Cotidiano

Focos de queimadas ultrapassam 3,7 mil em 2019

Registro feito nos quatro primeiros meses de 2019 supera qualquer outra marca de anos anteriores; sem previsão de chuvas, Defesa Civil analisa com preocupação cenário de queimadas

Em apenas cinco dias de abril, foram registrados 284 focos de queimadas em Roraima. A quantidade compõe o número de 3.729 focos somente de janeiro a abril de 2019, o maior registro já feito. Em 2018, foram registrados 2.383 durante todo o ano, conforme dados do boletim hidroclimático da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh). 

Diante do aumento drástico no número de queimas e da forte estiagem, o calendário de queimadas foi suspenso no início de março para evitar a possibilidade de incêndios. Entretanto, produtores rurais continuam utilizando o fogo para renovação da pastagem. O boletim informa que o risco de fogo nos próximos três dias é considerado de alto a crítico no nordeste de Roraima.

Caracaraí é o município com maior concentração de focos de calor do Estado, com 41% dos registros, seguido de Rorainópolis (15%) e São Luiz (11%). Sete municípios roraimenses formam a lista de maior número de queimadas do País, estando Caracaraí também em primeiro lugar. 

DEFESA CIVIL – Diante de um cenário inédito no número de focos, a Defesa Civil Estadual trabalha com o limite de efetivo e equipamentos. Em 2001, quando foi emancipado da Polícia Militar, o efetivo previsto era de 1.400 para ser completado em dez anos, entretanto, atualmente, são 529 bombeiros na corporação. 

“Aí teríamos quartéis de bombeiros em todos os municípios. Um efetivo suficiente para trabalhar de forma preventiva e ter a presença constante. Só que, passados esses 18 anos, chegamos a pouco mais de um terço dessa previsão para atender toda a demanda, que é de serviço de emergência hospitalar, incêndio urbano, perícia e vistorias técnicas”, relatou o diretor-executivo de Proteção e Defesa Civil, coronel Claudiomar Ferreira.

Ele relata que nos anos anteriores, quando havia situações de queimadas que fugiam do controle, bombeiros de outros Estados prestavam apoio à corporação. Com o número pequeno de efetivos, algumas localidades do interior ficam sem assistência total dos bombeiros. São 106 escalados por dia, que trabalham em regime de plantão com um dia de serviço de trabalho e três de folga.

“Ou seja, desses 529, temos em torno de 400 destinados à escala para atividades-fim. Temos efetivos de férias, licença médica e pessoal que é do administrativo. Se tivéssemos o número previsto há 18 anos, a nossa resposta [no combate às queimadas] era muito melhor e mais eficaz”, lamentou. Com a falta de chuvas prevista ainda para as próximas semanas e o aumento gradativo de queimadas, o coronel assume que há uma preocupação no cenário atual, justamente porque muitos produtores estão aguardando para realizar as queimas.

SUPORTE – Nos anos anteriores, bombeiros de outros Estados eram deslocados para dar apoio no combate a queimadas em Roraima, porém ainda não foi feita a solicitação neste ano. “Dependemos muito dos municípios decretarem situação de emergência e, até o momento, somente Amajari decretou. No estágio em que se encontra hoje, com o total de registros de queimadas, o aumento de efetivo só amenizaria a situação, mas além do efetivo de bombeiros, temos os brigadistas do PrevFogo, com mais de 200 homens atuando nas áreas de reservas indígenas e parques nacionais”, completou.

Atualmente, são 20 brigadistas voluntários no Cantá, em torno de 25 a 40 em Uiramutã e Amajari que dão mais suporte no combate a incêndios em Roraima. Sobre os materiais, Cleudiomar Ferreira assegurou que a crise financeira não afetou viaturas e equipamentos. 

“Acaba afetando na não regularização dos processos de aquisição de combustíveis e questão de alimentação para os bombeiros, mas estamos resolvendo isso com os municípios, que fornecem alimento para nossas equipes que vão a campo”, encerrou.

Instituições nacionais alimentam banco de dados 

Os dados levantados pela Femarh e Defesa Civil para compor os boletins climatológicos publicados diariamente, que informam previsão de precipitação, focos de queima, nível do Rio Branco e fenômenos climáticos, são diariamente fornecidos através de uma série de análises de diversas instituições nacionais.

Para saber o número de queimadas, os órgãos estaduais contatam o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Sobre o clima, os dados são retirados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o nível do Rio Branco pela Agência Nacional de Águas (ANA). As instituições prestam informações ao Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), um projeto que substitui o antigo Sistema de Vigilância da Amazônia, utilizado para integrar e gerar conhecimento atualizado para articulação, planejamento e coordenação de ações globais que visam à proteção do desenvolvimento da Região Amazônica. (A.P.L)