Uma preocupante realidade se desenha nem sempre silenciosamente em Roraima com relação à violência urbana. Esta semana, um vídeo amplamente repercutido em perfis policialescos nas redes sociais mostra um rapaz de nacionalidade venezuelana sendo espancado em via pública no bairro São Bento, na zona Oeste da Capital, supostamente acusado de cometer furtos naquela região.
A cena significa um ato ilegal de justiça com as próprias mãos, quando a população não confia mais na polícia nem no sistema judicial, achando que a vingança ou reparação por conta própria, ignorando as leis e instituições, é o caminho mais rápido para conter os atos infracionais ou crimes, especialmente furtos em residências e assaltos em via pública, que tem se generalizado nos bairros mais populosos.
Em outra realidade, nesta madrugada um homem possivelmente de nacionalidade venezuelana foi executado com três tiros e facadas, nas imediações da Rodoviária Internacional de Boa Vista, no bairro 13 de Setembro, onde ficam migrantes em situação de rua, região esta onde tem ocorrido seguidas tentativas de homicídio de estrangeiros em via pública.
Mais adiante, no Centro Histórico de Boa Vista, mais precisamente na Rua Floriano Peixoto, entre a Orla Taumanan e a Avenida Jaime Brasil, mais um quiosque naquela área central e turística teve toda sua fiação de energia elétrica furtada, causando transtornos e prejuízos a quem encontra dificuldades para trabalhar, além do temor de que algo pior ocorra.
Esse furto ocorreu um dia depois do lançamento do Programa Polícia no Comércio, lançada na terça-feira, 15, pela Polícia Militar, que promete uma ação constante nos dez centros comerciais de Boa Vista com policiamento ostensivo para a prevenção de crimes e segurança de comerciantes, trabalhadores e da população em geral.
Os fatos, aqui pincelados, mostram um quadro que precisa de muita atenção, em que os cidadãos enveredam por uma realidade de fazer justiça com as próprias mãos, nos bairros periféricos da Capital, enquanto os bandidos que conflagraram a cidade também estão fazendo suas próprias leis ao executarem vítimas em via pública, possivelmente em acertos de contas do tráfico de droga comandado por uma facção venezuelana.
São duas realidades que mostram uma erosão da ordem legal, quando indivíduos ou grupos assumem o papel de julgar e punir, minando a confiança nas instituições e poderes constituídos, ignorando o Estado de Direito essencial em uma democracia. Isso sem contar com seguidos casos de policiais militares acusados de vários crimes, com ou sem farda, inclusive um major da reserva preso hoje, pela Polícia Federal, suspeito de vender armas para garimpeiros.
No caso da justiça com as próprias mãos, é a implantação da lei do mais forte, em que ninguém mais espera pela polícia muito menos pela justiça formal. No caso das facções, é a instituição de um poder paralelo que impõe suas próprias leis, com extrema violência, também desafiando os poderes constituídos. Nesses casos, as vítimas são grupos marginalizados sendo alvos, no caso venezuelanos.
Outros crimes têm ocorrido na Capital e interior, inclusive esta semana, na noite de quarta-feira, 16, no mesmo bairro onde um venezuelano foi espancado em via pública, outro venezuelano foi morto a tiros. Um dia antes, outro homem, também de nacionalidade venezuelana, foi baleado com dois tiros no bairro Nova Cidade, no horário da tarde, ou seja, à luz do dia.
É verdade que o novo comando da Polícia Militar de Roraima tem mostrado alguma reação, não só com a operação nos dez centros comerciais da Capital, mas também por meio da Operação Protetor das Fronteiras e Divisas, realizada durante 10 dias no Sul do Estado, com apreensão de armas, drogas e munições, além de prisão de membros de facções criminosas.
No entanto, há algo muito maior a ser feito, com política efetiva de governo, e não apenas por meio de operações policiais pontuais e que logo são desmobilizadas, uma vez que as ocorrências policiais mostram que Roraima não está conseguindo evitar a crescente criminalidade, especialmente diante da migração em massa de venezuelanos, mesmo diante da atuação da Operação Acolhida.
A pergunta que nunca é respondida: mas quem está preocupado com isso?
*Colunista