JESSÉ SOUZA

Ocorrências de garimpo ilegal e facções venezuelanas mostram os desafios de Roraima

Criminosos têm se aproveitado da crise migratória para se estabelecer em Roraima (Foto: Divulgação)

As ocorrências policiais dos últimos dias mostraram com clareza o movimento dos principais crimes que advém dos grandes problemas que afetam o Estado: a atuação do garimpo ilegal envolvendo gente importante; e a atuação de facções venezuelanas, que surgiram diante de um cenário de migração em massa e estão em guerra no entorno da Rodoviária Internacional de Boa Vista, onde estão acampados imigrantes que chegam às dezenas diariamente.

Apesar da concentração de esforços das forças federais no enfrentamento ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, a prisão de um filho de autoridades com mais cinco garimpeiros que estavam numa aeronave em voo clandestino interceptado, na sexta-feira passada, mostra o poderio que mantém o garimpo ilegal em Roraima. Detalhe: não é a primeira vez que familiares de autoridades importantes são presos e investigados pela Polícia Federal por envolvimento com garimpo.

Enquanto gente de poder econômico e político desafiam as leis e as forças federais no enfrentamento ao garimpo ilegal, em outra ponta faccionados venezuelanos não tomam conhecimento das autoridades locais e agem à luz do dia, exibindo audácia e violência na disputa por território na divisa de três bairros: 13 de Setembro, Pricumã e São Vicente, região esta onde migrantes venezuelanos acampam a céu aberto por não terem onde ficar.

Se o garimpo ilegal sempre está relacionado a outros crimes, como tráfico de drogas, venda de armas e munições, além da conexão com a corrução na política e na polícia, a ação de faccionados venezuelanos reflete na criminalidade do dia a dia, com aumento do tráfico de droga, que por sua vez está relacionado a furtos e roubos, desagregação familiar, assassinatos e violência doméstica, bem como cooptação de adolescentes e jovens para a criminalidade.

O garimpo ilegal e a ação de facções venezuelanos acabam tendo um ponto comum: a fragilidade da fiscalização na fronteira, onde os criminosos se aproveitam do grande trânsito de migrantes fugindo de seu país, se valendo das facilidades que a legislação migratória permite e da fiscalização ineficiente, o que diz respeito não somente às forças federais, mas ao conjunto das autoridades que deveriam agir em todos os níveis de governo.

A audácia de políticos e seus familiares na insistência de patrocinar o garimpo ilegal, desafiando toda estrutura de governo e das Forças Armadas, revela um poderio que influencia a sociedade e seus poderes constituídos, onde a corrupção se cruza com outros crimes. E não é há nada de novo nisso, pois trata-se de um movimento sistêmico que não teme implicações judiciais nem política, pois o povo acaba sendo apenas “um detalhe” a cada pleito em um Estado com um governador cassado quatro vezes.

No meio disso estão os bandidos venezuelanos, que fazem uma guerrilha urbana a poucos metros da sede da Polícia Federal, onde também estão a Rodoviária, o Hospital da Criança e um movimentado centro comercial nas principais saídas e entradas da Capital. Ali perto os criminosos chegaram inclusive a criar um cemitério clandestino. Eles também desafiam as autoridades de forma não menos audaciosa, uma vez que os bandidos sabem que o Estado nunca teve o controle do crime organizado, que contaminou a política e a polícia, com influência em pontos importantes dos poderes constituídos.   

*Colunista

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