Cotidiano

Descanso da aposentadoria não é  realidade para a maioria dos idosos

Dinheiro da aposentadoria é insuficiente para sustentar a casa e as despesas com a compra de medicamentos que precisam ser usados regularmente

LEO DAUBERMANN

Editoria de Cidade

Os cabelos começam a embranquecer, a pele fica enrugada, os movimentos já não são mais tão rápidos e costumam aparecer os problemas de saúde típicos dessa fase, a velhice, também conhecida como terceira, ou, melhor idade. Mas depois de uma vida inteira de trabalho, idosos afirmam que não têm o que comemorar hoje, 1º, Dia Internacional do Idoso.

O Brasil tem uma população de 208 milhões de habitantes, e o último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, mostra que a população de idosos no país, com 60 anos ou mais é de 30 milhões. Na Região Norte, são quase dois milhões de idosos e em Roraima 37 mil, para uma população de 580 mil habitantes.

A expectativa de vida do brasileiro mostra que o cenário, ao passar dos anos, tem sido positivo. O fato é que o brasileiro tem vivido mais. O último levantamento feito pelo IBGE mostra que a média de vida do brasileiro chegou a 75,8 anos em 2017 – há dez anos, a estimativa marcava apenas 72,7 anos.

Até 2060, a população com mais de 60 anos, que atualmente representa 13,44%, mais que dobrará de tamanho, atingindo 32,1% do total de habitantes. Em 2060, um quarto (25%) da população terá mais de 65 anos — a expectativa de vida será de 81 anos.

Uma pesquisa realizada em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com idosos acima de 60 anos, em 2016, mostra que mais de um terço (33,9%) dos idosos que já estão aposentados continuam exercendo alguma atividade profissional. A renda insuficiente para pagar as contas, citada por 46,9% dos entrevistados, é o principal motivo para não parar de trabalhar.

O paulista Jurandir Sanches, 75, radicado em Roraima há 49 anos, aposentou-se aos 64, como pescador, mas nunca parou de trabalhar. Atualmente desempenha as funções de motorista num órgão público estadual. A saúde já não anda tão boa, precisa passar por três procedimentos cirúrgicos, um deles, no joelho direito, custa algo em torno de R$ 60 mil, pesado demais para o bolso do aposentado, mesmo com a renda extra.

A cirurgia no joelho vai ser feita pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Rio de Janeiro, mas tem uma longa fila de espera.

“Já tenho o TFD (Tratamento Fora de Domicílio) só que tem mais de 300 pessoas na minha frente, nem a idade me permite furar a fila, tenho que esperar”, conta.

A renda extra de Jurandir tem feito a diferença na casa onde ele vive com a esposa, a dona de casa Maria de Lourdes, 67, que ainda não se aposentou, e mais duas filhas, uma delas, desempregada. “O Brasil não dá condições para o aposentado viver dignamente, a gente contribui uma vida inteira e quando se aposenta ganha uma mixaria”, diz.

A realidade de David Rodrigues de Souza, 76, maranhense que mora em Roraima há 24 anos, não é diferente. Ele também trabalha num órgão público, como auxiliar de serviços gerais, para complementar a aposentadoria dele e da esposa, a dona de casa Maria da Conceição, 74. O casal divide o lar com uma neta e três dos quinze filhos que tiveram.

Seu David reclama do descaso do poder público, principalmente com relação ao setor da saúde. Dinheiro para médico e exames particulares ele não tem, resta então as longas esperas nos postos de saúde e hospitais públicos.

“A gente tem que chegar cedo, antes das 5h, não é fácil, porque dependo de ônibus, mesmo quando chega um pouco mais cedo, a gente não tem garantia de ser atendido. Sou diabético e tenho pressão alta, preciso de acompanhamento médico, nem todos os remédios eu consigo de graça, o pouco dinheiro que tenho, vai embora com eles”, lamenta.

Hoje, no Dia Internacional do Idoso, David diz que não tem nada para comemorar.

“O país, o governo, não trata bem os idosos, não dá aquela garantia que a gente merece e precisa na velhice, na realidade a gente não vive, a gente vegeta”, desabafa o idoso.

ESTATUTO DO IDOSO – Resultado final do trabalho de várias entidades voltadas para a defesa dos direitos dos idosos no Brasil, entre as quais sempre se destacou a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e também de profissionais das áreas da saúde, direitos humanos e assistência social, além de parlamentares do Congresso Nacional.

O documento, vigente desde janeiro de 2004, veio ampliar direitos que já estavam previstos em outra Lei Federal, de nº 8842, de 4 de janeiro de 1994 e também na Constituição Federal de 1988 e dessa forma se consolida como instrumento poderoso na defesa da cidadania à população com mais de 60 anos, dando-lhes ampla proteção jurídica para usufruir direitos sem depender de favores, amargurar humilhações ou simplesmente para viverem com dignidade.

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