SETE ANOS DE MIGRAÇÃO

Como está a migração? Entenda o atual fluxo de entrada de venezuelanos em RR

Com cerca de sete anos da migração no estado e seis de ações emergenciais da Operação Acolhida, a FolhaBV buscou entender como está o deslocamento dessa população

Desde 2018, aproximadamente 1 milhão e 300 mil pessoas passaram pelas fronteiras, sendo 700 mil pela OpA. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Desde 2018, aproximadamente 1 milhão e 300 mil pessoas passaram pelas fronteiras, sendo 700 mil pela OpA. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Com cerca de sete anos da migração venezuelana à Roraima e seis de ações emergenciais da Operação Acolhida (OpA), a FolhaBV buscou entender como está o deslocamento de venezuelanos atualmente no estado. No mesmo período, a migração registrou aumentos e declínios, e alguns problemas relacionados à vulnerabilidade social.

De acordo com dados da OpA, em 2024, o fluxo de entrada da população venezuelana em Roraima registrou a média de 10 mil por mês. Uma queda, quando comparado à 2023. Ano passado a média estava em 11 mil, após um aumento significativo no final de 2022, quando se atingiu, conforme dados da Polícia Federal (PF), a entrada de 12.649 migrantes em Pacaraima, cidade fronteiriça com a Venezuela.

Para o coordenador operacional da Operação Acolhida, general Helder Braga, a queda desses dois meses não deve ser considerada como início de um possível fim da migração. Mas que há expectativas de que a operação saia do caráter emergencial e, posteriormente, o fluxo seja controlado pelos governos estadual e municipal.

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Coronel Helder Braga, quarto coordenador operacional da Operação Acolhida. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

“Ainda está muito prematuro para falar, mas nos dois primeiros meses retornamos aos números de 2022, o que demonstra uma queda. […] É óbvio que seria demais a gente querer que um estado como Roraima, que tem uma população de 650 mil [habitantes], receba 10 mil pessoas por mês. Mas quando esses números começarem a baixar, a tendência é que o Estado e municípios, tanto Pacaraima, quanto Boa Vista, comecem a criar envergadura e estrutura para assumir as funções da Operação Acolhida”,

A queda no fluxo ainda é vista como positiva, porque, conforme o general, janeiro e fevereiro são os dois meses que, regularmente, tem a maior quantidade de entrada da população. “Dezembro é o mês que menos tem migrante por causa da festa de final de ano e, provavelmente, alguns que estão no Brasil retornam para passar as festas. Quando termina, eles retornam ao Brasil trazendo alguns parentes novos”, explicou Braga.

Busca por uma vida melhor é contínua

Kelly Rodriguéz e a família aguardam documentação de guarda para seguirem para Santa Catarina. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Apesar da queda registrada, a população venezuelana continua em migração por uma melhor condição de vida. Em conversa com Kelly Rodriguéz, mãe de duas crianças e responsável pelo sobrinho, ela conta que esse sonho sempre existirá para quem busca trabalho ou para dar futuro à família.

“Há quem saia da Venezuela para trabalhar aqui e há outros que saem por um bom futuro para ele ou para a sua família. Inclusive há outros que saem para trazer a família. Mas eu creio que o melhor que os venezuelanos fazem é saírem e poderem dar um futuro para os seus filhos, para que possam estudar e, quando estiverem grandes, saibam que fizeram esforço para viver bem”,

explicou.

Kelly está há em Boa Vista há mais de um mês, vivendo na rua em frente ao Hospital da Criança, ao lado dos filhos e do esposo. A família aguarda a documentação de guarda do sobrinho para seguirem até Chapecó, em Santa Catarina, onde mora uma irmã.

Abrigamento

Aleksandra del Valle, esposo, filhas e conhecidos estão em situação de rua e em busca de trabalho. (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Também em frente ao Hospital e há três meses em Boa Vista, Aleksandra del Valle, de 24 anos, relata que não havia condições de continuar trabalhando em uma fábrica de sardinha no estado do Sucre, na Venezuela. Quando veio para Roraima com o marido e as filhas, realizaram o processo de documentação e foram para um abrigo da Operação. Porém, a família decidiu a sair por não se sentir segurança com outros abrigados que não conhecia.

“Ficamos lá um mês. A maioria dessas pessoas que estão aqui [na rua] são parte de nós, da aldeia de onde venho, e nós nos conhecemos, nos preocupamos uns com os outros”,

explicou sobre preferir ficar na rua.
Um dos abrigos da Operação em Boa Vista. (Foto: reprodução/Comunicação Operação Acolhida)

Segundo o coordenador da Operação Acolhida, general Helder Braga, mais de 8 mil migrantes vivem nos 10 abrigos em Boa Vista e um indígena em Pacaraima. No entanto, “nem todos que entram querem o abrigamento”.

“Muitos só querem tirar a documentação, às vezes seguem por meios próprios e já tem gente que entrou no Brasil, que está trabalhando e paga a passagem. Outros vem para casa de parentes e aí a gente leva para o abrigamento. [O abrigo] é bem estruturado, é levantado de acordo com as vagas e de acordo com o perfil das famílias para gente colocar nesses abrigos”, informou Braga, que acrescentou que nos locais também há capacitação básica realizada pelas mais de 120 agências que compõem a Operação.

Desde 2018, aproximadamente 1 milhão e 300 mil pessoas passaram pelas fronteiras, sendo 700 mil pela OpA. Pelo último de pilar da Operação, a interiorização, mais de 130 mil migrantes foram para outros estados após oportunidade de trabalho. A média de interiorizados estaria em cerca de 2.500 pessoas por mês.