Proporcionalmente, Roraima é o segundo Estado brasileiro onde mais pessoas põem fim à própria vida. Somente de janeiro a outubro do ano passado, foram 39 casos registrados no Instituo de Medicinal Legal (IML), contra 27 ocorrências no ano anterior. A maioria delas tem menos de 21 anos. Esses dados foram os principais motivos para quinze entidades públicas e religiosas iniciarem, pela primeira vez no Estado, o “Setembro Amarelo”, que irá lembrar o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, 10 de setembro.
A campanha, que envolve palestras e mobilizações, foi aberta com um simpósio no campus Paricarana na Universidade Federal de Roraima (UFRR), na manhã de ontem. A campanha tem o tema “A vida pede socorro: viver é melhor! Conectar, comunicar e cuidar”. Haverá caminhada na Praça Velia Coutinho, no Centro, no dia 10, às 17h; distribuição de folderes na Marcha para Jesus de Boa Vista, Rorainópolis e Mucajaí; palestras nas escolas estaduais; capacitação de professores e profissionais de saúde e debates sobre políticas públicas. Dentro dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) também está havendo distribuição de folderes e incentivo aos usuários e suas famílias para que participem das programações.
A promotora de justiça de Saúde, Jeanne Sampaio, disse que existem muitos trabalhos feitos no Estado e municípios, mas que as queixas registradas no Ministério Público são sobre as dificuldades de acesso ao serviço psicossocial e a medicamentos psiquiátricos, fruto de desconhecimento de onde encontrar esses serviços. Por isso, durante o simpósio na UFRR, ela anunciou mais um aliado na assistência psicossocial dos roraimenses: o Centro de Valorização à Vida, que chegará a Roraima pela primeira vez, com o apoio da Assembleia Legislativa. “Nove em cada dez casos de suicídio podem ser evitados. Então é possível ajudar”, anima-se.
PRECONCEITO – Um fator a ser considerado é o próprio preconceito ainda existente com o tema. O psiquiatra Marcelo Yamamoto, participante do Setembro Amarelo, recebe muitos pacientes alegando que a família acha que seus problemas são “frescura” e “falta de amigos ou religião”. A atitude é reprovada por ele, que explica que o suicídio é causado quando pessoas em situações extremas, como o desemprego e conflitos de relacionamento, sentem-se encurraladas, mas não somente por estes cenários a que todos estão sujeitos, e sim ao próprio desequilíbrio cerebral que as impede de enxergar uma saída. “Se o funcionamento dos neurotransmissores está alterado, os remédios podem ajudar o paciente a ver a realidade como ela realmente é, e não como ele acha que está sendo”, disse.
O apoio espiritual também é muito buscado por pacientes com depressão e por famílias de pessoas que desistiram de viver. É por isso que grupos religiosos também compõem o Setembro Amarelo. O presidente da Federação Espírita de Roraima, Volmar Buffi, disse ter detectado um aumento de pessoas indo às sete casas existentes no Estado devido à crescente discussão sobre o tema. Ele recebe novos frequentadores sentindo depressão e falta de perspectiva. Para elas, os centros espíritas ensinam a encontrar uma nova visão da própria vida. Já os familiares recebem consolo. “Orientamos a família para que o desequilíbrio não se instale e assim possa ajudar aquele que já voltou”, explicou.
PARTICIPANTES – Fazem parte do Setembro Amarelo o Ministério Público do Estado (MPRR), Assembleia Legislativa do Estado (ALE), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Secretaria Estadual de Educação (Seed), Defensoria Pública de Roraima, Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Roraima (OAB-RR), Conselho Regional de Psicologia, Secretaria Municipal de Saúde, Ordem dos Ministros Evangélicos no Brasil e Exterior, Ordem Estadual de Ministros Evangélicos, Federação Espírita de Roraima, Nação Caimbé e Diocese de Roraima.