Cotidiano

Dois indígenas morrem em confronto com garimpeiros em RR, informa Hutukara

Indígenas teriam se organizado para expulsar garimpeiros; 3 deles foram acertados com flecha; morte de indígenas teria ocorrido há mais de dois meses

A morte de dois indígenas da comunidade isolada Moxihatëtëma, na Terra Yanomami, foi divulgada nessa terça-feira, 2, pela Hutukara Associação Yanomami (HAY). Eles foram mortos durante um confronto com garimpeiros na região do alto rio Apiaú, em Mucajaí, região Sul de Roraima, ocorrido há aproximadamente dois meses e meio.

A associação destacou que o fato foi comunicado na segunda-feira, 1º, por um indígena da região do Apiaú. Segundo o relato, o grupo em isolamento voluntário Moxihatëtëma se aproximou do garimpo “Faixa Preta”, para expulsar os garimpeiros, mas, durante o acercamento, houve confronto, onde três garimpeiros foram flechados e dois indígenas mortos a tiros.

“Uma das flechas atiradas pelos guerreiros Moxihatëtëma foi recolhida por um jovem indígena da região do alto Mucajaí que frequentava o garimpo na ocasião e testemunhou o episódio. O objeto hoje se encontra em uma comunidade da região do Apiaú”,informou a Hutukara.

Garimpo ilegal

O garimpo “Faixa Preta” está localizado há cerca de quatro dias de barco desde o posto de saúde da região do Apiaú. A Hutukara enfatizou que a área é vizinha ao território da comunidade isolada Moxihatëtëma e tem um total de mais de 100 hectares de floresta, os quais “já foram destruídos pela atividade ilegal”. Desta forma, deve ser uma das zonas prioritárias para as ações de combate ao garimpo.

“A HAY vem insistentemente informando os órgãos competentes sobre a elevada pressão em que se encontram os Moxihatëtëma com o avanço do garimpo nas regiões da Serra da Estrutura, Couto Magalhães, Apiaú e alto Catrimani, com elevado risco de confrontos violentos que podem resultar no extermínio do grupo”, cita trecho do documento enviado pela Associação.

A liderança indígena desta que tem ciência das ações recentes de repressão ao garimpo na região., mas teme por outros confrontos, uma vez que esse não é o primeiro relato sobre conflitos violentos entre os isolados e garimpeiros.

Outras mortes

Em 2019, professores Yanomami do Alto Catrimani relataram à Hutukara que dois caçadores Moxihatëtëma haviam sido mortos com tiros de espingarda após terem defendido com flechas os roçados de uma tentativa de roubo por parte dos garimpeiros.

“Na ocasião, a HAY informou os órgãos competentes, mas não obteve respostas sobre uma eventual investigação. As últimas fotografias aéreas disponíveis da casa-coletiva dos moxihatëtëma indicam a existência de 17 seções familiares. A partir desse número estima-se que a população total desse grupo seja da ordem de 80 pessoas”, frisou a Hutukara.

O documento mostra, ainda, que os quatro assassinatos significam então a perda de 5% da população por morte em conflitos em apenas três anos. “É importante ressaltar que, em razão do sistema tradicional de justiça da cultura Yanomami, é possível que os Moxihatëtëma organizem novas investidas contra os núcleos garimpeiros para compensar as mortes sofridas. Assim, a situação de conflito pode se estender, resultando em mais mortes e chacinas”, alertou.

Saúde indígena

Outro ponto citado pelos indígenas é quanto à propagação de doenças trazidas, possivelmente, pelos garimpeiros. Além dos conflitos, “episódios de contato intermitente com os garimpeiros pode levar à introdução de novas moléstias infecciosas, impactando severamente a saúde coletiva do grupo”, relatou o documento.

A Hutukara Associação Yanomami solicitou aos órgãos responsáveis que investiguem o ocorrido, considerando a grande vulnerabilidade epidemiológica das famílias em isolamento voluntário e tomem medidas urgentes para proteger o grupo de novos confrontos e contatos forçados.

“[…] solicita-se que sejam adotadas urgentemente ações de repressão do garimpo ilegal nas proximidades do território dos Moxihatëtëma, e sejam plenamente retomadas as atividades da BAPE Serra da Estrutura, com rotina de incursões para identificar e desmantelar núcleos garimpeiros instalados na região”, finaliza o documento.