Cotidiano

Corpo apodrece em necrotério do HGR

Mau cheiro exalado do cadáver foi denunciado por agentes funerários, que fazem plantão na unidade de saúde; Setrabes informou que trabalha para regularizar o auxílio-funeral o mais breve possível, mas não deu prazo para o retorno do serviço

Perto da entrada do Pronto Socorro Estadual Francisco Elesbão, já era possível saber que ali próximo havia um corpo humano em decomposição. O forte odor vinha de uma sala fechada e sem a refrigeração adequada, onde estavam os restos mortais da venezuelana Faviola Angélica Wells, de 23 anos.

A denúncia foi feita por agentes funerários, que prestam plantão nas portas de entrada do Hospital Geral de Roraima (HGR). Os funcionários destas empresas aguardam em frente ao HGR, Instituto Médico Legal e do Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth para oferecer o serviço aos familiares que perderam os seus entes queridos.

Ao chegarem ao HGR na segunda-feira, 29, para trabalhar, os agentes encontraram o corpo de Faviola. “Esse corpo está há dois dias no necrotério, dando odor e eles não tomam providência de nada”, disse o agente funerário Kleiton Andrade.

Para os agentes, o problema pode ter sido causado pela suspensão do serviço de auxílio funeral fornecido pela Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) para as famílias carentes. O benefício está cortado há alguns meses e o relato é de outros corpos sendo mantidos em cubas de refrigeração no IML e Maternidade, enquanto os familiares buscam por dinheiro para enterrar seus parentes.

SERVIÇO – O funcionário reclamou ainda que as condições de trabalho dos agentes têm piorado em razão do crescimento de empresas clandestinas de serviço funerário, que não tem a documentação, nem a capacitação necessária para fazer o serviço e, muito menos, laboratórios refrigerados com equipamentos para manter a conservação do corpo.

“Isso fica defasando o serviço funeral do Estado. Pessoal trabalhando sem carteira assinada, na bagunça. A gente tem um curso que precisa fazer, andar uniformizado, ter a identificação e ter o básico para saber abordar uma família e levar em consideração a dor dessa família. Só está piorando e ninguém toma providência de nada”, reclamou Andrade.

OUTRO LADO – A Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) informou que, mesmo diante das dificuldades financeiras enfrentadas pelo Estado, o que prejudicou momentaneamente o andamento de algumas ações, “trabalha para regularizar o serviço o mais breve possível”, porém, não deu um prazo para o retorno das atividades.

O Estado reforçou mais uma vez que o auxílio-funeral é um benefício eventual concedido a pessoas em vulnerabilidade social para realização de translado e sepultamento dentro do município de Boa Vista, contanto que os beneficiados obedeçam a alguns critérios. “A família atendida deve preencher aos pré-requisitos que caracterizem a situação de vulnerabilidade, verificada em triagem social realizada por assistentes sociais do Governo do Estado que trabalham no Hospital Geral de Roraima e outros órgãos”, frisou.

A Folha procurou a Secretaria Estadual de Saúde para saber o motivo do corpo de Faviola ter sido mantido em um local sem a refrigeração adequada para manter o cadáver, porém, não obteve qualquer retorno da unidade de saúde.

VIGILÂNCIA SANITÁRIA – Com relação à fiscalização das empresas, a Folha entrou em contato com a Vigilância Sanitária Municipal para obter informações sobre a fiscalização do problema e das empresas clandestinas e também não obteve o retorno.

A equipe acionou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que ressaltou que a regulamentação e fiscalização do funcionamento de funerárias é uma competência do estado e municípios. A Folha também questionou ao Governo sobre o número de agências funerárias registradas no Estado, porém, não obteve resposta. (P.C.)