O conteúdo escolar é o mal do século

Álvaro Fernando*

Se você prestar vestibular hoje, não passará. O ministro da Educação também não passará, os secretários de Educação não passarão, os professores do ensino médio e universitários, também não passarão. Nem sequer os professores que elaboram as questões do vestibular passarão, como já dizia Rubem Alves. Aliás, de todos estes, penso que os últimos seriam os mais mal colocados.

Mas, antes de seguirmos adiante, por favor, me responda: os níveis de industrialização da Ásia em meados do século XVIII acompanharam o movimento geral de industrialização do Atlântico Norte ocorrido na segunda metade do século XIX? Ou essa aqui: na duração de uma faísca de 0,5s e intensidade 10 elevado a -11, ao final do processo, as cargas elétricas totais dos objetos são, respectivamente: zero e -5,0 x 10 elevado a -12C? Difícil, não? Pois estas foram duas das perguntas que constavam na prova da Fuvest 2017.

Vestibulares e exames de admissão para faculdades são, em todo o planeta, fonte de ignorância e estresse. Aulas diárias de “nada” são o que oferecem as escolas, especialmente no ensino médio. Passamos dos 8 aos 18 anos estudando um passado sem sentido, o passado da química, da literatura, da física, da matemática, da biologia etc.

O conteúdo ensinado não está conectado aos nossos interesses pessoais e profissionais. Precisamos aprender a lidar com nossas relações pessoais, com nossas carreiras, com o que fazer da vida. Saímos da escola sem saber para que serve o dinheiro e como geri-lo, não temos senso de finitude ou de propósito, não desenvolvemos o autoconhecimento e, em especial, não sabemos lidar com nossas emoções. Não fomos ensinados a nada disso.

Isso gera um mundo onde prevalecem a ganância e o egoísmo. Um mundo que promove líderes desprovidos de bom senso e altruísmo. Mudar o vestibular e estabelecer um conteúdo que nos possibilite, nesses dez anos de estudo, entender quem somos e o modelo de mundo que queremos construir é o remédio para nossos problemas. Assim, preparamos os jovens para irem à universidade.

O vestibular protege o conteúdo escolar, que é o mal do século, promove o estresse e a angústia, além de levar os jovens e professores aos antidepressivos – consumidos por um terço da população nos EUA e capitais europeias. É dramático.

No Brasil, os desavisados apontam o analfabetismo como o grande problema. É sempre a defesa mais óbvia: apontar para o lado; fugir do assunto. Produzir uma nova geração bem preparada e capaz erradicará muitos males, entre eles o analfabetismo, assim como a corrupção, a falta de ética nos negócios e um sistema financeiro que beira a desonestidade.

O conteúdo escolar é tão nocivo que foi capaz de produzir educadores e legisladores incapazes de alterá-lo. A quem interessa? Ninguém.

*Premiadíssimo compositor de trilhas sonoras, vencedor de três leões em Cannes, duas medalhas em New York Festival e três estatuetas no London Festival.

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Previdência: brasileiro vai ter de trabalhar mais para se aposentar

Flamarion Portela *

O tema da reforma da Previdência tem sido recorrente nos últimos anos no cenário político e econômico brasileiro. Entra governo e sai governo, mas ainda não se chegou a um entendimento sobre qual a melhor forma de diminuir o deficit, que até novembro do ano passado, estava em R$ 186 bilhões. 

A Previdência pública no Brasil remonta ao século XIX, quando foi criado o primeiro sistema de aposentadoria dos funcionários dos Correios. Depois, vieram diversos outros setores ligados ao Estado que foram criando seus próprios sistemas. A forma como funciona atualmente foi instituída em 1990, quando surgiu o INSS (Instituto Nacional de Serviço Social).

É quase consenso entre políticos, economistas e até mesmo a própria população, que é necessária uma profunda reforma no sistema previdenciário brasileiro, sobretudo para acabar com privilégios de alguns que recebem grandes benefícios. Mas, não se pode penalizar o trabalhador brasileiro, que já sofre tantas mazelas e precisa ter o mínimo de dignidade ao se aposentar.

Ao longo desses últimos 20 anos, foram feitas diversas mudanças pontuais na Previdência, como forma de amenizar o deficit, mas que não surtiram tanto efeito, haja vista que não houve muitos avanços.

Fernando Henrique Cardoso instituiu o fator previdenciário, reduzindo o valor dos benefícios de quem se aposentava mais cedo. No governo Lula, em 2003, foi aprovada outra medida, que definiu que quem ingressou no serviço público após aquele ano não teria mais direito a se aposentar com o salário integral.

A mais nova mudança no sistema de cálculo das aposentadorias por tempo de contribuição mudou no dia 31 de dezembro de 2018, quando entrou em vigor uma regra implementada por lei em 2015, que exige um ano a mais para homens e mulheres se aposentarem.

Até então, estava em vigor a fórmula 85/95, onde a soma da idade e do tempo de contribuição era de 85 anos para mulheres e 95 para homens. Com a mudança, o trabalhador brasileiro terá de trabalhar um ano a mais para poder receber sua aposentadoria integral. A soma a partir de agora, precisará alcançar 86 e 96 e será aumentada gradualmente a cada ano até 2026, quando a soma final deverá ser de 90 e 100 para mulheres e homens, respectivamente.

Entretanto, continua em vigor a regra em que os trabalhadores podem se aposentar apenas por tempo mínimo de contribuição: 35 anos para os homens e 30 anos para as mulheres, independentemente da idade, mas nesse caso, poderá ser aplicado o fator previdenciário, que reduz o valor da aposentadoria de quem se aposenta cedo.

Sabemos da necessidade de uma reforma na nossa Previdência, mas o governo não pode penalizar apenas o trabalhador brasileiro. É necessário ser feito um “pente-fino” em todos os benefícios e acabar com as mordomias de alguns setores que recebem aposentadorias fora do padrão.

O trabalhador brasileiro não pode pagar sozinho mais essa conta.

*Ex-governador de Roraima

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Casa bagunçada

Vera Sábio*

Quando se faz uma mudança, é difícil identificar quais as prioridades na organização. Pois tudo está fora do lugar, precisa ser arrumado, organizado, determinado o local que irá ficar e demora um tempo para as coisas entrarem em ordem.

Como diz um velho ditado: “não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos” e também é lógico que “dois erros não fazem um acerto”.

Pense comigo. Aqui em Roraima, depois de quatro anos em uma casa, onde não tinha boa administração, verbas foram desviadas e o maior responsável pela casa era surdo, cego e paralítico, não conseguia raciocinar direito e seus principais administradore
s eram de má índole.

É fato que quando o gato dorme, os ratos fazem a festa. Assim os cabeças gastaram com outras propriedades, tinham muita roupa chique, carros chiques, dinheiro no exterior; porém, os súditos, os trabalhadores, os educadores, médicos, guardas, enfim, os indispensáveis para a casa funcionar bem, estes rastejavam, sem salários, doentes, mal-educados, vítimas da bandidagem à solta, carentes do básico, o que fez a desordem se tornar um caos total.

Mas como não há mal que não tenha fim, os anos se passaram e nova esperança surgiu. Entraria um novo governante e a mudança foi feita.

Acontece que em um caminhão de mudança, tudo vai junto; as panelas junto com os objetos pessoais, o fogão, com o sofá e a cama, as roupas com a prataria etc. Nesta bagunça total, entraram os que antes não funcionavam, estavam corrompidos pela corrupção e eram colaboradores presentes na total desordem que a casa havia se tornado.

Ai fica minha indagação: será que quando foram arrumar a bagunça, não conseguiram identificar aqueles que só desviaram e nada de bom fizeram, ou será que “tem como remendar pano novo com trapo velho?”

Pois, quando a nova casa foi montada e começaram a aparecer a cara daqueles que antes eram condenados por ter feito errado, e agora ignorado seu passado estavam felizes no presente.

Qual não foi a surpresa dos espectadores, os que pagaram tão caro pelo show, ao comprovar que o espetáculo só mudou de nome, mas os artistas e o figurinos são os mesmos?

Quanta decepção… Será que não sabem que não adianta colocar leite novo em jarra azeda, pois com certeza, o leite todo azedará?…

No entanto, como a maioria dos brasileiros é honesta e quer acreditar, enxergando o outro pelo próprio espelho, pensamos que ainda é o começo e muita coisa pode ser melhor. Tomara que o governante enxergue a tempo e consiga separar o joio do trigo; afinal, o povo acordou e sabe realmente o que é bom para si e está afim de lutar para que o bem aconteça.

Não merecemos as mesmas figurinhas repetidas que não preenchem a necessidade do povo e só a própria ganância doentia.

Esta casa precisa ser arrumada de verdade, com transparência e dignidade, e lutaremos por isto.

*Escritora, psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cega com grande visão interna.

Adquira meu livro “Enxergando o Sucesso com as Mãos” Cel: (95) 991687731

Blog: enxergandocomosdedos.blogspot.com.br

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Não vai ser fácil

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Somos o único caso de democracia que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram.” (Joaquim Barbosa)

Mudar esse quadro não vai ser fácil. Mas nada é impossível quando acreditamos no possível. Então, vamos acreditar e fazer nossa parte para tirar o Brasil do lamaçal político em que estamos nadando. Vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita. Está na hora de amadurecermos politicamente, para que sejamos realmente cidadãos. Nunca seremos respeitados se não nos respeitarmos. Somos todos responsáveis pelos políticos que temos. Todos eles foram eleitos por nós, mesmo quando não votamos neles. E só respeitaremos isso quando respeitarmos o direito dos que votaram. Os desajustes fazem parte do desajuste na Educação. E alguém já disse que os governos não cuidam da educação porque a educação derruba os governos.

Mas deixemos a discussão de lado e vamos nos concentrar na nossa responsabilidade no equilíbrio da política. Porque enquanto não tivermos uma política equilibrada, não seremos mais do que marionetes sem rumo. E só encontraremos nosso caminho quando nos conhecermos no que realmente somos. E só quando atingirmos esse nível, seremos respeitados como cidadãos. E procuremos nosso rumo respeitando-nos. E não conseguiremos isso sem uma educação de qualidade. Então, vamos nos educar. Simples pra dedéu. É bem verdade que raramente vamos encontrar um povo, atualmente, que nos sirva de exemplo, para que ajamos dentro da cidadania. Mas não devemos ficar esperando que os outros façam, para que façamos como eles. Chega de ficar detrás da porta.

Vamos lutar sem luta, para termos uma educação que nos torne respeitáveis no cenário mundial. Temos tudo para sermos um povo de primeiro mundo. Falta-nos só uma Educação condizente. Chega de arrufos fúteis, que não nos levam a lugar nenhum. Ainda não fomos educados para sabermos que os que elegemos são nossos servidores, independentemente do cargo que ocupem. E não admitimos que continuemos elegendo representantes desqualificados. E todos nós, e cada um de nós, temos o poder de fazer isso. De eleger apenas candidatos dignos para nos representar no poder público. E só quando formos capazes para o voto facultativo, seremos cidadãos de fato e de direito. Mas para merecermos o voto facultativo, é necessário que nos eduquemos. A obrigatoriedade no voto é uma aberração que nos indica o quanto ainda precisamos nos respeitar. Então, vamos fazer isso. Tudo indica que estamos iniciando um momento de renovação política no Brasil. Vamos nos equilibrar e fazer nossa parte na intenção de melhorar. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460

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