JESSÉ SOUZA

Reclamações sobre fiscalização em Samaúma e o voo macabro a ser lembrado    

Helicóptero da Venezuela deixou corpos de garimpeiros brasileiros mortos em Campos Novos (Fotos: Divulgação)

A resposta veio rápida e rasteira depois que parlamentares criticaram as ações realizadas para coibir o garimpo ilegal realizadas pela Casa de Governo, em especial a Força Nacional de Segurança, na região de Samaúma, no Município de Mucajaí, a Centro-Sul de Roraima. Conforme a reclamação levada à opinião pública, as ações estariam incomodando moradores e produtores rurais da localidade, alvos de constantes abordagens policiais e de órgãos ambientais.

Em menos de 12 horas depois veio a resposta de forma inesperada: o corpo de um homem enrolado em uma lona foi encontrado às margens da RR-325, na chamada rotatória do T, na Vila Samaúma, na manhã desta quarta-feira, 13. Provavelmente, o corpo de um garimpeiro deixado ali – não foi divulgado se a causa da morte foi crime, doença, acidente ou natural. Mas o fato é que a origem do cadáver foi o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

Traduzindo, a desova do corpo ocorreu na exata região onde parlamentares protestam contra as ações fiscalizatórias e de repressão ao garimpo ilegal, outros crimes ambientais e o tráfico de droga. É de conhecimento público que aquela região de Samaúma e adjacência há tempos se tornou passagem para o garimpo ilegal, por ser vizinha à terra indígena, e que também serve de suporte para o narcotráfico, uma vez que vicinais se tornam pistas de pousos clandestinas usadas pelo narcogarimpo.

Não pode ser esquecido que, em 2022, um helicóptero venezuelano sem identificação atravessou a fronteira com cinco corpos de garimpeiros brasileiros assassinados em um garimpo na Venezuela, os quais foram transportados içados em uma imensa rede. Em uma cena macabra e de afronta à soberania brasileira, a rede com os corpos em decomposição foi lançada em uma área de Campos Novos, uma região vizinha a Samaúma, no Município de Iracema, também conhecida por abrigar pistas clandestinas.

Óbvio que é necessário interceder por abordagens não truculentas a moradores e agricultores, no entanto, as operações contra o narcogarimpo são imprescindíveis naquela região. O corpo desovado ali é a comprovação disso. Imagine se não houvesse essa presença constante das autoridades policiais e ambientais. Certamente a região estaria sob o domínio completo de facções que controlam o garimpo ilegal, além de outros crimes que vêm a reboque da exploração ilegal de minérios.

Com as recentes repercussões durante apreensões de ouro ilegal, ficou bem explícito o envolvimento de gente influente atuando no narcogarimpo, o que significa mais um motivo para aquelas regiões estarem sob constante monitoramento, uma vez que por lá existem fazendas exatamente de… gente influente. Logo, é de se refletir seriamente sobre esse movimento de protestar contra as ações contra o garimpo ilegal.

É necessário lembrar que, na aprovação do projeto que liberou o garimpo nas chamadas “áreas brancas”, ou seja, no entorno de terras indígenas, houve quem acrescentasse a autorização do uso de mercúrio, o que acabou com o projeto aprovado e a lei sancionada, a qual foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Logo, são as mesmas vozes que se opõem ao rigor na fiscalização, a qual é necessária para o enfrentamento ao garimpo ilegal e aos demais crimes associados a esta atividade fora da lei.

A ausência do poder público favorece o crime, permitindo que os bandidos se organizem e façam refém a população dessas regiões fronteiriças ao garimpo, inclusive com surgimento de milicias. Em Boa Vista, onde deveria haver controle da criminalidade por parte das forças policiais, as facções venezuelanas estão desafiando os poderes constituídos, executando suas vítimas em via pública. A morte de um casal de venezuelano, na noite de terça-feira, foi mais uma demonstração de força e audácia dos criminosos.  

Se existe algo a ser reivindicado, seria uma atuação humanizada nas abordagens de trabalhadores e moradores daquela região. Mas jamais sugerir que as forças policiais deixem de agir com o rigor que o caso exige, pois trata-se de uma região dominada pelo narcogarimpo, cujos reflexos são sentidos hoje na criminalidade que se vê não só na Capital, mas em todos os municípios no entorno de garimpos e de áreas dominados pelo narcotráfico.

*Colunista

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