Com um acumulado de 469,2 mm de chuvas em julho, Boa Vista tem enfrentado alagamentos em diversos bairros, sendo Cruviana e Senador Hélio Campos os mais afetados. Segundo o assessor técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Luis Felipe, com os rios e igarapés cheios, o escoamento da água da chuva é comprometido.
A média histórica de chuvas para o mês de julho na capital é de 308 mm, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Outra preocupação é com o nível do rio Branco, que já alcançou 7,87 metros, segundo a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer). Esse volume acaba enchendo outros rios e igarapés, dificultando ainda mais o escoamento.
“Boa Vista está situada em uma área de relevo plano, com solo muitas vezes encharcado e com lençol freático superficial. Quando chove muito em um curto intervalo, o solo não consegue absorver toda a água, e os sistemas de drenagem natural ficam sobrecarregados. Isso gera alagamentos, principalmente em áreas mais baixas”, explicou o especialista.
Segundo Flávia Cantanhede, da Defesa Civil do Município, um Boletim de Alerta emitido pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) aponta previsão de acumulados de até 150 mm de chuva nas próximas duas semanas.
“É um volume considerado acima do normal. Caso essa previsão se concretize, o nível do rio Branco tende a continuar subindo, podendo chegar ao extravasamento”, alertou.
Impacto das chuvas e alagamentos
Boa Vista está localizada em uma região conhecida como pediplano do rio Branco, uma área naturalmente aplainada. O clima equatorial favorece períodos intensos de chuva entre abril e agosto. Durante esses meses, o volume de água pode ultrapassar a capacidade de drenagem dos rios, igarapés e do próprio solo.
“Boa Vista tem uma geografia peculiar. Grande parte da cidade está assentada sobre áreas que já foram lagoas ou igarapés. O solo dessas regiões tende a saturar rapidamente com chuvas intensas, o que favorece alagamentos mesmo com poucas horas de precipitação contínua”, detalhou Luis Felipe.
Ações humanas agravam a situação
A ação humana também agrava o cenário. O descarte inadequado de lixo entope bueiros e canais, impedindo o escoamento da água da chuva. Somente nesta segunda-feira, 21, cerca de 400 toneladas de resíduos foram retiradas das ruas e do sistema de drenagem.
O especialista também chama atenção para as ocupações irregulares em áreas de lagoas, igarapés e margens de rios, que suprimem a vegetação nativa e comprometem o fluxo natural da água.
“Quando se constrói sobre áreas alagadiças ou se elimina a vegetação ciliar, desorganiza-se o sistema natural de escoamento. O que antes era uma área de retenção natural de água torna-se um obstáculo. E a água, sem alternativas, procura outros caminhos, invadindo ruas e casas”, concluiu Luis Felipe.