Cotidiano

Casa da Mulher Brasileira é inaugurada

Com salários atrasados, servidores estaduais protestaram durante toda a cerimônia de inauguração do prédio

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

A Casa da Mulher Brasileira foi inaugurada na tarde de ontem, 3, após anos construção. O evento foi marcado por protestos de agentes socioeducativos durante fala da secretária do Trabalho e Bem-Estar Social, Emília Campos, que representava a governadora Suely Campos durante a inauguração.

Emília tentou discursar por quatro minutos, mas a voz foi abafada por gritos de protestos dos servidores estaduais. A secretária ainda pediu que lhe fosse dado o direito de uso da palavra e, mesmo com o pedido ignorado, continuou a falar sobre a importância da inauguração da Casa da Mulher Brasileira.

“Eu acho que é uma manifestação democrática. Nada disso impediu que estivéssemos aqui inaugurando esta Casa, que é um instrumento que não se tem em qualquer Estado. Vale ressaltar que é a única da Região Norte. Outros Estados tentaram ter, mas é necessário ter competência e vontade política”, declarou Emília Campos à Folha.

Antes de a titular da Setrabes discursar, outras quatro pessoas falaram sobre a inauguração. Uma delas foi a juíza Maria Aparecida Cury, que iniciou o seu discurso relatando que se tratava de “um dia feliz”. Imediatamente ela foi interrompida por uma servidora que contestou: “Dia feliz para quem? Para os servidores que não recebem há dois meses não é”. Apesar da primeira interrupção, os servidores permitiram que a juíza prosseguisse com seu breve discurso.

Também discursaram a secretária Nacional de Políticas para Mulheres, Andreza Colatto, a presidente do Núcleo de Mulheres de Roraima (NUMUR), Andrea Vasconcelos, e um deputado estadual. Em nenhum destes discursos houve interrupções. Os três se atentaram a falar da inauguração do local e da importância de políticas voltadas para a segurança de mulheres.

Agentes socioeducativos se manifestaram durante fala da secretária Emília Campos (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

Os agentes socioeducativos contaram que escolheram a ocasião porque sabiam que diversas autoridades estariam presentes. A servidora pública Dorinha Pereira disse que queria que Emília Campos olhasse para a situação dos servidores do Estado, mas que acabou sendo constrangida pelo parlamentar que estava presente. De acordo com a agente socioeducativa, o representante popular teria colocado o dedo em sua cara enquanto gritava que não tinha culpa da situação. O deputado confirmou à Folha que argumentou que não tinha culpa da atual situação dos servidores, mas negou a acusação de que teria colocado o dedo na cara da servidora pública. Também afirmou que este não é o tipo de conduta que tem.

VIOLÊNCIA – Andrea Vasconcelos, do NUMUR, criticou as violências institucionais contra as mulheres e citou os exemplos de agressão no meio político. “Se os agentes do Estado, que são pessoas que têm poder e deveriam dar exemplo de como enfrentar a violência e pensar programas para que Roraima saia deste quadro de um dos Estados mais violentos, acabam sendo os agressores, então imagina o que não sofrem as mulheres comuns”, declarou.

Casa deve funcionar 24 horas por dia

A construção, de três mil metros quadrados, é fruto de um convênio efetuado entre o Governo Federal e o Governo do Estado. A casa integra Juizado Especial, Promotoria, Defensoria Pública, Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, também tem alojamento de passagem para mulheres que tiveram que sair de casa e brinquedoteca para os filhos de mulheres agredidas.

De acordo com a secretária Nacional de Políticas para Mulheres, Andreza Colatto, a recomendação dada é para que a Casa funcione durante 24 horas. O prédio deverá contar com atendimentos burocráticos e humanizados, além de integrar diversos órgãos para evitar que o mesmo depoimento precise ser prestado diversas vezes.

“Também é um ponto de apoio para a mulher sair do ciclo da violência. Muitas vezes uma mulher permanece [na violência] por não ter uma alternativa, especialmente nesta região, a mulher costuma ser dependente do companheiro que é o agressor. E aqui haverá soluções para autonomia econômica”, explicou Colatto. (F.A)