Cotidiano

Dependência química é alarmante em RR

Enquanto CAPS tem 1.672 dependentes cadastrados, entidade Casa do Pai só consegue atender 24 pessoas e tem 800 na lista de espera

O número de pacientes com problemas em relação à dependência química é preocupante em Roraima. Dados do Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (CAPS–AD) apontam que existem 1.672 prontuários cadastrados. Algumas instituições vêm trabalhando com dificuldade na tentativa de reabilitar esses indivíduos.

Segundo a diretora da CAPS – AD, Jandira Gomes dos Santos, muitos casos foram registrados em 2015. “Além dos 1.672 prontuários cadastrados, há registros de janeiro a setembro que apontam o atendimento a 722 usuários. Outros novos casos, que buscaram o serviço no mesmo período, somaram 293 pessoas”, informou.

A Casa do Pai é uma das instituições dedicadas ao tratamento. De acordo com o presidente da instituição, Júnior Lessa, existem muitas pessoas que precisam de ajuda. “Atualmente, atendemos 24 indivíduos. No entanto, mais de 800 pessoas estão na lista de espera. Com nosso trabalho, pretendemos guiá-los a conceitos fundamentais para a convivência em sociedade, além de afastá-los do caminho das drogas”, disse.

Como exemplo de que essa doença pode atingir qualquer indivíduo, independente de sua posição social, um dos pacientes é integrante da Polícia Militar, que preferiu anonimato. Ele está em fase de tratamento há cerca três meses na Casa do Pai. “Eu trabalho em Boa Vista e estava envolvido no mundo das drogas.

Senti que estava no limite, com medo de perder o emprego e a família. Trabalhava sob efeito de entorpecente e, muitas vezes, por conta disso, faltava o serviço.

Eu realmente estava doente e não sabia”, disse.

Com isso, ele pediu transferência para outro município com o intuito de livrar-se. “Foi ilusão. Não consegui controlar o vício. A má influência contribui muito. Por isso, é importante abdicar de pessoas e lugares que estejam relacionados ao uso de drogas”, complementou o policial.

Ele falou também sobre como procurou ajuda. “Percebi que devemos nos limpar interiormente. Então, eu me dirigi ao major e ao tenente da corporação e contei meu problema. Neste momento, fiquei surpreso. Eles asseguraram meu emprego e procuraram tomar providências. Não imaginava que seria recebido desta maneira, pois fui apoiado pela Polícia Militar quando pensei que iam me punir. Para quem realmente quer ajuda, eles estão disponíveis”, ressaltou.

A partir daí, o PM foi inicialmente dirigido ao núcleo de saúde da instituição, já que o Ministério da Saúde reconhece este tipo de caso como doença. “No entanto, o serviço havia sido suspenso. Procuraram outras casas de recuperação e, durante esse período, conhecemos policiais que passaram por aqui [Casa do Pai] e estão até hoje com a vida restaurada. Então, eu me adaptei ao programa e preferi me internar para me alicerçar.

Passei pela Junta Médica, onde foi feita a documentação necessária, e fui afastado. A cada dois meses faço relatório e envio à Corporação para mantê-los informados sobre minha situação”, relatou. “Aqui não aprendemos só a nos livrar dos malefícios, mas a mudar o caráter, ser uma boa pessoa, acreditar na verdade, respeitar o próximo, as lideranças, nossas mães e pais. A viver”.

VOLTA POR CIMA – Mineiro, como prefere ser chamado, tem 54 anos e é exemplo de quem venceu na vida após abandonar o vício. Segundo ele, foi no dia 9 de novembro de 2010 que conheceu a Casa do Pai. “Encarei com muita luta diariamente, pois é uma doença, e muitos dizem que não há cura, mas estou aqui para provar que existe outro caminho”.

Para ele, o procedimento de recuperação tem uma fiel e indispensável aliada. “A fé está atrelada em todos nós. Depois que encontrei Jesus, com a ajuda da instituição, consegui me livrar dos males. Para isso, eu me envolvi no projeto, sempre focado no trabalho que desenvolvemos”, disse.

Ele contou um pouco de sua história. “Quando cheguei aqui, passei cinco meses me recuperando e logo depois voltei para Boa Vista. Fui bem recebido pela minha família. Retomei meus negócios, que na época era uma loja de assessórios para carro. E agora a vida continua”.

Atualmente, Mineiro é voluntário. “Faço isso com muito amor e orgulho. Eles são a minha segunda família. Foi onde me encontrei e consegui voltar à vida, à sociedade. Acredito que minha responsabilidade é ainda maior, por estar comprometido com ações e atividades que fomentam esta iniciativa”.

Entidade precisa de sede para continuar acolhendo viciados

No momento, a Casa do Pai encontra-se em uma propriedade disponibilizada por terceiros. Por isso, conta com apoio para construção de uma nova sede. “Pedimos que empresários e forças políticas possam nos ajudar, não necessariamente a nós, mas qualquer instituição responsável pela reabilitação de quem precisa, pois qualquer pessoa pode sofrer com essa doença. Precisamos resgatar os bons profissionais que existem dentro deles, sejam médicos, oficiais da Polícia Militar, advogados e mecânicos. Nós pedimos socorro”, disse o voluntário Mineiro.

Ele pediu que as pessoas percebam o dependente com outros conceitos. “É importante saber que é alguém doente. Quando eu estava nessa situação, tinha vontade de conversar para falar do assunto, mas todos viravam as costas. Então, peço que venham conhecer esse projeto, visitar-nos para observar como é realizado o trabalho e possa enxergar de outra maneira”.