Cotidiano

Desinteresse de empresários é uma barreira

Profissional que veio para Roraima trabalhar com reciclagem de produtos eletrônicos enfrenta desinteresse dos proprietários de lojas do setor

No ramo há mais de 25 anos, o empresário Emanuel Paiva trabalha com reciclagem de produtos eletrônicos, como peças de computadores, carcaças de celulares e baterias. Em Boa Vista há três anos, ele disse que mesmo com a Lei de Resíduos Eletrônicos, que determina que as empresas e pessoas comuns destinem corretamente seus resíduos eletroeletrônicos, sobreviver da reciclagem desse material na Capital roraimense é quase impossível.
Conforme o empresário, a sociedade não tem conhecimento e interesse em descartar corretamente o lixo eletrônico. “Acho que é falta de conhecimento e de interesse. Conhecimento porque eles não sabem que isso é prejudicial para o meio ambiente, ou, se sabem, não se importam; e interesse porque não procuram os caminhos certos para jogar fora as peças que eles não usam mais”, afirmou.
Paiva veio para Boa Vista a convite de uma empresa de São Paulo com o objetivo  de conquistar o mercado da reciclagem de lixo eletrônico local, mas jamais imaginou que encontraria tantas dificuldades. “Não existe uma loja de eletrônicos nesta cidade que eu não tenha ido e pedido para que eles me vendam ou doem-me o material que eles costumam jogar fora. Mas sempre eu escuto uma desculpa diferente e, no final, eles falam que vão me ligar e nunca retornam. Então, eu preciso ir lá de novo, mas aí eles já o jogaram fora”, explicou.
No ano passado, Emanuel Paiva recolheu 395 kg de lixo eletrônico em toda a cidade. Segundo ele, em grandes capitais, como João Pessoa (PB), por exemplo, arrecada-se, por mês, mais de 2.500 kg de lixo eletrônico. “Às vezes, eu recebo doações, mas na maior parte do tempo eu compro, pago R$ 5,00 por cada kg. Mesmo assim, as empresas ainda preferem jogar no lixo comum”, disse.
 “Eu sei que o trabalho que eu vim realizar aqui é de suma importância, mas as pessoas não fazem ideia disto. No futuro, seus filhos sofrerão as consequências do solo contaminado. Mas, mesmo assim, elas não se importam, não sei mais o que fazer. Até propaganda eu já fiz”, frisou.
O material recolhido por Paiva é selecionado e encaminhado para uma representação da empresa em Manaus (AM), que o tritura e o envia para São Paulo, que o recicla e o utiliza na fabricação de novos componentes eletrônicos. As pessoas comuns que tiverem interesse em descartar esse material, podem entrar em contato pelo telefone (95) 9115-2292.
NO MUNDO – Segundo estudo realizado pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), em fevereiro de 2010, constatou-se que o crescimento de países emergentes, como Brasil, México, China e Índia, tem causado aumento no consumo de produtos eletrônicos, elevando, consequentemente, a quantidade de lixo emitido por eles em virtude do barateamento dos produtos consumidos.
Uma estimativa aponta que 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são geradas por ano no mundo, sendo grande parte emitidsa por nações ricas. Só a Europa é responsável por um quarto do total. Países emergentes também contribuem muito para a poluição do meio ambiente com lixo eletrônico. De acordo com um artigo publicado pela Universidade de São Paulo (UPS), aproximadamente 94% dos materiais contidos nos aparelhos eletroeletrônicos podem ser reciclados. (J.L)