JESSÉ SOUZA

Taxas de todos os crimes contra mulheres em Roraima estão acima da média nacional

Mulheres são as maiores vítimas de crimes em Roraima, conforme Anuário de Segurança Pública (Foto: Divulgação)

Quando se trata de violência, em Roraima, ao ser apresentado um dado positivo, outros crimes despontam. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, lançado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta quinta-feira-feira, 24, confirma os números de outras pesquisas divulgadas sobre a violência em Roraima, com redução de mortes violentas, mas aparecendo como um dos estados que possui taxas elevadas de crimes contra as mulheres (homicídio, estupro, violência psicológica e perseguição), todos acima da média nacional, com alarmantes números que há tempos chamam a atenção das autoridades.

Conforme o Anuário 2025, enquanto o Estado apresenta positivamente a terceira maior redução da taxa de mortes violentas intencionais (-27,1%), que incluem os homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, quando se trata de crimes contra mulheres a realidade é aterradoramente negativa. Tanto em 2023 quanto em 2024, a taxa de homicídio de mulheres e de feminicídio do Estado superaram as médias nacionais. No entanto, os números podem ser muito piores do que os apresentados pelas autoridades locais.

O Anuário fez uma triangulação de dados, o que possibilitou uma leitura mais acurada desse cenário. As mortes femininas por agressão notificados pelo setor da saúde indicam que os homicídios de mulheres em Roraima podem ser mais frequentes do que o registrado pelas polícias. Enquanto o Atlas da Violência 2025, baseado nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, aponta que, em 2023, o sistema de saúde contabilizou 31 homicídios de mulheres em Roraima, por sua vez a Segurança Pública de Roraima registrou apenas 17, o que significa uma diferença de 45,2%!

Conforme o relatório, embora os dados de 2024 provenientes da saúde sobre homicídios femininos ainda não estejam disponíveis, o cenário apresentado em 2023 já seria suficiente para lançar dúvidas sobre a (in)completude dos registros policiais mais recentes. A explicação para essa diferença seriam os crimes cometidos em garimpos ilegais e outras áreas isoladas, como terras indígenas ou outras áreas remotas, impedindo, em muitos casos, o deslocamento até o local da ocorrência para investigação e registro policial.

No caso das tentativas de homicídio de mulheres, a alta foi quase generalizada no país. Em termos proporcionais, Roraima é um dos três estados com maior taxa nacional, 2,9 vezes maiores que a nacional, ficando entre Espírito Santo (taxa 3,3 vezes maior) e Amapá (também com taxa 2,9 vezes). No que diz respeito às tentativas de feminicídio, Roraima também está entre com a terceira maior taxa (9,9 por grupo de 100 mil mulheres).

Sobre os registros de estupro, o Estado de Roraima lidera as estatísticas, reafirmando dados preocupantes de outras pesquisas. Considerando apenas vítimas do sexo feminino, as taxas mais altas por 100 mil habitantes estão em Roraima (240,3) e Acre (196,0), estados estes que também estão entre os líderes do estupro total com vítimas de ambos os sexos.

Com relação a crianças e adolescentes, Roraima também lidera casos de estupros de vulneráveis, encabeçando a lista dos 16 estados que apresentaram taxas de estupro total (soma de estupro e estupro de vulnerável) superiores à média nacional de 41,2 casos por 100 mil habitantes. Roraima lidera as maiores altas (137,0), seguido de Acre (112,5) e Rondônia (99,5). Roraima, inclusive, concentrou as maiores taxas em nove dos 11 crimes sexuais monitorados nesta edição do Anuário.

Em relação à tentativa de estupro, o Estado também é campeão brasileiro, encabeçando a lista dos 14 estados que registraram taxas acima da média nacional, de 2,9 casos por 100 mil habitantes. Roraima apresenta uma taxa de 9,2, seguido de Amapá (8,5) e Maranhão (7,2). Não bastassem os crimes sexuais, as mulheres roraimenses ainda são as maiores vítimas de crime de perseguição, mais conhecido como stalking.

Os números de crimes de stalking apresentaram um aumento expressivo em 2024. Roraima é o segundo na lista dos 12 estados com taxas maiores do que a nacional: Amapá (cuja taxa de 2024 foi 3,7 vezes superior à nacional), Roraima (taxa estadual superior à brasileira em 2 vezes) e Distrito Federal (cuja taxa foi  1,7 vezes maior do que a nacional). Tanto a ameaça quanto o stalking são crimes com alta subnotificação, já que é necessário que a vítima reconheça a atitude enquanto violência e realize a denúncia.

Não só isso. Também houve um aumento de 6,3% na taxa do crime de violência psicológica. Roraima é também campeão brasileiro nesse tipo de crime: a taxa é mais de 34 vezes superior à nacional, indicando um fenômeno preocupante em termos de prevalência. Em números absolutos, somente as ocorrências de Roraima correspondem a 11,1% do total registrado em nível de Brasil.

Amazonas e Amapá também possuem taxas bem acima da nacional no crime de violência psicológica, mas ainda assim, em patamar completamente diferente do apresentado por Roraima (respectivamente, 4,1 e 2,6 vezes superior à nacional).  Os especialistas aconselham medidas preventivas como foco da atuação estatal.

Os números estão aí, chamando as autoridades para que assumam suas culpas e responsabilidades, principalmente quando se diz respeito às mulheres e crianças. Não há como jogar os problemas para debaixo do tapete. Definitivamente, Roraima é um dos estados mais perigosos para  mulheres e crianças.  

*Colunista

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