O curso de Psicologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR) está oferecendo terapia gratuita para casais. Os atendimentos são realizados pelos alunos-estagiários do 9º semestre, com a supervisão dos professores. A ideia é trabalhar as problemáticas da vida a dois, além de contribuir para a formação dos acadêmicos.
A psicoterapia para casais foi uma iniciativa da professora doutora Maria do Socorro Lacerda Gomes. “Eu saí em 2013 para fazer meu doutorado em São Paulo, estudei a psicanálise vincular que abrange questões da família, do social e também do casal. Me identifiquei com a área e tive a ideia de implantar a terapia para casais aqui em Roraima, na Universidade Federal”, informou.
A ideia começou a ser estudada no segundo semestre do ano passado, mas somente em março deste ano o serviço entrou em funcionamento. Para a professora doutora, havia uma defasagem teórica que devia ser solucionada, por isso a demora na implantação da atividade. “A gente optou para iniciar esse ano, para que houvesse tempo para os alunos se sentirem mais seguros, ter uma supervisão maior com relação à psicanálise do casal”, relatou Maria do Socorro.
De acordo com a professora, uma das dificuldades em trabalhar com casais é que a partir do momento que surgem as problemáticas durante o atendimento eles deixam de participar. “Essa psicoterapia visa fazer com que o casal se reencontre. Muitas vezes as pessoas já estão há tanto tempo juntas que a rotina acaba se modificando, principalmente depois dos filhos, e eles deixam de ser um casal para ser pai e mãe, e a dificuldade de lidar com o problema apresentado acaba fazendo com que eles desistam da terapia”, disse.
O processo ocorre da seguinte maneira: os alunos-estagiários fazem o atendimento, ouvem a situação de cada casal, os motivos que os levaram até a terapia e, no dia seguinte, levam o caso até o supervisor do curso, em que é feita uma intervenção para que o aluno saiba o que deve ser feito na próxima consulta. “É bom que fique claro que os casais não vão encontrar uma resposta aqui. Não é a terapia que vai dizer o que eles devem fazer. É o casal que vai se descobrir no processo ao discutir as questões”, informou.
A doutora comentou sobre o receio que muitas pessoas ainda têm diante da psicanálise. “É importante que as pessoas saibam que tudo o que acontece no setting terapêutico é extremamente sigiloso. Não percebemos sozinhos as nossas problemáticas. Outra pessoa vê muito melhor o que se passa com a gente e, ao falar para o terapeuta, você fala para si mesmo e, ao se escutar, você começa a reelaborar suas questões e consequentemente passa a melhorar”, disse Socorro.
ATENDIMENTO – Até agora 12 casais já procuraram o serviço, e a intenção dos alunos e dos professores responsáveis pela atividade é de que mais pessoas procurem a terapia, que é importante tanto para a Universidade como para a população local. Casais homossexuais também podem participar sem nenhuma restrição, assim como adolescentes, desde que acompanhados pelos pais.
O atendimento é feito de segunda a sexta das 8h às 12h e das 14h às 20h, oportunizando a terapia aos casais que trabalham o dia todo, no Serviço de Atendimento Psicológico (SAP), localizado na Rua Paris, ao lado do posto de saúde da UFRR, no campus Paricarana. Para participar, os casais devem marcar horários por meio do telefone 3623-2398 ou 99170-0621 ou também pelo e-mail coordenacaoestagiopsi@gmail, deixando o nome do casal e a idade de cada um. (K.M)
Saudade em excesso pode causar problemas psicológicos
Dizem por aí que é a palavra mais romântica da língua portuguesa e alguns até defendem a ideia que ela é única e intraduzível. Saudade. Formada por apenas sete letras, ela compõe o sentimento de nostalgia e de melancolia que a falta proporciona em alguém. Seja saudade de uma pessoa ou lugar, o significado é complexo, pois se refere à sensação de um tempo bom e que não volta atrás.
Sua origem ainda é motivo de debate. Por um lado, afirmam que ela veio do latim. Outros dizem que a língua árabe contribuiu para a construção da palavra. De qualquer forma, a saudade é definida e utilizada quando é necessário expressar algo além da falta.
Essa origem é importante no momento de definir a conotação em que é utilizada. Para alguns especialistas, o sentimento de saudade é geralmente utilizado para representar algo naturalmente bom, que cause emoções boas para o indivíduo. Portanto, é difícil remeter a palavra a algo que seja prejudicial ou que cause angústia.
É o que defende o psicólogo Alberto Cruz ao dizer que a saudade, no Brasil, está vinculada ao apego, afeto e amor e, por isso, não tem como traduzir algo ruim causado pela ausência. Para ele, existe uma diferença entre a saudade e a falta. A distinção entre os dois é a forma como as pessoas serão afetadas por esse sentimento.
“Se a palavra ‘saudade’ tem a conotação original de algo bom, então ela vai ter o significado bom para a pessoa. Ao contrário do sentimento de falta, que pode se manifestar de duas formas: a primeira, quando a situação é considerada natural, que é quando você gosta de uma pessoa e ela não está, então você sente falta dela. Isso não é nocivo. A segunda é quando você fala de algo que vai causar algum tipo de sintoma fisiológico em função disso, então é identificado como o começo de uma mania”, explicou.
É preciso ficar atento quando o sentimento da falta começa a exceder e atrapalhar diretamente a vida da pessoa e que ela considera normal durante a rotina. A partir desse descontrole emocional, é possível identificar os primeiros sintomas de um sofrimento psicológico e que possivelmente pode ocasionar em uma doença mental.
SINTOMAS – Cruz afirma ainda que uma autoavaliação é sempre importante para começar a perceber quando a saudade evolui para uma falta além do normal e se torna um sofrimento causado diante da situação. “A saudade nunca é um sofrimento, ela remete ao sentimento nostálgico, algo positivo. Dificilmente a palavra é utilizada em um contexto de sofrimento psicológico. Quando a pessoa passa a ter sintomas como tremores excessivos, vômitos, entre outros, é o momento de procurar um especialista”, explicou.
Nesses casos, há dois profissionais que podem ajudar e indicar o melhor tratamento. Se o indivíduo ainda apresenta somente algo psíquico, o indicado é o psicólogo. Já quando começa a desenvolver problemas físicos, procurar um psiquiatra é a melhor opção. “O importante é ressaltar que a situação não pode se transformar em algo obsessivo, é bom analisar o contexto e ter uma autoavaliação, se isso tá se prolongando, tem que procurar um profissional”, finalizou. (A.P.L)