado por conta da artrite e artrose e agora tenho tido muita dificuldade para respirar, a noite aqui fica cheio de fumaça e eu sinto a garganta arder”, disse Hilda.

O fogo na região iniciou pela manhã do dia 15 de fevereiro, às 12h se intensificou mas o casal conseguiu pedir ajuda dos vizinhos e acionar a equipe do Corpo de Bombeiros que está atuando na região. Os moradores conseguiram controlar o fogo durante o dia, por volta das 20h da noite a chama se alastrou novamente e seguiu até a madrugada, sendo controlada às 5h da manhã.

O fogo na propriedade de Hilda foi contido antes de chegar na residência (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Enquanto o marido tenta reparar os danos no pasto e controlar o gado, Hilda fica em casa racionando a água para consumo e para os animais, pois o poço que abastece a propriedade está quase seco por conta da estiagem.

“Não temos água, a gente ‘colhe’ a água às 5h da manhã e divide para a comida e pros animais, porque até os igarapés daqui secaram, e voltamos a pegar a água só a noite, durante o dia eu não uso para não secar o poço”, relata Hilda.

Segundo o Boletim Hidroclimatológico da Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), o município de Amajari teve cerca de 193 focos de incêndio somente em fevereiro. Neste ano, foram 1.891 focos em todo o estado.

A reportagem questionou a prefeitura de Amajari se há ações para ajudar os moradores que foram prejudicados pelos incêndios e aguarda resposta.