JESSÉ SOUZA

O ultraje de quem precisa se locomover pela principal rodovia roraimense

São 30Km do trecho norte da BR-174 em completa buraqueira e lama sem qualquer manutenção (Foto: D. Assunção)

O jornalismo não perdoa a mesmice. Mas a questão da BR-174 não pode ser tratada com o desdém de uma repetição exaustiva, uma música de uma nota só, um texto enfadonho de quem não consegue mais enxergar além dos próprios muros. Porque enquanto sofremos com os desmandos da principal rodovia roraimense, existem políticos e empresários locais bradando insistentemente em favor da recuperação da BR-319, que liga o Amazonas a Rondônia.

É ultrajante viajar do Município do Amajari até Boa Vista (ou vice-versa), no trecho norte da BR-174, sem que ninguém faça absolutamente nada para ao menos realizar um trabalho paliativo. Mais escandaloso ainda é chegar no Km 60 até o 70 daquela rodovia e ver um grupo de venezuelanos tapando crateras com piçarra. São 30Km de muita buraqueira que só aumenta a cada chuva, impondo aos condutores um castigo que poderia ser evitado com ao menos uma ação paliativa do governo.

A RR-203, que leva à Serra do Tepequém a partir do entroncamento com a BR-174, vergonhosamente está sendo recuperada com barro. É um trabalho tão mal feito que os remendos agora se parecem com “buracos emborcados”, ou seja, com saliências que igualmente podem provocar uma acidente grave da mesma forma que um buraco no meio da pista. É mais que surreal. É inacreditável como o poder público age com a questão das estradas importantes, que servem de vitrine.

No entanto, esses arremedos de tapa-buracos com barro na RR-203 de alguma forma acabam aliviando o sofrimento dos condutores, embora imponham outros riscos aos mais desatentos ou aos imprudentes. Mas isso mostra que uma ação desse mesmo nível poderia estar sendo realizada na BR-174, onde as carretas do agronegócio e dos empresários que lucram com a desgraça na Venezuela transitam sem fiscalização do peso, contribuindo para destruir a malha viária que não recebe a manutenção devida.

Do Km 50 até o Km 80, na ponte sobre o Rio Uraricoera, no trecho norte da BR-174, a situação se tornou crítica, onde o desespero toma de conta de quem se vê obrigado a dirigir em condições deploráveis, o que tem prejudicado principalmente o único ponto turístico consolidado de Roraima, a Serra do Tepequém,, no Amajari. Até parece uma ação orquestrada, uma vez que o governo e as instituições que lidam com o turismo só têm olhos para o Monte Roraima, na Venezuela.

O fato é que, durante o ano eleitoral passado, uma massiva campanha informava que essas mesmas estradas estavam passando por uma transformação dentro de um programa de governo chamado “Aqui tem obra”. Porém, a realidade dos fatos de quem é obrigado a dirigir nessas estradas mostram que tudo não passou de engodo. Só quem põe seu veículo na buraqueira, arriscando a vida entre carretas serpenteando na contramão, sabe o tamanho dessa indignação.

*Colunista

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