Pautando a sociedade: Boa Vista não é tão linda de se ver no inverno
Evandro Pereira
A mídia institucional da capital de Roraima, Boa Vista, que aponta o olhar percebido do mirante Edileusa Lóz, às margens do rio Branco, vendendo a ideia de uma “cidade linda de ser ver”, não se sustenta quando andamos nos bairros mais afastados do Centro Cívico em tempos de chuvas. Esses bairros menos privilegiados agregam o maior número de moradores que há décadas sabem que vão sentir na pele (e nos pés) a lama do inverno que tanto aterroriza esses bairros.
Já está amplamente documentado que os corpos hídricos da cidade fazem parte do sistema de bacias de acumulação, onde registram-se áreas de retenção, que acumulam o excesso das águas pluviais em tempos de chuvas intensas. No entanto, falta ação, planejamento e investimentos de quem poderia apontar a solução desses problemas. O argumento de que 90% das obras drenagem e pavimentação são realizadas na zona Oeste de Boa Vista e “bairros mais afastados” pode convencer quem mora nas áreas centrais e vivem fechados em seus confortos.
Esquecem de dizer que a zona oeste de Boa Vista corresponde a 82,6% dos bairros da capital. Quem mora nos bairros afetados precisa ficar atento as primeiras chuvas de inverno, que deixam evidente a ausência de um plano urbanístico que considere obras estruturantes. Esse cenário consolida-se, lamentavelmente, como parte integrante da paisagem urbana testemunhada pela população mais carente todos os anos.
No interior do estado, para além da recente interdição e precariedade da BR 174, que nos liga ao estado no Amazonas, muitas pontes, estradas, vicinais e acessos a regiões importantes para o setor produtivo do estado de Roraima estão intrafegáveis. Sem acesso às escolas ou a sede de municípios, os munícipes em várias partes do estado podem se considerar fora do espectro das políticas públicas.
Em ano eleitoral, as promessas para a melhoria da infraestrutura e da malha viária pipocam, mas a vida concreta cobra a conta todos os anos dos moradores. Nosso vizinho, estado do Amazonas, registrou essa semana 35 cidades em situação de emergência por conta do nível das águas, um desafio para quem vive por lá, pois a situação é recorrente – assim como é recorrente aqui em Boa Vista.
Não há dúvida que parte do problema em nossa capital é proveniente do processo de invasão em terrenos públicos e privados, notadamente, incentivados em períodos eleitorais. Muitas áreas urbanas problemáticas foram (e são) ocupadas de forma inadequada. Entretanto, não adianta apontar os 46 pontos de alagamento como se fosse um dado central no debate – a classe governante precisa se debruçar na questão socioambiental, considerando o acelerado crescimento urbano, onde muitas famílias em Boa Vista estão sem moradia.
Nota-se que, antes do processo migratório, com a crise Venezuelana agravada em 2017, a cidade de Boa Vista já convivia com esses desafios. Não há nada novo. Apenas o discurso dos grupos políticos que requentam o problema e jogam no peito das famílias a responsabilidade de cuidar da cidade. A conscientização e educação das pessoas sobre os impactos ambientais em áreas de ocupação desordenada, afetadas por precipitações intensas, inundações ou assoreamento precisam ser acompanhadas de um rigoroso projeto político nas três esferas de poder para a mitigação desses problemas.
Sociólogo, ex-coordenador da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores indígenas de Roraima e membro do Comitê Pró-cultura de Roraima.
De susto em susto
É preciso desenvolver políticas que possibilitem novo ciclo de industrialização para país retomar crescimento
A súbita escassez dos principais fertilizantes utilizados na agricultura, em consequência da guerra na Ucrânia, pegou o agronegócio brasileiro de surpresa, com estoques inferiores a 3 meses. Por isso, enfrenta enormes dificuldades para substituir, rapidamente, seus fornecedores tradicionais, ambos envolvidos no conflito.
A falta destes produtos se soma a uma longa história de desabastecimentos, dos quais a opinião pública somente tomou conhecimento em 2020, durante a pandemia de covid-19. Naquele momento, o país precisou correr atrás de quem pudesse nos fornecer, no mercado mundial, desde máscaras cirúrgicas até respiradores, sem falar de equipamentos de proteção pessoal e de medicamentos.
O estrago da pandemia nas cadeias produtivas globais e na logística mundial, entretanto, não se limitou a equipamentos médicos ou produtos farmacêuticos. Também se espraiou para insumos básicos, produtos siderúrgicos e, principalmente, semicondutores, afetando a produção desde eletrodomésticos até automóveis, cujos setores ainda sofrem certa escassez, 3 anos depois.
Quando parecia que as coisas estavam voltando ao normal, a invasão russa à Ucrânia e, especialmente, as sanções econômicas impostas à Rússia pela maioria dos países ocidentais, interromperam o importante fluxo de materiais exportados pelos países da área em conflito. Esses fatores resultaram em novos gargalos de abastecimento abalando a oferta de combustíveis, fertilizantes, alimentos e alguns metais.
O Brasil foi particularmente afetado em suas importações de trigo e fertilizantes, com riscos destes últimos afetarem a produtividade da próxima safra. A reação brasileira, tal como em 2020, foi improvisar. No início da pandemia, por exemplo, o governo montou grupos de trabalho para aumentar a produção de equipamentos médicos, até com um certo sucesso, mas o esforço não teve continuidade.
Na realidade, desde a década passada, falhas ocorridas nas cadeias globais de fornecimento, causadas por fenômenos naturais, como terremotos e tsunamis, levaram a um certo questionamento da globalização. O fato foi agravado com o nascimento de uma crescente animosidade entre os Estados Unidos e a China, no fim do governo Obama, e principalmente, no governo Trump.
Assim, como ficou evidente na pandemia, os riscos decorrentes da excessiva dependência de produtos importados levaram a grande maioria dos países desenvolvidos a rever seus modelos econômicos. O objetivo era buscar, além das clássicas autossuficiências alimentar, energética e militar, também uma autossuficiência produtiva e tecnológica.
A maioria dos países desenvolvidos passou a implementar políticas públicas de apoio e de fortalecimento de sua indústria, coordenando as iniciativas privadas, financiando e subsidiando fortemente P&D e inovação, protegendo suas empresas estratégicas e incentivando o retorno das empresas nacionais que moveram sua produção ao exterior.
O Brasil, na contramão do que está ocorrendo no mundo, nada fez, até agora, para reduzir nossa dependência externa, nem para interromper o processo de desindustrialização. Processo que reduziu a participação da indústria de transformação no PIB de 25%, na década de 80 para 11%, em 2021, destruindo importantes elos de nossas cadeias produtivas, num processo que continua.
A despeito do que está ocorrendo no mundo, porém, nada se percebe no Brasil. Desde 2016, o país insiste na redução das funções do Estado, deixando ao mercado a responsabilidade de resolver não somente nossos problemas econômicos, mas também os sociais, algo que não funcionou em nenhum país, nas últimas 4 décadas.
É fundamental, portanto, que a sociedade brasileira entenda que a retomada do crescimento, a criação de empregos, a redução de desigualdades e a melhoria da qualidade de vida da população só poderá ocorrer com políticas ativas de desenvolvimento que contemplem, simultaneamente, investimentos públicos e privados em infraestrutura e forte apoio a um novo ciclo de industrialização.
Isto significa recuperar a capacidade de planejamento do Estado, perdida ao longo das últimas décadas. O suporte público à educação básica de qualidade e à formação de recursos humanos qualificados é essencial para o desenvolvimento do país, tanto quanto o incentivo à ciência, à pesquisa, à tecnologia e à inovação.
Aprendendo com os erros passados, para não repeti-los, o novo ciclo de industrialização deverá ter como objetivo a competitividade da produção brasileira de bens e serviços, com foco na economia verde e na digitalização para termos uma indústria moderna, sofisticada e diversificada capaz de criar empregos de qualidade e de se inserir no comércio mundial de forma competitiva.
O sucesso destas políticas pressupõe, no mínimo, 3 pontos:
a manutenção de um quadro macroeconômico relativamente estável, favorável ao investimento produtivo;
um ambiente de negócios que favoreça a produção e que assegure a necessária segurança jurídica, e;
uma reforma que simplifique o sistema tributário, baseada em impostos de valor agregado, no consumo com alíquotas uniformes, que desonere a folha, e que taxe a renda de forma progressiva.
*João Carlos Marchesan é administrador de empresas, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ
Nunca duvide de você
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Nenhuma vida é tão difícil que não possa se tornar mais fácil pelo modo como for conduzida”. (Ellen Glasgow)
Nunca divide da sua possibilidade de vencer na vida. A vitória no bom ou no mau, no bem ou no mal, vai depender da sua decisão. E esta depende do seu grau de evolução racional. Você não tem porque ficar perdendo tempo com sofrimentos. Eles são inevitáveis, mas nada é superior a você. Então levante sua cabeça, olhe para o horizonte e siga em frente. Vá sempre em frente e em busca do melhor. E você nunca terá o melhor, se não der o melhor de você. Porque tudo que temos é retorno do que demos.
Não há como evoluir sozinho. Tudo que fazemos na vida deve ser feito para a evolução da humanidade. Não importa o que você faz. O que realmente importa e como você faz. É sempre bom apontar, mesmo em repetições, os ensinamentos dos que souberam fazer. O Swami Vivecananda, por exemplo, nos disse: “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa, e sim pela maneira de ele executá-la”. Então faça sempre o melhor no que você faz, por mais simples que seja a tarefa.
Já lhe falei daquele faxineiro que foi indicado pelo presidente da empresa, para auxiliar do gerente da mecânica da empresa. Talvez ele nunca tenha sabido que foi indicado pelo presidente da empresa. E o presidente o indicou porque observou sempre, a maneira como ele, o faxineiro, trabalhava na faxina. Tenha sempre em mente que onde quer que você esteja ou o que estiver fazendo, você estará sendo sempre observado.
Nunca duvida da sua capacidade de vencer. Toda a força de que você necessita para vencer está dentro de você. Está na sua mente. É só você saber controlá-la, dentro da racionalidade. Mas não confunda racionalidade com religião, ciência ou coisas assim. Ser racional é manter mente limpa, sadia e produtiva. É viver em função do próximo. É estar sempre atento ao progresso da humanidade, porque enquanto você estiver como participante dela, estará no eterno ir e vir. E assim estaremos sempre em comunhão. O que nos torna iguais nas diferenças.
Tudo que você fizer, faça em benefício da humanidade. Como nos disse o Bob Marley: “Não viva para que sua presença seja notada, mas para que sua ausência seja sentida”. A felicidade está dentro de cada um de nós. O importante é que progridamos racionalmente, para que nossa presença seja notada, mas como indicativo da melhoria do futuro. Muitos de nós já viveram momentos de dissabores e souberam superar, muitos fracassaram. Em que grupo devemos nos incluir? A escola é de cada um de nós. E todos temos o poder de escolher o melhor. Pense nisso.
99121-1460