Polifarmácia: grande desafio médico
Antonio Monteiro*
Com o acelerado processo de envelhecimento populacional, as doenças crônicas degenerativas também vêm sofrendo um rápido crescimento e com elas o uso de diversos medicamentos por um mesmo indivíduo para tratar diversos problemas.
Esse novo desafio da medicina foi designado por POLIFARMÁCIA, para a qual não existe uma definição de consenso, mas que de modo geral é considerada como o uso prolongado ou contínuo de cinco ou mais medicamentos por uma mesma pessoa.
Se conhecer todos os efeitos colaterais de todos os medicamentos existentes no mercado já é uma tarefa praticamente impossível por parte de nós, médicos, imagine saber se o uso concomitante de cinco ou mais pode causar problemas de interações prejudiciais ao nosso organismo?
Diversos estudos nacionais e internacionais têm alertado os médicos e a população sobre o risco crescente de que o uso de medicamentos múltiplos possa estar tendo um efeito contrário, principalmente em idosos, de agravar, ao invés de melhorar seus problemas de saúde.
A solução desse problema é complexa e vai desde o conhecimento preciso de todos os medicamentos sendo usados pelo paciente, até programas de computador que possam cruzar os diversos medicamentos em uso e alertar o médico sobre interações perigosas.
Enquanto não temos uma solução mais moderna e eficiente, cabe a nós, cada um dos médicos, alertar nossos pacientes sobre o uso indiscriminado de medicamentos, bem como o uso sem prescrição médica deles, além de orientar de forma muito detalhada e precisa, como usar os medicamentos que estão sendo prescritos.
Melhoramos no controle do uso abusivo e sem prescrição de alguns remédios, mas ainda estamos longe de encontrar uma forma mais ampla de resolver o problema. Um exemplo é o uso de anti-inflamatórios não hormonais (AINEs) que continuam sendo vendidos sem qualquer receita nas farmácias e que, como sabemos, o uso prolongado dessas drogas pode levar à insuficiência renal crônica, apenas citando um dos prejuízos ao paciente.
Para lembrar que na medicina moderna a relação médico-paciente é uma via de duas mãos, em que profissional e cliente devem trocar informações na decisão sobre tratamentos e prevenção de riscos, recomendo que os nossos pacientes nos ajudem nessa difícil tarefa adotando algumas práticas simples, mas que podem fazer muita diferença nesse desafio.
Entre essas práticas, destaco: ler cuidadosamente a bula do paciente, que hoje é fornecida para a maioria dos remédios; levar nas consultas médicas o nome e as doses utilizadas de todos os medicamentos em uso no momento; e levar as bulas dos remédios prescritos por outros colegas.
Para concluir, nunca é demais lembrar que não existe solução química para todos nossos problemas e que a saúde depende muito mais do que estamos fazendo de nossas vidas do que medicamentos.
*Médico preventivista e clínico geral, é formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Contato: [email protected]
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Pessoas precisam de pessoas
Wender de Souza Ciricio*
Olacyr de Morais, brasileiro nato, nascido no interior do Estado de São Paulo, foi na década de 1980, o maior produtor de soja do mundo. Teve a proeza de introduzir em larga escala essa espécie de agricultura no cerrado brasileiro onde, por causa disso e da quantidade produzida, ganhou o título de “rei da soja”. Com a alta produção agrícola, fez fortuna e, além de sair com mulheres elegantes e cobiçadas por vários homens, investiu em vários outros empreendimentos, foi notícia em vários veículos da imprensa brasileira, era procurado por repórteres e apresentadores de programa. Enfim, Olacyr de Morais foi gigante e extraordinário no que fez.
Numa sociedade materialista e consumista, aquele que tem dinheiro, fama e status com muita facilidade será paparicado, ovacionado e admirado. Nessa condição, não faltavam “amigos” para Olacyr de Morais. Mas um detalhe pesou: o Brasil é um país economicamente instável, anos atrás ainda mais. Sendo assim, impérios sofrem arranhões e algumas vezes caem. O “rei da soja” foi vítima disso. Ao tentar construir uma ferrovia, caiu, perdeu quase tudo, passou a ser um mortal como a grande maioria, sofreu e chorou muito. E no seu choro de lamento disse: “As pessoas me abandonaram, pensava que tinha amigos, me enganei”.
Um milionário falido teve a percepção que muitos insistem em não ter, pessoas precisam de pessoas. Sua fortuna lhe fez muita falta, estava acostumado com a fama e com os milhões em contas bancárias. Porém, o fato mais vultoso é que seu lamento maior se deu quando olhou para os lados e não viu pessoas, não viu humanos e, para sua grande decepção, viu que não tinha amigos. As pessoas que antes o cercavam eram amigas de sua fortuna. Não somos ilha, viver no deserto é insuportável, precisamos uns dos outros. Olacyr precisou de outros, porém os outros não eram reais, nunca foram.
Nesse ambiente de coisas, de bens, de valores financeiros, alguém tem ficado para trás e em segundo plano. Você, eu e nós. Nunca se viu uma sociedade tão omissa, tão restrita, tão defensiva, fria e indiferente. Estamos à deriva, doentes, cansados, oprimidos e pior, estamos isolados. As pessoas passam umas pelas outras desconectadas, desinteressadas e desobrigadas com o outro.
O famoso escritor norte-americano John C. Maxwell destaca em seu livro, “Vencendo com as Pessoas”, publicado em 2004 no Brasil, um pouco da biografia de Angelina Jolie. Sua tenaz descrição fala de uma jovem que cresceu entre estrelas de Hollywood que desde cedo entrou no mundo das drogas e que como consequência achava que morreria cedo. Nesse breve resumo, o autor escreve uma situação que muda radicalmente a vida da atriz problemática. Angelina Jolie contracenou no filme “Amor sem Fronteiras”. Esse filme retrata um caso verídico onde uma mulher da alta sociedade chamada Sarah Jordan (interpretada por Angelina Jolie) se envolve com uma ONG e passa a atuar na Etiópia com refugiados. Ao estrelar esse filme, a vida de Angelina Jolie passa por uma mudança extraordinária. As cenas mostravam o mundo dos refugiados. Um mundo cão, triste, pobre e medonho. Isso chocou e mexeu com a atriz. Nesse contexto, a atriz aprendeu a ver pessoas e nunca mais as esqueceu. Até os dias atuais, sua fama de ajuda à causa humanitária é gigante. Parte de sua fortuna vai para refugiados e necessitados. Pessoas precisam de pessoas.
Se pessoas precisam de pessoas, olhe para as que estão próximas de você e as considere independentemente da cor, dos bens que possui, de onde vivem e da beleza física. Veja quem está em sua lista negra e as tire de lá, pois quando você perdoa alguém ficará mais leve, suave e dormirá em paz. Olhe no espelho e reconheça que você não é melhor do que ninguém. Não se canse de fazer o bem, mesmo que isso tenha um custo. Faça sua parte sem esperar nada em troca, faça por prazer, responsab
ilidade e amor. Seja sensível aos dramas vividos por quem está próximo de você e libere um pouco de si a elas. Reserve tempo para as pessoas, seja disponível e prestativo. Sobretudo lembre que um dia você precisará de pessoas. Não somos ilha. Pessoas precisam de pessoas.
*Psicopedagogo, historiador e teólogo
E-mail:[email protected]
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Bastidores da escrita
Oscar D’Ambrosio*
A existência de homens que construíram a sua carreira literária sobre o trabalho de suas mulheres não é totalmente uma novidade. Basta lembrar o caso da francesa Colette, recentemente transformado em filme, literalmente explorada pelo marido sob os mais diversos aspectos.
O romance que inspira o filme “A esposa”, dirigido por Björn Runge, trata dessa questão. A obra cinematográfica é muito valorizada pelas atuações de Glenn Close e Jonathan Pryce, que trazem ao espectador o drama de uma trajetória literária baseada numa fraude, apimentada pelo filho adolescente em crise e um ameaçador biógrafo.
O eixo da ação é a viagem do casal e do filho para Estocolmo, onde o escritor receberá o Prêmio Nobel de Literatura. É no momento da glória que as contradições de uma vida vêm à tona. Ela mal suporta ver as adulações sobre o marido e ouvir os elogios ao seu trabalho irem para os créditos dele.
Ele, por sua vez, imaturo, com múltiplas traições à esposa no currículo, surge como criança deslumbrada perante a honraria sueca. O desgaste da relação é evidenciado a cada cena numa caminhada para um desfecho trágico, em que parece haver uma acomodação do caos, algo que, curiosamente, a vida parece fazer a cada instante.
*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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A águia e os corvos
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“A águia voa sozinha, os corvos voam em bando, o tolo tem necessidade de companhia, e o sábio necessita de solidão.” (Friedrich Rückert)
Nossa igualdade está no respeito às diferenças. Mas nada mal prestar atenção aos motivos da necessidade. Vez por outra necessitamos de correção. Afinal de contas, vivemos num mundo em evolução. Que é o que nos faz necessitados, mesmo quando achamos que somos o dono da cocada preta. Já prestou atenção ao voo de uma águia? Talvez ela voe sozinha por se considerar necessitada, e não por se considerar a mais forte. Pense nisso sempre que estiver se achando o dono da bola preta. Há pessoas que não sabem viver sem o apoio de alguém. São os que fazem parte do grupo dos sinestésicos. E se você fizer parte desse grupo, não se apoquente. É exatamente por isso que você precisa se cuidar, e a tudo, no mais precioso que puder fazer. Mas sem exagero, claro.
Vamos mudar o rumo da prosa. Senão você vai pensar estou querendo dar uma de filósofo. E quem sou eu para querer filosofar com você? As mudanças no nosso estilo de vida sempre nos trazem benefícios. Sempre adorei chamar isso de aprendizado na Universidade do Asfalto. Que é quando aprendemos a viver, com a convivência. É na mistura dos hábitos, costumes e comportamentos, que aprendemos a nos ver, nos comportar e aprimorar nossos hábitos. Mas só conseguiremos isso se soubermos respeitar hábitos, costumes e comportamentos dos outros. Simples pra dedéu.
Procure sempre estar atento às coisas e acontecimentos do seu dia a dia. É nas observações que aprendemos a ver a vida como ela realmente é. Só você tem o poder de viver sua vida. Então, não há por que sair por aí procurando ajuda ou apoio para viver. Toda força de que você necessita para vencer está em você mesmo, ou mesma. O importante é que você saiba se valorizar e assumir o timão da sua vida. E você pode, se achar que pode. O que indica que ninguém, além de você mesmo, tem poder sobre você. Então, vá em frente, sem medos ou receio do fracasso. Caso ele venha, virá como ensinamento e não como derrota. É errando que aprendemos a acertar. Desde que não baixemos a cabeça para os trancos.
Mude sempre. Não permita que as dificuldades da vida façam de você um elefante de circo. E só quando nos conscientizamos disso, somos capazes de quebrar as amarras que nos prendem ao círculo. Dê bom dia a seu dia quando se levantar, pela manhã. Olhe o nascer e o pôr do Sol. É no se pôr que ele diz que seu dia terminou. E o resultado obtido é resultado do seu desempenho. Descanse e prepare-se para o futuro que começará amanhã cedinho. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460