NA WEB

“Colonização reversa”: brasileiros criam meme ‘Guiana Brasileira’ sobre a presença de imigrantes em Portugal

O tom é de humor, mas com uma pitada crítica: nas postagens, Portugal é apelidado de “Guiana Brasileira”

Na brincadeira, a imagem de Cristiano Ronaldo estampa a moeda da Guiana Brasileira (Foto: Reproducao Instagram)
Na brincadeira, a imagem de Cristiano Ronaldo estampa a moeda da Guiana Brasileira (Foto: Reproducao Instagram)

Uma tendência recente nas redes sociais tem provocado risos — e também reflexões — sobre imigração, cultura e relações históricas entre Brasil e Portugal. Criadores de conteúdo brasileiros que vivem em território português passaram a satirizar, por meio de vídeos no TikTok e no Instagram, a crescente presença de conterrâneos no país europeu. O tom é de humor, mas com uma pitada crítica: nas postagens, Portugal é apelidado de “Guiana Brasileira” ou “Brasil 2”, numa inversão simbólica da colonização.
A ideia de uma “colonização reversa” surge como uma forma descontraída de retratar o aumento expressivo da população brasileira em cidades como Lisboa, Porto e Braga. Vídeos com esse tema costumam mostrar situações cotidianas em que o idioma português do Brasil predomina nas ruas, supermercados e universidades — às vezes mais do que o próprio sotaque europeu.


O fenômeno ganhou força com hashtags como #GuianaBrasileira, #ColonizaçãoReversa e #PortugalÉBrasil, que acumulam milhões de visualizações no TikTok e no Instagram. Os criadores usam o humor como ferramenta para comentar, de forma leve, o impacto da imigração brasileira no cotidiano português.
Reflexo de uma presença crescente
Segundo dados oficiais do governo português, os brasileiros representam atualmente a maior comunidade estrangeira do país. Estima-se que mais de 400 mil brasileiros vivam legalmente em Portugal, e esse número segue crescendo com novos pedidos de residência e vistos de trabalho, estudo ou reagrupamento familiar.
A facilidade linguística, o custo de vida relativamente menor (em comparação com outros países europeus), além da possibilidade de acesso ao mercado europeu, continuam sendo grandes atrativos para os brasileiros. O resultado é uma visibilidade cultural cada vez maior, que se expressa em eventos, restaurantes, empresas e também nas redes sociais.


Sátira que revela afetos e tensões
A tendência, embora bem-humorada, também levanta discussões sobre identidade, integração e possíveis tensões culturais. Para muitos brasileiros, os vídeos representam um modo leve de lidar com o desafio de adaptação e com episódios de preconceito ou burocracia. Para alguns portugueses, o exagero humorístico pode soar como desrespeito ou insensibilidade cultural.
Ainda assim, o tom predominante é de brincadeira entre irmãos de língua e história. Os vídeos brincam com estereótipos, fazem trocadilhos com sotaques, hábitos e expressões regionais, reforçando uma espécie de “familiaridade desconfortável” entre os dois países — marcados por séculos de história em comum.


Humor como crítica social
Além de entreter, a sátira escancara algumas realidades sociais: o êxodo de brasileiros em busca de melhores condições de vida, o desafio da regularização migratória em Portugal e a construção de uma nova identidade híbrida entre os dois países. A “colonização reversa”, nesse contexto, é mais do que uma piada — é também um comentário social sobre deslocamento, pertencimento e transformação cultural.
Com vídeos que misturam ironia, empatia e criatividade, os criadores brasileiros no TikTok e Instagram estão, de certo modo, criando uma nova narrativa digital sobre migração — uma em que rir de si mesmo também é uma forma de resistir, adaptar-se e criar laços em terra estrangeira.

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.