Atualmente, para obter um pouco mais de informação sobre alguém não é necessário ir tão longe, bastando apenas pesquisar e acessar a sua página pessoal ou profissional em alguma rede social disponível na internet.
No perfil, é possível visualizar conteúdos com imagens, vídeos e textos contendo dados pessoais, o que pode representar um risco alto caso as informações sejam compartilhadas excessivamente, sem moderação.
Para a jornalista, escritora, doutora em Comunicação e especialista em redes sociais, Pollyana Ferrari, a nova era informacional pode ser comparada com a revolução industrial em razão do crescimento das redes sociais, como o Facebook, WhatsApp, Instagram e agora o Snapchat.
As reuniões ente amigos, saídas entre casais de namorados, festas de aniversários, espetáculos musicais e demais ocasiões necessitam ser registradas e compartilhadas quase que obrigatoriamente, agora tanto quanto outras demais ações que poderiam ser consideradas banais, como ir a um salão de beleza ou a reforma da casa, por exemplo.
Pollyana, que esteve recentemente em Roraima para participar da 15ª edição do Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte, o Intercom Norte, na Universidade Federal de Roraima (UFRR), conversou com a Folha sobre esta nova era, em que personalidades que faziam sucesso apenas na internet ganham status de sub-celebridades, com seus próprios fã-clubes e contratos comerciais para produção de linhas de maquiagem, roupas e livros.
“O que acontece é que as pessoas perderam essa diferenciação do público e do privado”, explicou Pollyana. “As pessoas postam foto de qualquer coisa, não tem muito uma preocupação de que aquilo vai ser exposto para todo mundo”, analisou.
A necessidade exagerada de compartilhar cada detalhe de sua vida pessoal ou profissional pode ser inseguro para quem utiliza das redes, e algumas recomendações são importantes para o bem-estar e proteção da família. Novos hábitos podem ser adquiridos, como não comentar especificidades sobre viagens ou novas aquisições, especialmente se os perfis são públicos e de fácil acesso, além de manter uma supervisão constante do uso da internet por menores de idade.
“Hoje em dia a pessoa compra o carro e quer mostrar a nova compra, então, faz a foto com a placa do carro e depois corre o risco de ser assaltada. Dão a localização onde estão, se expõem demais, isso é prejudicial”, avaliou. “Outro problema são as crianças nas redes sociais. Às vezes um pai tem um filho que acabou de nascer e já expõe o bebê, grávidas que já fazem um perfil da criança ou os menores terem um perfil sem o acompanhamento apropriado dos pais. A infância é o momento em que a criança tem que estar brincando”, comentou.
RELAÇÕES PESSOAIS – Outro ponto citado por Pollyana sobre o uso excessivo das redes sociais é o impacto que isso tem causado nas relações pessoais. Para a jornalista, as pessoas têm perdido mais tempo trabalhando nas suas ligações virtuais que as presenciais.
“Estamos mergulhado nas telas, olhando para o celular, para o laptop, para o tablet e perdendo a conversa. Agora você olha em um restaurante ou uma praça de alimentação e está todo mundo no celular. Pessoas em duplas, almoçando com o amigo, com o esposo ou com a namorada e os dois estão no celular. A gente foi perdendo um pouco esse convívio e precisamos retomar”, avaliou.
A jornalista disse ainda que essa avalanche de informações em que as pessoas sentem a necessidade de estar conectadas o tempo todo, até na hora do descanso, precisa ser reavaliada. “A gente está perdendo um pouco o tempo do relógio, das oito horas de dormir, tem coisas que dá para esperar até de manhã, então, por que eu preciso dormir ouvindo notificação? Por que eu preciso ver toda hora a minha timeline se alguém postou alguma coisa?”, questionou.
“Nós acabamos sempre com essa sensação de que está devendo, de que está sempre desinformado e cria uma angustia. Você não precisa saber de tudo. Agora, estamos em um momento de saturação, onde tudo se compartilha, está muito acelerado. Talvez sature, talvez tenha tanto vídeo ao vivo que a gente procure por produtos mais lentos, como a revista. É difícil a gente voltar, mas talvez a gente precise achar um meio termo nessa saturação”, avaliou. (P.C)