FALANDO DE NEGÓCIOS

TRANSPARÊNCIA: A melhor de todas as cores

A verdade, quando bem-intencionada, não fere — ela ilumina

TRANSPARÊNCIA: A melhor de todas as cores

Vivemos numa era marcada por sobreposições de discursos, aparências cuidadosamente montadas e relações mediadas por filtros — não apenas os digitais, mas os emocionais e sociais que nos fazem esconder, omitir, fingir, exceder na exposição por modismos que muitas vezes desvalorizam ao invés de valorizar, trocar o conteúdo pela embalagem que envelhece e muitas vezes se resume apenas a uma bela embalagem e um pobre conteúdo. Em meio a esse cenário, a transparência se destaca não como uma fragilidade, mas como um ato de coragem. Ser transparente é, antes de tudo, escolher o caminho da verdade, mesmo quando ele não for o mais fácil. É optar por construir vínculos autênticos, dialogar com clareza e, principalmente, buscar o melhor das pessoas, não o que elas escondem, mas aquilo que elas têm de mais verdadeiro e valioso.

Transparência não significa expor tudo, mas sim conduzir a vida com integridade, permitindo que as relações — pessoais ou profissionais — se construam sobre bases firmes. Quem busca o melhor das pessoas entende que há beleza na honestidade e força na vulnerabilidade. E que o incômodo do outro, muitas vezes, não é crítica ou censura, mas um cuidado disfarçado. Uma tentativa de proteger da exposição desnecessária, de lembrar que nem todos enxergam com bons olhos aquilo que se oferece com o coração aberto.

A maldade, embora ruidosa, não é regra. Ainda que o mundo insista em nos fazer desconfiar, é preciso cultivar a crença de que muitos agem movidos pelo zelo, pela ética e pelo respeito. Quando enxergamos com essa lente, percebemos que a transparência, longe de fragilizar, nos liberta. Ela não é uma ameaça — é a cor que revela as demais.

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A filósofa Hannah Arendt já dizia que “a verdade tem um poder político próprio, e é, em si mesma, revolucionária”. Em um mundo onde as relações se tornam cada vez mais utilitárias e superficiais, ser transparente é, de fato, revolucionar. É romper com a cultura do “dizer o que agrada” e buscar, pelo diálogo verdadeiro, aquilo que constrói, edifica, evolui. A transparência não deve ser confundida com exposição desnecessária ou sinceridade brutal — essas, muitas vezes, são formas disfarçadas de violência verbal ou vaidade. Transparência é falar com honestidade, mas também com responsabilidade e empatia. É dizer a verdade, sim, mas sem abrir mão do cuidado com o outro.

Quando uma empresa decide ser transparente com seus clientes, por exemplo, ela não apenas aumenta a confiança de seu público, mas também estabelece uma cultura organizacional mais saudável e ética. A marca de cosméticos The Body Shop é um exemplo clássico disso: além de adotar práticas de produção sustentável, sempre deixou claro ao consumidor como seus produtos eram testados, quais ingredientes utilizavam e quais eram suas limitações. Essa transparência criou não apenas lealdade dos clientes, mas um diferencial competitivo baseado na confiança.

No âmbito pessoal, o valor da transparência é ainda mais profundo. Manter relações autênticas implica abrir espaço para a vulnerabilidade, e isso assusta. Afinal, vivemos em uma cultura que ensina a esconder as fraquezas, disfarçar emoções e mascarar falhas. Mas, como afirmou Brené Brown, pesquisadora da Universidade de Houston, “a vulnerabilidade é o berço da inovação, da criatividade e da mudança”. Ser transparente sobre nossas dúvidas, medos e sentimentos é permitir que o outro nos conheça de verdade — e só assim se constrói confiança mútua.

Contudo, é preciso também compreender que a transparência não significa exposição desenfreada. Há uma linha tênue entre ser claro e ser invasivo, entre partilhar e escancarar. Muitas vezes, as pessoas que se sentem desconfortáveis diante da transparência alheia não estão tentando podar a liberdade do outro, mas proteger sua própria integridade diante de uma exposição que, para elas, parece desnecessária ou arriscada.

Nesse ponto, vale a pena refletir: nem todo incômodo diante da sinceridade é censura. Às vezes, ele é apenas o alerta sutil de que talvez estejamos ultrapassando um limite não acordado, um território que, embora pareça seguro para nós, pode ser hostil para o outro. A prudência, nesse sentido, é uma virtude complementar à transparência. Um equilíbrio que permite que o diálogo verdadeiro aconteça sem violar o espaço íntimo alheio.

No ambiente profissional, por exemplo, é comum confundir “transparência” com o hábito de dizer tudo que se pensa, sem filtro. Líderes que se orgulham de sua “sinceridade” muitas vezes acabam ferindo colaboradores e minando relações. Já líderes transparentes sabem que a verdade deve ser dita, mas no tempo certo, com as palavras certas e, sobretudo, com o propósito certo: o de construir, orientar e desenvolver.

Um bom exemplo disso é o ex-CEO da LinkedIn, Jeff Weiner, que ficou conhecido por adotar um modelo de “compaixão radical” em sua liderança. Ele incentivava seus gerentes a darem feedbacks transparentes aos funcionários, mas sempre baseados na empatia e no compromisso com o crescimento da pessoa. “Ser compassivo não é evitar dizer a verdade difícil, mas encontrar a forma de dizê-la de modo a produzir aprendizado, e não humilhação”, afirmou em uma de suas conferências.

No campo das relações sociais e familiares, a transparência também assume papel fundamental. Relações baseadas em meias-verdades, segredos ou omissões tendem a se desgastar. A confiança se perde não pelo que foi dito, mas pelo que foi escondido. E quando a verdade vem à tona — como quase sempre acontece — ela fere muito mais pelo tempo que foi negada do que pelo conteúdo em si. Ser transparente é, nesse caso, uma demonstração de respeito: o respeito de confiar no outro o suficiente para dividir com ele aquilo que é real.

A cor da transparência — simbólica ou metaforicamente — é a cor da luz clara que atravessa obstáculos. Ela não se esconde, não se mistura para disfarçar. Ela ilumina. Ao sermos transparentes, abrimos espaço para a verdade circular, para o diálogo crescer, para a confiança se enraizar. A transparência não é apenas uma prática, é um estado de coerência entre o que se pensa, se sente e se diz.

Finalizo com uma reflexão inspirada na escritora Clarice Lispector, que nos lembra: “O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós”. Talvez seja mesmo impossível ser totalmente transparente o tempo todo. Mas é nesse exercício constante de buscar a verdade, mesmo diante do medo, do julgamento ou da incompreensão, que nos tornamos mais humanos. E, no fim, mais livres.

Que sejamos sempre transparentes: com os outros, mas principalmente conosco. Porque a verdade, quando bem-intencionada, não fere — ela ilumina.

Por: Weber Negreiros
W.N Treinamento, Consultoria e Planejamento
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